Por Odemirton Filho
Na defesa de uma tese ou de uma ideia é fundamental que o expositor apresente argumentos para basear seu trabalho ou raciocínio em socorro daquilo que entende correto.
Sendo assim, “argumentar é a capacidade de relacionar fatos, teses, estudos, opiniões, problemas e possíveis soluções a fim de embasar determinado pensamento ou ideia”.
Com efeito, apenas emitir uma opinião acerca de um determinado assunto não a torna digna de certeza ou validade, porquanto estamos diante de uma crença do interlocutor. Falta, no mais das vezes, argumentação para dar substrato ao que se estar a defender.
Nesse diapasão, estamos vivenciando, sobremaneira, nas redes sociais, um debate infrutífero, em alguns casos, despido de qualquer cobertura de razoabilidade ou atividade argumentativa.
O que se presencia é um acinte a boa regra de convivência na sociedade. Não se discutem fatos, agride-se as pessoas sem o menor receio. O que importa é contrapor-se ao seu interlocutor, mesmo com fragilidade de argumentos.
É a falácia do espantalho.
Falácia é uma palavra de origem grega utilizada pelos escolásticos para indicar o silogismo de Aristóteles (silogismo é um tipo de argumento lógico que aplica o raciocínio dedutivo para extrair uma conclusão de duas ou mais proposições, que se supõe sejam verdadeiras).
É, desse modo, entendida como qualquer erro de raciocínio, seguido de uma argumentação inconsistente
“A metáfora usada para dar nome a essa falácia é bastante expressiva. Ela faz referência a uma estratégia de ataque ou rebelião que leva grupos de pessoas a criar uma espécie de boneco de palha do líder do grupo a ser atacado e transferir simbolicamente o ataque da pessoa para o boneco que a representa”.
“Em contextos de argumentação, essa é uma estratégia que consiste em substituir a opinião real sustentada por um adversário por uma versão distorcida dessa opinião, ou seja, criar um espantalho da opinião real, e em seguida, refutá-la ao invés da opinião real”.
Ou seja, usa-se o ardil para distorcer aquilo que o outro disse a fim de tirar a credibilidade do explanador. Se esse não coaduna com o que pensa, o debatedor procura encontra um caminho inverso, ao contrário do que foi efetivamente dito.
Na campanha eleitoral que findou, essa falácia foi devidamente usada, seja por alguns candidatos, seja por seus eleitores. Não se apresentava um contraponto ao que foi dito, procurava-se desqualificar o opositor, muitas vezes, atacando sua honra, esquecendo de apresentar argumentos com o mínimo de plausibilidade.
As redes sociais estão aí como prova. Mesmo pós-eleição o que vale é achacar, desmerecer, ofender, sejam em comentários ou em um diálogo.
Acrescente-se que a falácia não é somente na seara política. Toda e qualquer opinião contrária ao que se pensa, em simples conversas, é motivo para discordar e atacar de forma insubsistente.
A dialeticidade que deve servir de base para impugnar um arrazoado, cedeu espaço para opiniões destituídas de qualquer fundamento. Fala-se o que se pensa, sem sopesar as palavras ou o vazio de seus argumentos.
Qualquer palavra dita por aquele que, no meu entender, é “persona non grata” é distorcida para que possa, a falta de boa técnica argumentativa, refutar o pensamento contrário.
São crenças e ideologias amorfas que já não se coadunam com o tempo presente.
O mundo virtual, certamente, trouxe-nos um cabedal de conhecimento. Entretanto, a superficialidade de nossas opiniões nos tornaram meros replicadores e digladiadores na arena, que se entende sem regras, das redes sociais.
Desse modo, é inegável que a divergência é salutar para o enriquecimento do debate, desde que haja argumentação contra os fatos, e não agressão às pessoas.
Odemirton Filho é professor e oficial de Justiça