segunda-feira - 07/12/2020 - 06:52h
Eleições 2020

Tião e Jorge fecham ciclo após sonho de uma ‘Mossoró Melhor’

A curta carreira política de dois empresários vitoriosos mostra como é bem árduo o ambiente eleitoral

Nomes vitoriosos, com história de empreendedorismo e de vida que daria um belo filme motivacional, Tião Couto (PL) e Jorge do Rosário (PL) parecem ter fechado no ano de 2020 um ciclo curto e, de insucessos, na atividade político-partidária. Pelo visto, não são do ramo.

A derrota de Rosário como candidato a vice-prefeito da prefeita Rosalba Ciarlini (PP) e a ausência quase absoluta de Tião, dessa campanha, dizem muito da complexidade da política.

Os dois ascenderam em pouco mais de 35 anos ao topo empresarial em Mossoró e RN, atuando em múltiplos negócios, mas em especial nos ramos do petróleo (Tião) e construção civil (Jorge). Em 2015, ao lado dos empresários Michelson Frota e Marcelo Rosado (nome sempre descartado pela elite de poder rosadista), decidiram que era hora de entrar na política diretamente.

Construíram um projeto para mudança de paradigmas na gestão pública e nos costumes políticos em Mossoró, tendo como base a experiência vitoriosa na atividade produtiva e suas vidas em si. Nasceu o movimento “Mossoró Melhor” e a chapa Tião-Jorge (veja AQUI), a prefeito e vice em 2016.

Tião e Jorge, biografias vencedoras, que não se adaptaram ao ambiente movediço da política partidária (Foto: arquivo)

Desacreditados até no meio empresarial, de onde emergiam, chegaram à campanha municipal de 2016 como azarões. Entretanto, assustaram na reta final a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PP), que conseguiu vencê-los apesar de certa apreensão (veja AQUI). Mas, ficou plantada a semente. Ficou o gostinho de quero mais. Sim, era possível avançar e vencer adiante.

Porém, a partir daí, uma sucessão de erros estratégicos, péssimas escolhas e más companhias políticas levaram eles para uma descapitalização continuada dos ativos conquistados em 2016.

O ano de 2020 pode ser mesmo o fim, sobretudo pelo desestímulo que parece ter desabado sobre ambos. Tião, antes de deflagrado o processo eleitoral, avisou que não seria candidato a nada (veja AQUI). Jorge, depois do resultado das urnas, onde sua presença numa chapa favorita e dada como “imbatível”, não se confirmou, já pode pedir música no ‘Fantástico’ (quadro de programa de TV, em que jogador de futebol pede música após marcar três gols numa única partida): são três derrotas em três eleições consecutivas, no espaço de quatro anos.

Campanha de 2018 desenhou 2020

Tião (na ocasião no PSDB) e Jorge saíram das eleições de 2016 com um altíssimo capital eleitoral: 51.990 (39,39%) votos, perdendo apenas para a chapa vitoriosa de Rosalba-Nayara Gadelha (PP). Àquele tempo já se falava que com certeza chegariam às eleições estaduais de 2018 e em seguida, 2020, com fôlego e maior bagagem a vitórias.

Porém, muito do que se contabiliza nesse ano de 2020 em relação a ambos, pode ser entendido pelo o que fizeram num passado recente: em 2018.

Jorge tinha uma candidatura a deputado estadual encaminhada ao êxito. Pesquisas apontavam que seu desempenho em Mossoró acabaria por alavancá-lo à Assembleia Legislativa. Todavia, a partir do momento em que Tião inesperada e isoladamente decidiu ser candidato a vice na chapa do governador Robinson Faria (PSD), decretou a derrota do amigo. E ele próprio, passou vexame ao ser apenas o quarto colocado em votos em Mossoró, na garupa do governador.

O segundo turno acabou tendo Fátima Bezerra (PT)-Antenor Roberto (PCdoB) x Carlos Eduardo Alves-Kadu Ciarlini (PP), com a eleição da petista e seu companheiro de chapa (veja AQUI).

Tião recolheu-se e ficou equidistante da contenda municipal desse ano, enquanto Jorge acreditou que saindo do campo da oposição, onde era um nome valorizado na na soma de qualquer chapa, poderia ser vice-prefeito governista sem dificuldades. Outra vez a dupla errou nas avaliações e posições.

Mudança de opinião, piruetas com as palavras

Em 2018, Tião foi vice de Robinson após descartar sua própria candidatura à Câmara Federal veja AQUI, antecipando que não via nenhum dos candidatos a governador em condições de ter seu apoio. “São os mesmos grupos, as mesmas famílias e pessoas que há muitos anos são os grandes responsáveis pela calamidade que o Rio Grande do Norte vive hoje e agora querem se apresentar como solução para os problemas que eles criaram”, disse Tião Couto, em encontro do PR (Hoje PL), em Natal, dia 7 de julho daquele ano.

No dia 5 de agosto, menos de um mês depois, Tião era anunciado vice de Robinson, candidato à reeleição (veja AQUI).

Esse ano, Jorge é quem fez pirueta com o que tinha dito. Depois de criticar Rosalba num passado recente, topou ser vice dela, numa cooptação que tentou desmentir inicialmente (veja AQUI) e não convenceu ninguém, até se consumar o ato (veja AQUI e AQUI). Outra vez foi vice, posto que não aceitava na oposição, onde de verdade estavam seus votos. Mudou de lado e chegou ao palanque da “Rosa” sem acrescentar nada. Foi punido pelo eleitor.

Jorge e Rosalba: o certo que deu errado (Reprodução BCS)

A vitória do deputado estadual Allyson Bezerra (Solidariedade) a prefeito, derrotando o ‘mito’ Rosalba Ciarlini, consagra uma tendência do eleitor que as pesquisas quantitativas e qualitativas mostravam há muitos e muitos meses. A maioria não queria mais Rosalba e os Rosados. Estavam à espera de quem pudesse galvanizar essa expectativa.

Tião e Jorge poderiam ter sido esses nomes em 2020, prefeito e vice “em férias”, mas implodiram bem antes. Allyson soube compreender e trabalhar essa aspiração, com senso de oportunidade e talento à política.

Ativo frágil

Tratássemos do “voto” pela ótica das Ciências Econômicas, poderíamos afirmar com segurança que é o caso típico de um “ativo” frágil. Seria uma “moeda” flutuante, sujeita às volatilidades de riscos, conforme o momento ou externalidades referentes às eleições e à dinâmica da própria política.

O capital-voto dos dois empresários desmanchou-se em pouquíssimo tempo. Em 2018, já tinha encolhido drasticamente. Agora, já são devedores.

Eles não conseguiram sobreviver à raposice de alguns, à própria inabilidade e ao ambiente movediço da política de Mossoró e do RN (Leia também: O perigo do efeito Orloff no futuro de TiãoTião caminha à disputa estadual desconectado da realidade e Êeee, Tião.

Leia também: Voto se revela um ativo de alto risco na política de Mossoró.

O que o futuro reserva para Tião e Jorge em termos políticos? Mais do que pretensões pessoais e reordenamento de um grupo que nunca passou deles dois, é preciso se aquilatar a importância de ambos e da iniciativa do Mossoró Melhor para a própria política local.

Dois vencedores saíram do quadrado, da zona de conforto, deram a cara a tapas e colocaram em risco biografias vitoriosas atuando numa arena que só conheciam como satélites, de fora ou como colaboradores.

Abriram caminho para que se redesenhasse e se constituísse uma nova configuração de forças na política mossoroense, com reflexos no jogo de poder estadual.

Mas, isso é tema para outras e outras postagens adiante. É material primário para os estudiosos da ciência política, da sociologia, da história de Mossoró, lá na frente. Essa é uma contribuição residual que ofertamos à academia e ao futuro.

Análise das eleições 2020

* Essa postagem é a terceira de uma série que estamos produzindo sobre as eleições 2020. Veja as anteriores:

Leia tambémPolarização continua, apesar de números mostrarem que não;

Leia também: Álvaro é prefeito por ‘voto de segurança’; Natal repete prudência.

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segunda-feira - 07/12/2020 - 04:12h
Mata-mata

ABC e América perdem fora de casa na Série D

ABC e América perderam na Série D do Brasileirão 2020, na fase de mata-mata.

Em Ceará-mirim, o alvinegro foi derrotado pelo Globo por 2 x1. Os gols foram de Beleu e Edson Kapa para o Globo.

Thiaguinho fez para o ABC.

Já o América foi a Coruripe em Alagoas e acabou perdendo para os donos da casa por 1 x 0. O gol solitário foi assinalado por André Rodrigues.

Haverá jogo de volta para ambas equipes.

No próximo sábado (12), ABC e Globo jogarão às 15h30 no Estádio Frasqueirão em Natal. Por ter vencido em seu campo, a vantagem de jogar pelo empate no duelo final é do Globo. O precisa vencer por pelo menos dois gols de diferença. Vitória abecedista por um gol leva a decisão para os pênaltis.

Quanto ao América, seu jogo de volta será no Arena das Dunas em Natal, às 15h do domingo (13). A situação é idêntica à vivida pelo ABC. O time alvirrubro terá de vencer por pelo menos dois gols de diferença. Se houver empate ou vitória do Coruripe por qualquer placar, ele se classificará.

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  • Art&C - PMM - Maio de 2025 -
segunda-feira - 07/12/2020 - 03:12h
Julgamento

STF veta reeleição à presidência do Senado e Câmara

Fux votou contra (Foto: STF)

Do G1

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu neste domingo (6) por maioria, em plenário virtual, que os atuais presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), não podem se candidatar à reeleição para os postos em 2021.

O voto decisivo foi dado pelo presidente do STF, ministro Luiz Fux. Antes, o plenário já havia formado maioria para barrar uma nova candidatura de Rodrigo Maia, eleito presidente por dois mandatos consecutivos. A situação de Alcolumbre seguia pendente.

O julgamento da ação protocolada pelo PTB começou na última sexta e se estende até o fim da próxima semana. Os 11 votos já foram registrados mas, até que o resultado seja proclamado, os ministros ainda podem mudar de posicionamento.

Relator da ação, o ministro Gilmar Mendes havia votado em sentido oposto, opinando que uma eventual reeleição de Maia ou Alcolumbre para o comando das Casas teria respaldo constitucional. Seis ministros, incluindo o presidente Luiz Fux, divergiram desse entendimento.

É, mas pode não ser…

Apesar de afetar diretamente Maia e Alcolumbre, a votação não é específica para as próximas eleições da Câmara e do Senado. O entendimento que será fixado pelo STF vai valer também para situações similares no futuro.

Nem todos os votos contrários à reeleição, no entanto, são uniformes. Por isso, até o fim do julgamento, os ministros devem costurar um “voto médio” que preveja todas essas possibilidades. Será preciso definir, por exemplo, diferenças entre a eleição realizada na troca de legislatura – ou seja, após a posse de novos deputados e senadores –, e a eleição realizada dentro da legislatura.

O placar ficou incerto ao longo do fim de semana porque o ministro Nunes Marques apresentou um voto “intermediário”. O magistrado defendeu que a reeleição de Maia seria impossível, por resultar em um terceiro mandato, mas avaliou que a eventual recondução de Davi Alcolumbre não afrontaria a Constituição.

Saiba mais detalhes clicando AQUI.

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domingo - 06/12/2020 - 23:59h

Pensando bem…

“Não há no mundo nada que em sentido absoluto nos pertença.”

José Saramago

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domingo - 06/12/2020 - 16:00h
Qualificação

Folha de SP mostra Allyson Bezerra em seleto grupo de políticos

Em reportagem especial, o jornal Folha de São Paulo mostra que organizações não governamentais que buscam qualificação de quadros políticos à melhoria da própria política, no Brasil, comemoram os resultados das urnas, nos pleitos deste ano.

Allyson Bezerra é a segunda foto no alto do álbum de vitoriosos listados pelo Folha (Reprodução BCS)

Nessas eleições municipais, de acordo com levantamento feito pela Folha com os movimentos Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), RenovaBR, Agora, Acredito e Livres, 28 candidatos com esse perfil foram eleitos ou reeleitos para prefeituras, em cidades do Sudeste e do Nordeste, mas também no Sul e Centro-Oeste.

Allyson

Um dos nomes em destaque é de Mossoró. O deputado estadual Allyson Bezerra (Solidariedade) está nessa listagem seleta, como um dos quadros que receberam qualificação diferenciada para ingresso na atividade pública. Ele é oriundo do Raps, tendo inclusive já sendo convocado para participar de vários eventos, na condição de palestrante.

Esse ano, ele foi eleito prefeito. Porém, antes, já obtivera sucesso nas urnas como deputado estadual, em 2018.

Em termos partidários, os integrantes transitam entre siglas de diferentes linhas ideológicas. O Podemos tem cinco eleitos. O Progressistas, quatro, PSD e MDB, têm três eleitos cada um. Solidariedade tem três, e PDT, dois.

“Esse foi o melhor resultado da Raps em eleições municipais em oito anos da nossa história”, afirma a diretora-executiva da rede, Mônica Sodré. De 53 do grupo que disputaram o Executivo, 32% foram eleitos.

Veja reportagem completa clicando AQUI.

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domingo - 06/12/2020 - 14:38h
Walter Alves

Deputado federal testa positivo para Covid-19

Walter está bem (Foto: arquivo)

O deputado federal e dirigente estadual do MDB, Walter Alves, é outro político do Rio Grande do Norte que testou positivo para a Covid-19.

Nesse domingo (6), ele comunicou o problema através de suas redes sociais, mas tranquilizando a todos.

Seus sintomas são leves:

“Amigos, informo que testei positivo para COVID-19. Estou bem, em casa, e sem sintomas. Seguirei em isolamento e cumprindo as orientações médicas”, postou o parlamentar.

Nota do Blog – Saúde, deputado.

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domingo - 06/12/2020 - 14:30h

De um amigo que encontrou a fé

Por Honório de Medeiros

Certo amigo meu, até recentemente ateu, me contou acerca de sua conversão.

Disse-me ele que na meia-idade do conhecimento, na qual chegou por caminhos tortuosos, após perambulações de toda a ordem no universo dos livros, deu-se conta que era o momento de fazer um balanço em regra de sua vida passada e fazer um planejamento, mesmo que capenga, para o resto dos seus dias.

Um assunto, em especial, assim pensava ele, clamava por atenção: sua relação com a Fé.

Após esse primeiro ponto firmado, pôs-se a examinar o tema por um viés, digamos assim, oblíquo: entendeu que o importante era pensar acerca do mundo tal qual o estava encontrando, naquele momento. Colocou as mãos à obra.

Em sua procura, olhando para os lados, para trás e em frente, por todos os ângulos, de todas as formas, somente encontrou o horror, a escuridão mais negra, uma história de sangue e dor, excetuando-se um ou outro ponto de luz a sobreviver sabe-se lá como, nem por quê.

Explicou-me fazendo um paralelo: imagine, disse ele, o milagre da sobrevivência da Igreja no auge da Alta Idade Média, após a queda de Roma, quando iniciou o período que os historiadores antigos chamavam de “Idade das Trevas”.

O mundo se transformara, então, em um caos. Mas a Igreja sobreviveu graças aos monges irlandeses, que no silêncio e na solidão de seus monastérios, copistas que eram, crentes integrais, legaram ao futuro a doutrina de Cristo.

É como se hoje em dia vivêssemos um período semelhante. Horror e escuridão, novamente, ou sempre, e o mal lutando com unhas-e-dentes para dominar, para ser hegemônico. Guerras, genocídios, estupros, roubos, torturas, infanticídios… A lista é infindável.

Se há o mal, disse-me ele, à guisa de conclusão, então há o Bem. Se há o Bem, então há Deus.

E, assim, por intermédio dessa estranha conclusão, de forma alguma absurda, ele chegou à Fé.

Deus o tenha.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do RN

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Categoria(s): Artigo
domingo - 06/12/2020 - 13:00h

O triunfo do novo e o desafio de Felipe Menezes

Por Tárcio Araújo

Em Lajes-RN, região central do Estado, após 38 anos de manutenção do mesmo sistema político, o povo decidiu mudar.  A eleição do jovem Felipe Menezes, 28, do PP, no último dia 15 de Novembro, pôs fim à hegemonia que prevaleceu na política do município entre os anos 80, 90 e 2000.  O resultado da campanha eleitoral de 2020 marca a virada no curso da história política local e encerra uma trajetória pensada para dominar por cinco décadas, como revelou o ex-prefeito Edivan Lopes, precursor do sistema em 1982.

Felipe quebrou ciclo de poder (Foto: Web)

Em conversa reservada para um amigo ele disse: “Prevíamos permanecer 50 anos no comando”.

A dobradinha deputado federal Benes Leocádio (Republicanos)/Edivan se perpetuou numa alternância de poder que durou 34 anos consecutivos, com o complemento do mandato do atual prefeito José Marques Fernandes (Republicanos), o Marcão, também nascido nas hostes do Benismo/Edivanismo.

Ao todo, foram quase 40 anos sob o jugo de um único grupo político e dois personagens.

O jovem Felipe Menezes escreve seu nome na história política local ao destronar o sistema dominante e construir um novo espectro de liderança em ‘Lajes do Cabugi’.

Ao meu ver, Felipe não construiu sua vitória somente em 45 dias de campanha. Ledo engano para quem pensar assim. O start dessa jornada se dá por volta de 2015, quando ele rompe com o sistema governista e passa a trilhar o caminho da oposição na Câmara Municipal.

Bom orador e antenado com o curso da história, fez valer o poder das redes sociais como palanque. Usou com maestria as ferramentas que dispunha.  Suas participações na tribuna da Câmara, ou nas ruas denunciando os problemas da comunidade, estavam em transmissões online e falando diretamente com as pessoas.

Neste momento, Felipe Menezes começou a ganhar o jogo, e o sistema dominante nem se dava conta.

De outro lado, o prefeito Marcão tocava sua gestão sem maiores inovações e em cima de dezenas de obras inacabadas, paralisadas ao longo dos anos. Algumas herdadas do ex-prefeito Benes Leocádio, como o estádio municipal e uma UPA.

Marcão administrava uma folha inchada, com uma casta de secretários, em parte obsoletos (inúteis, cabides de emprego da velha política), e um governo sem uma marca registrada para chamar de sua. Também pesa contra sua gestão, a falta de comunicação eficaz que gerasse resultados.

Politicamente falando, Marcão não se comunica bem, apesar de ser uma pessoa de bom trato (deixo claro que minha análise é do ponto de vista político-jornalístico).

O prefeito Marcão ancorou-se na relação de confiança com o deputado federal Benes Leocádio, com o qual convive há mais de 30 anos, sempre à sua sombra, tendo sua vida pública subordinada às instruções de poder do seu líder. Tornou-se um candidato inviável, pesado feito chumbo, sem empatia com o eleitor.

Jamais deveria ter ido para a disputa diante de um oponente com tantas possibilidades como Felipe Menezes; um animal político bastante perspicaz, apesar de jovem.

Por outro lado, Benes Leocádio, mesmo com farta experiência, predador silencioso, dessa vez dormiu à sombra da zona de conforto sob os efeitos do sonífero da autoconfiança, além da situação incomum de ter mandato federal. Cada vez mais ausente da cidade, cuidando de questões parlamentares e longe do cidadão que vota, ele sucumbiu à realidade só na reta final de campanha. O choque final veio nas urnas.

Benes não sabia, mas o sentimento dos lajenses era de insatisfação. Sentimento velado, diga-se de passagem.

Esse lapso abriu um vácuo para o surgimento de uma nova liderança. Veio a campanha e o “menino” botou o bloco na rua com um discurso forte que ganhou o coração do eleitor. E assim como ocorreu em Mossoró com Alysson Bezerra (Solidariedade) e em Pau dos Ferros com Marianna Almeida (PSD), as velhas gestões cansaram o povo, e o povo cansou de velhas gestões. Ele (o povo) optou por mudança e pela renovação também em Lajes.

O deputado Benes perdeu a prefeitura que “era sua”, justamente no auge da carreira política. Podia perder todas onde apoiava, mas a de Lajes não! Mas perdeu! Agora é correr atrás do prejuízo.

O fato objetivo é que pela primeira vez desde 1988 surge um oponente com características para fazer frente a Benes Leocádio daqui por diante, na arena política da ‘República das Lajes’.

O jovem prefeito eleito tem a preferência do eleitorado mais jovens com menos de 30 anos.  E se apresenta como oponente viável, com potencial para arrebatar o protagonismo político do município, outrora conferido apenas ao atual deputado federal.

Benes Leocádio sabe que não é mais ator isolado nessa cena. Vai ter que dividir o palco, assim quis o povo.  Como diria Belchior: “o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo; precisamos todos rejuvenescer”.

Passada a euforia da vitória, os desafios agora recaem sobre as costas do novo prefeito. Seu desafio é converter a expectativa do povo em resultados práticos.  A grande prova estar por vir, e tenho convicção de que o futuro novo gestor tem essa noção. Quem não tiver, passe a ter!

A esperança da campanha se converte numa equação elevada ao cubo no que tange às projeções para o mandato.  A responsabilidade é grande, o jogo é bruto e Felipe não pode errar. Ele sabe disso!

Benes, no auge da carreira política, guarda cadeira, ao lado de Marcão, para um inesperado adversário (Foto: Web)

O município de Lajes certamente passará nos próximos anos pelo seu melhor momento econômico com o investimento das eólicas. Quis Deus que fosse na gestão do ‘menino’.  Um bom prenúncio porque vai administrar com o caixa cheio. Provavelmente se tocar uma gestão moderna, transparente, com serviços à população e obras estruturantes, terá capital eleitoral ampliado em 2024.

No entanto, temos que ressaltar: engana-se quem na ressaca da vitória, pense que o deputado Benes fechou seu ciclo em Lajes. De modo algum. Digamos que ele perdeu a invencibilidade. Caiu por terra o mito do Benes imbatível.

Todavia, vitórias e derrotas fazem parte da disputa eleitoral. O xadrez político é um jogo que segue sendo jogado.

Com essas variáveis caberá ao destino apontar os caminhos da próxima disputa municipal em Lajes, e aqui eu faço uma conjectura: daqui a dois anos, Benes Leocádio terá uma luta para renovar o mandato de Deputado Federal. Se não lograr êxito, fincará pé no município novamente para tentar retomar o palácio Alzira Soriano.

Prevejo um embate interessante: a oportunidade de Benes Leocádio testar sua liderança de cinco vezes gestor, contra Felipe Menezes, um jovem prefeito com potencial de crescimento.

Até lá.

Tárcio Araújo é jornalista

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domingo - 06/12/2020 - 08:48h
Conversando com... Miguel Nicolelis

Aprendizado precisa do contato humano, diz cientista

Por Giuiliana Germano (UOL, Ecoa)

Há oito meses, o neurocientista Miguel Nicolelis está fora de casa. Professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, ele estava no Brasil de passagem quando a pandemia do novo coronavírus fechou os aeroportos. Desde então, está sozinho no apartamento que mantém em São Paulo. A quarentena, no entanto, não interrompeu seu ritmo acelerado de trabalho. Nem impediu que continuasse a falar para plateias numerosas. Semanas atrás, ministrou uma conferência online para 40 mil jovens chineses. De sua sala de estar, também coordena a comissão científica do Consórcio Nordeste para Combate ao Coronavírus, equipe de pesquisadores que orienta os estados da região na tomada de decisões frente à Covid-19.

Foi lá que ele “recebeu” Ecoa para uma entrevista via Zoom, programa escolhido pela assessoria do pesquisador (ele se nega a usar ferramentas Google). A conversa durou, ao todo, uma hora e trinta e dois minutos, mas precisou ser interrompida algumas vezes. Isso porque o aplicativo de videoconferências limita transmissões gratuitas em 40 minutos. E também porque Nicolelis precisava falar com a família, que permanece na Carolina do Norte.

"O cérebro não evoluiu para explicar para nós o que é a realidade", diz Nicolelis nessa entrevista

Era o auge da apuração dos votos das eleições para a presidência americana. E o neurocientista estava aflito com o clima tenso causado pela polarização acirrada entre democratas e republicanos, o que, segundo ele, é resultado do controle de dados pelas gigantes da tecnologia: Facebook, Google, Amazon…

“Isso está levando à destruição da democracia, da liberdade individual, dos direitos humanos”, disse, citando a americana Shoshana Zuboff, professora emérita da Harvard Business School. “Está corroendo por dentro todo o arcabouço humanista que foi criado e todos os mecanismos de ação política, de defesa dos direitos humanos, de possibilidade de escolher quem queremos que nos governe”.

Na ocasião, o pesquisador falou também sobre o livro que acaba de lançar, “O verdadeiro criador de tudo” (Editora Planeta), em que trata sobre aquilo que diz serem criações do cérebro humano (dinheiro, religião, ideologia, entre outras). Falou ainda sobre os reflexos da pandemia na educação, na saúde mental, em nossa percepção sobre o tempo e fez previsões para o futuro da ciência no Brasil.

A pandemia obrigou alunos e professores a migrarem as aulas presenciais para o ambiente virtual. De que forma isso pode alterar, ou já alterou, nossas habilidades de aprendizagem? As condições “analógicas”, como o olho no olho ou as pequenas manifestações espontâneas, também contribuem para a maneira como aprendemos?

