Por Odemirton Filho
“Afinal, somos aquilo que pensamos, amamos, realizamos. E eu acrescentaria: somos aquilo que lembramos”.
A frase foi dita pelo filósofo Noberto Bobbio, no seu livro O Tempo da Memória. Somos, decerto, uma construção de tudo isso; uma construção inacabada, diga-se. Passamos tão rapidamente pela vida que não conseguimos concluir os nossos planos. Pensamos mais do que realizamos, pois ficamos presos as amarras dos nossos medos.
Sair da zona de conforto ficou para poucos, nem todos conseguem abrir as grades que aprisionam os sonhos; o novo sempre causa receio. Vislumbramos o horizonte, mas, muitas vezes, não conseguimos navegar até lá. Parece distante. E, por diversas vezes, o é.
Vez ou outra converso com alguém que vive a lamuriar, sempre colocando a culpa no destino. Todavia, não faz uma autorreflexão. Conquanto, saibamos que nem todos têm as mesmas oportunidades no decorrer da vida. Por que estou nessa situação? Às vezes, você tem a resposta. Continuar a fazer tudo do mesmo jeito não modificará coisa alguma. Pensar e sonhar, sim. Entretanto, é preciso “colocar a mão na massa”.
Até o amor precisa ser alimentado para não morrer de inanição. Os relacionamentos, de qualquer tipo, precisam de um sopro na brasa que ainda arde. Do contrário, o fogo se apaga lentamente. Doutro lado, como sabemos, o homem também nutre sentimentos deletérios, não somente semeia o amor. Cultiva o ódio, a inveja, a ganância, a arrogância. Infelizmente.
Sobre sonho e realidade, deixo consignado as palavras do bruxo do Cosme Velho:
– “a realidade não será sempre tal qual a sonhamos. Mas isto mesmo é uma harmonia na vida, é uma grande perfeição do homem. Se víssemos logo a realidade como ela há de ser, quem daria um passo para ser feliz?
E mais: aqui ou acolá eu encontro um dos muitos leitores deste Blog, e alguns me indagam por qual motivo escrevo sobre fatos pretéritos. Respondo-lhes que, ao escrever sobre tempos idos, procuro revisitar bons momentos. Os ruins? Tento esquecer, pois somos aquilo que lembramos, diz Bobbio.
O que somos? Quem dera saber.
“Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter”.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos