Por Bruno Ernesto
Na última visita que fiz ao amigo Abimael Silva, no dia 20 de dezembro de 2024, matei a saudade daquele templo da cultura, leitura e resistência, encravado ali na outrora tão prestigiada Avenida Rio Branco, no centro velho de Natal.
Conheci Abimael em 2000, quando estagiava no Edifício 21 de Março, na rua Vigário Bartolomeu, no bairro da Cidade Alta, nos fundos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.
Reputo que essa temporada na cidade alta foi determinante para a minha formação cultural.
Ali conheci e fiz amizade com muitos escritores, professores, artistas, intelectuais e outras personalidades que são referência para a cultura de Natal e do nosso estado.
Entre um intervalo e outro, na chegada ou na saída, sempre ia ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Instituto Câmara Cascudo, Igreja do Galo, Pinacoteca, Capitania das Artes, Beco da Lama e, claro, batia o ponto no Sebo Vermelho.
Conheci uma turma interessantíssima numa cigarreira chamada Caixa de Fósforo, que era tocada pelos irmãos Medeiros e Valdir, ambos com bigodes vistosos e milimetricamente cuidados, localizada na rua Princesa Isabel, que era o ponto de encontro.
Andava a Ribeira inteira. Conheço cada canto da Cidade Alta e da Ribeira.
Após tantos anos, praticamente apenas o Sebo Vermelho resiste naquela avenida que vai expirando a cada dia, embora ainda traga viva na memória a visão e os sons de um tempo tão pulsante daqueles anos oitenta da minha querida cidade Natal.
O encontro foi maravilhoso e produtivo. Saí de lá com uma parceria literária para publicar pelo selo Sebo Vermelho, a convite de Abimael, que manifestou sua vontade de vir à Mossoró com brevidade.
Aproveitei a ocasião e tentei convencê-lo a me vender uma belíssima escultura que é de autoria Dimas, um amigo dele de Acari – já falecido – e que está posta bem no meio do salão.
Não o convenci, ainda. Mas, de outra sorte, ele me mostrou preciosos exemplares de livros com assuntos que muito me interessam, especialmente sobre a história do Rio Grande do Norte.
Aliás, graças à sua dedicação e persistência, muitos títulos preciosíssimos foram publicados e outros tantos republicados, difundindo e preservando nossa história local, notadamente da cultura sertaneja, de modo que podemos considerá-lo um patrimônio imaterial por sua inegável importância cultural e histórica.
Conversamos por mais de hora, enquanto Abimael fazia uma retrospectiva de sua missão como sebista e editor.
Embora a cultura do sebo venha perdendo espaço nos últimos anos, tal qual o próprio hábito da leitura, o Sebo Vermelho mantém um público fiel e jamais perdeu a sua essência e, sem dúvida, já tem o seu nome escrito na história.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor