Por Bruno Ernesto
É incrível como as pessoas se adaptam e conseguem ajustar – e se ajustar a – tudo, para se viver honestamente.
Por mais que hoje – com nunca -, tentem nos convencer do contrário, viver honestamente não desabona ninguém.
Aliás, viver honestamente engloba atos, palavras e intenções.
Paulinho da Viola, compôs Pecado capital, uma das músicas mais emblemáticas de como a ganância não tem limites. Todavia, não passa de uma mera ilusão, e a grandeza se desfaz.
Recentemente, passando pela cidade de Carnaúba dos Dantas, na Região do Seridó, tentei conhecer o Monte do Galo, um dos principais pontos do turismo religioso do estado do Rio Grande do Norte, que recebe milhares de romeiros anualmente, em busca das bênçãos de Nossa Senhora das Vitórias.
Pelo adiantado da hora – já beirando as 17h -, não foi possível subir os seus mais de cem metros de altura, e conhecê-lo calmamente. Decidimos seguir viagem e postergar a visita.
Embora não tenhamos subido o monte, pudemos ir ao sopé do monte e tivemos um vislumbre de toda a sua beleza e a devoção dos fiéis, em seus quase cem anos de existência.
Na descida da rua de acesso, o crepúsculo do sol poente dando um contraste etéreo, avistei uma senhora muito bem sentada numa cadeira de balanço igual a que tinha na casa dos meus avós – de ferro e de fita vermelha trançada -, embora estivesse na calçada, vestia uma camisola branca com detalhes vermelhos, e fixada na parede havia uma placa, com dois singelos anúncios: vende-se banho. R$3,00. Tem almoço.
Passei lentamente, porém, a curiosidade foi tamanha, que engatei a marcha ré, voltei, e perguntei como era esse anúncio.
A senhora foi direta:
– R$ 3,00. Pros romeiros. Eles sobem o monte e depois querem tomar banho.
E o almoço?
– Tem também.
Queixou-se de um problema na coluna que não mais lhe permite subir o monte como antes.
Muito simpática, nos desejou uma boa viagem e voltou pra sua cadeira.
Exemplos como esse, de uma certa maneira, mantém a esperança de que nem tudo está perdido. É preciso, antes de tudo, ter resiliência. Em especial resiliência moral.
Como diz o ditado, o inimigo nunca lhe trairá. Ele sempre lhe será fiel.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor