Mesmo com rodeios, eufemismos e uso de gráficos, o representante da Petrobras na audiência pública que discute agora à tarde o recuo de investimentos do setor petrolífero em Mossoró e Rio Grande do Norte, Luiz Ferradans, não conseguiu escamotear a realidade dos fatos. O quadro é aterrador.
A indústria do petróleo vive binômino produção-exploração. A Petrobras encolheu, não aposta mais em exploração. Arrasta-se para cuidar da produção em queda na região, com uso de água e vapor de gás. Há demissões crescentes e fim de contratos com terceirizadas.
O debate acontece na Câmara Municipal de Mossoró, com a presença de várias autoridades, como o deputado e presidente da Câmara Federal, Henrique Alves (PMDB); governadora Rosalba Ciarlini (DEM), prefeita Cláudia Regina (DEM) e senador-ministro Garibaldi Filho (PMDB).
– Foram demitidos, somente hoje em Mossoró, 60 empregados de uma empresa terceirizada – disse José Mauro, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do RN (SINDIPETRO/RN).
Segundo ele, Mossoró chegou a ter mais de 7.800 empregados diretos no setor de petróleo. Hoje, o número não passa de 4.450. E as demissões continuam.
“Falta investimento”
Citou, ainda, que a área de produção em terra do Rio Grande do Norte teve 30 sondas de perfuração em trabalho contínuo. “Hoje são apenas cinco e uma vai ser desativada”, alarmou.
Para Mauro, “falta investimento, falta responsabilidade social” e respeito da Petrobras a Mossoró e ao Rio Grande do Norte. Existe uma queda na produção e a estatal não está se esforçando para busca de novos campos produtivos, mas apenas para manter os existentes, que estão em declínio.
Sebastião Couto, empresário há mais de 30 anos no setor de petróleo, com terceirizadas, afirmou que a Petrobras tem levado dezenas de empresas à bancarrota, com quebra de contrato.
Luiz Ferradans – o primeiro a falar no evento, tinha atestado minutos antes que tem ocorrido uma “ruptura de contratos”, “uma transição”. Só não deu detalhes dessa situação. O porquê.
A relação de negócios mudou e para pior entre terceirizadas e Petrobras – constatou Sebastião Couto, o “Tião”.
– A Petrobras pede para que o terceirizado baixe seu contrato em 30% – contou. “Contrato que existe há quatro anos”, emendou. Ele disse que essa matemática não tinha como ser fechada e resulta no fim de contratos, em desemprego e insolvência das empresas.
Na opinião de “Tião” Couto, essa “pressão é para quebrar”. A tendência é uma quebradeira em série. Até comentou, que hoje é mais fácil fazer lista das empresas que continuam vivas do que aquelas já tiradas de circulação, numa quantidade incomensurável.
O empresário asseverou que tem cerca de 500 empregados e no auge da produção, a sua antiga firma (Prest Perfurações), chegou a perfurar 300 poços num único ano. Com fim de contrato muito próximo, sem perspectiva de mudança, ele enxerga um futuro aterrador: desemprego em massa.
Outros setores são atingindo em cadeia, como o comércio.
Ferradans admitiu o declínio na produção e “ruptura de contratos” nos últimos meses com terceirizadas. Prometeu novos contratos para serviços de construção e montagens, mas a exploração é uma incógnita e quis levantar uma aura de otimismo. Entretanto a sua própria exposição atestou atrofia na aposta da Petrobras na região de Mossoró.
A governadora Rosalba Ciarlini também se pronunciou. “Não se pode pensar apenas no lucro. O lucro maior é promover o bem-estar social”, bradou.