Por Marcos Ferreira
Ofereço esta página ao meu amigo Nilson Rebouças, pessoa avessa a textos longos. Nunca leu, por exemplo, nada parecido com Em Busca do Tempo Perdido, Guerra e Paz, A Montanha Mágica, Moby Dick, Os Miseráveis e, muito menos, o caótico Ulisses. Em virtude disso, como já foi dito, pretendo não passar de uma página. E, se possível, tornar estas linhas agradáveis aos olhos dos demais leitores. Sim. Os demais leitores precisam ser contemplados com uma escrita que, no mínimo, valha a pena o tempo empregado nesta breve leitura. Embora pareça fácil, digo que não. Pois essa tarefa de escrever com o mínimo possível de arte não é fichinha.
Eu mesmo (admito sem qualquer pudor) nunca li Em Busca do Tempo Perdido, Moby Dick nem Ulisses. Até iniciei a leitura desses calhamaços numa determinada época da minha vida, no entanto joguei a toalha, fui derrotado pela natureza gigantesca e enfadonha, principalmente, do macarrônico Ulisses.
Aqui com os meus botões, já de olho para não me estender muito nesta crônica direcionada e metrificada, fico pensando como esses livros tão musculosos encontraram editores e viabilidade editorial quando de suas primeiras edições. Isso num tempo em que os meios de confecção e comercialização de romances parrudos como os que citei eram extremamente dispendiosos e sem os recursos de marketing de hoje em dia. Quero supor que alguns autores tiveram que vender um rim para custear a impressão de romances-rios dessa quilometragem. Imagino quantos editores se recusaram a investir num desconhecido como Dostoiévski no começo de carreira deste que é, no meu ponto de vista, o maior romancista e pensador russo de todos os tempos.
Bom. Fiquemos por aqui. Antes que meu amigo Nilson se canse desta crônica de quatro parágrafos e abandone a leitura. Até porque, convenhamos, vivemos uma era em que muitos só se interessam por conteúdos (sobretudo por escrito) bem mastigadinhos. As redes sociais, que têm a sua importância, também concorrem para a preguiça mental do leitor habituado ao fast-food da informação.
Marcos Ferreira é escritor