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domingo - 23/04/2023 - 07:38h

Outras joias

Por Marcos FerreiraIlustração beija-flor e borboletas

Ainda estamos aqui. Claro que estamos. Mas até quando? Não sei. Ninguém sabe. Por isso a importância de vivermos cada dia, cada hora, cada minuto com o máximo aproveitamento. O que não significa dizer com afobação, desespero nem de repente. Vivamos com alguma urgência, contudo sem pressa, sem desperdício.

Degustemos a vida que possuímos de maneira inteligente. Não permitamos que nossa agenda seja pautada por terceiros. Esse tempo livre nos pertence e a mais ninguém. Não deve ser negociado. Então não o gastemos à toa, à revelia. Tenhamos pulso.

É preciso discernimento, cuidado, para distinguirmos prioridades de frivolidades. Apuremos o paladar, agucemos os olhos e os ouvidos. Tudo pulsa, lateja, transpira e também embeleza este planeta a todo momento. Vejam os colibris beijando as flores, prestemos atenção nas borboletas sobre o jardim. Quantas formigas haverá naquele formigueiro ao pé do muro? Não me aventuro nesse cálculo.

Pode não parecer, no entanto aspectos dessa ordem têm um valor inestimável. Importam mais que um carro-forte cheio de papel-moeda ou rutilantes barras de ouro. Besteira, polução noturna dos que sonham e gozam pensando em dinheiro que não lhes pertence, reféns do vil metal.

A vida se constitui de outras joias além daquelas oriundas das minas do rei Salomão ou provenientes da Arábia Saudita. Grana é importante, mas não tanto quanto saúde e amizades sadias. Como disse o poeta Manoel de Barros, o cu de uma formiga é mais importante que uma usina nuclear.

Essas coisas miúdas, supostamente irrelevantes para os homens de corações empedernidos e almas azinhavradas, saltam aos olhos quando se começa a enxergar a vida com sensibilidade. Falo assim, talvez com ar professoral, porém não me tomem por cabotino, alguém que busca atrair para si certos holofotes. Não é isso. Hoje decidi expor gigantescas miudezas que ignoramos no cotidiano.

Peço, ademais, que não confundam esta página com literatura de autoajuda, muito menos produto de autopromoção. Não é nada pior nem melhor que velhas receitas para elevar o próprio espírito, acaso tal medida funcione. Ora exibo meu pensamento com o mesmo pudor com que os gatos ocultam suas fezes.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    Belo texto, leitura rápida e leve.
    “Degustemos a vida que possuímos de maneira inteligente”.
    Gostei, meu caro Marcos Ferreira.
    Abração!

  2. Bernadete Lino/ Caruaru-PE diz:

    Não entendo de gatos; nunca convivi com eles. Talvez porque meus pais os achasse transmissores de alergias. Daí nunca me aproximei deles. Quanto aos termos prioridades e futilidades, aprendi desde cedo, que os primeiros deveriam sempre pautar nossas ações. Talvez se tivesse nascido em berço de ouro, não soubesse distinguir um do outro. Futilidade acho que não tem o mesmo peso para todos. Quanto às joias, vejo-as todos os dias à minha volta. Sou grata por todas elas: minha família, meus amigos, um teto pra morar, uma aposentadoria digna e ter o suficiente para não perder a sensibilidade. Investir numa viagem e guardar lembranças, para mim, vale mais que juntar dinheiro. Nunca foi o meu foco! Gosto de sentir que a abundância do universo vai me dar o necessário. Daí, não crio muita ansiedade com contas. Gosto de pagar, prioritariamente, e depois usufruir. Sem ostentação. Odeio desperdícios. Mas nunca admirei avarentos. E nunca me faltou o essencial. Na pandemia confirmei o que já sabia: saúde é tudo! Com ela você projeta, luta e diminui os seus medos! E sou feliz por não ter endurecido o coração com todas as adversidades que já passei! Olhar meus netos e ouvi-los chamar “vovó “, tem sido motivo de muita felicidade na minha vida. Hoje tenho mais passado do que futuro, em termos de idade. Hoje valorizo qualidade de vida. Não me afobo em seguir os modelos dos outros. Estou mais leve. Respirando de forma consciente. Valorizando cada coisa que me acontece. Se coisa boa, que maravilha! Se coisa ruim, fica o aprendizado! Tento não repetir erros antigos. Me permito cair, levantar e seguir! De olho no horizonte mas olhando as flores à beira da estrada! Bom domingo a todos!

  3. Bernadete Lino/ Caruaru-PE diz:

    P.S. Desandei a falar do tema e não disse o principal: amei a crônica. Achei-a leve, esperançosa, com olhos de futuro! Que bom que a versão 5.3 do autor está se revelando cada vez mais feliz! Abraço!

  4. Francisco Nolasco diz:

    Texto enxuto, conciso. Oportuno para esses dias de frivolidades tão banais. Também acho necessário viver o agora e procurar fazer o melhor que pudemos.

  5. alcimar jales bezerra diz:

    Bom dia meu nobre amigo; Marcos.
    Já logo pela amanhã, venho junto com meu cafezinho preto, uma crônica a degustar. Um forte abraço meu Brothe!!!
    Mais uma vez uma boa reflexão.

  6. F MEDEIROS FH diz:

    Muito bom, Marcos! Isso mesmo…

  7. Amorim diz:

    Caro Marcos Ferreira, como diz a letra da música do Gonzaquinha: viver e não ter a vergonha de ser feliz!
    Um abraçaço

  8. Rocha Neto diz:

    A vida é pra ser vivida na sua essência, só a Deus pertence o prontuário da mesma, nós os pacientes lutamos para viver a vida. Claro!
    Parabéns pela peça em tela, aonde a vida é a essência. A mesma não permite retoques, estar perfeita!

  9. Raí Lopes diz:

    Aproveitar… Mas, o quê? Você disse, citando Manoel de Barros: as miudezas quando vistas com os olhos da sensibilidade. Sim, e por isso mesmo, devemos mergulhar nas insignificâncias das coisas; elas, com certeza, são mais importantes, pelo menos não pesam, não causam estresses, não se tornam supérfluas com o passar do tempo… Meu amigo, tens sorte, pois consegue ver essas coisas sem nem precisar de motivos.

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