O impacto é muito grande. Nossa forma de aprender, desde os tempos imemoriais, quando descemos das árvores, é por meio do contato social, do contato humano. Dois anos atrás, fui convidado para falar na Universidade de Helsinki, e os finlandeses me disseram que estavam revertendo o uso de computadores em sala de aula, porque eles tinham descoberto que os efeitos eram mais deletérios do que positivos. Essa história de toda criança ter um computador foi quase um fetiche, um grande projeto americano que tinha muita enganação por trás também. Eu participei de um debate acalorado em Davos em 2007, quando ficou claro que era uma proposta comercial colorida com supostos benefícios educacionais, que nunca foram testados. A educação é um processo quase que socrático. Você interage para aprender, e o peso da palavra que é transmitida depende muito do seu vínculo humano, social, emocional, com seus professores, com os alunos em volta. Essa experiência social faz parte da grande força evolutiva que moldou nosso cérebro primata, que é adaptado para o aprendizado social, literalmente. Os circuitos neurais foram moldados para otimizar essa interação.

Então os efeitos da educação online são claros. Acabou de sair um estudo que está causando o maior auê, mostrando que, pela primeira vez, ocorre uma queda de coeficiente de inteligência de uma geração para outra. E eu fiquei muito satisfeito porque os autores usam a mesma tese que eu usei no meu novo livro: mostrando que essa imersão na lógica digital está alterando fisicamente e funcionalmente a forma do cérebro operar. Nós não somos máquinas digitais, não somos sistemas digitais. Temos um sistema nervoso que opera muito mais em analógico do que em digital, o que é muito diferente. As pessoas acham que podemos aproximar um processo analógico com sistemas digitais. Podemos, mas nunca chegaremos ao ideal.

O senhor está falando de inteligência artificial?

Pois não tem nada de inteligente na inteligência artificial, isso que eu gosto de dizer sempre. Boa parte do que se fala sobre inteligência artificial é um grande golpe de marketing para o mundo. E os neurocientistas sabem disso. No meio científico, todo mundo sabe que isso é balela. A inteligência é uma propriedade emergente de um sistema orgânico, que não foi construído, ele evoluiu em relação ao ambiente e em contato com outros membros da espécie. Mas, na questão educacional, o que realmente pega – e nós estamos vendo isso com a pandemia – é a falta do contato humano, a falta da presença de pares numa classe, a falta de um professor presente, a falta do contato social, literalmente. Porque a escola não é só a classe, não é só aula. É o recreio, é a conversa das crianças, é a troca de experiências individuais que passam a ser parte do coletivo. É muito mais do que só o conteúdo. A gente confunde educação com transmissão de conteúdo. Se educação fosse isso, a gente podia sentar na sala e só ouvir o dia inteiro e ir decorando.

Nas aulas online, as pessoas são menos espontâneas. Isso também interfere na aprendizagem?

Esse é o grande drama da lógica digital. Eu defendo no livro que ela começa a amputar, a podar, todos os atributos humanos que não são digitais, que não são “sim” ou “não”, que não são um e zero. Intuição, criatividade, inteligência, espontaneidade, empatia, nada disso é definido por sequências de um e zero. Você tem infinitos graus de diferentes tons entre um e zero. Isso que define o sistema analógico: é a continuidade, o infinito de valores que podem ser assumidos. Você não diz que um cara é empático ou não, intuitivo ou não. Você tem graus e isso você perde [no ambiente virtual]. Tem um movimento nos Estados Unidos querendo usar sistemas especialistas digitais em medicina nos prontos-socorros para fazer triagem de pacientes graves, para salvar dinheiro, só. E eu conheço esses sistemas há trinta anos, eu estudei esses sistemas no começo da minha carreira, quando estava aprendendo computação. Eles evoluíram no ponto de vista de programação, mas a lógica é a mesma.

E é impossível você usar um sistema desse para realmente definir quem entra no hospital e quem não entra. Você vai matar muita gente. Porque medicina, como qualquer arte, ela tem tons, tem muito da experiência de quem faz a triagem, do médico, de quem já viu muita coisa, muitas variedades de casos. O meu professor de medicina interna dizia isso: se você só conhece duas doenças, você só tem dois diagnósticos – para falar de um sistema binário. E existem milhares de patologias. Um sistema digital nunca vai conseguir improvisar ou ter a intuição de um ser humano para desenvolver a sua arte e aprender a reconhecer sinais mínimos que levam a dizer: esse cara tem que entrar no pronto-socorro, eu tenho que cuidar dele, tenho que olhar com mais cuidado. E é a mesma coisa do ponto de vista educacional. O cérebro é plástico, extremamente moldável às contingências do mundo aqui fora.

Se você puser uma criança desde cedo em frente ao computador, o cérebro dela começar a intuir que as recompensas do mundo moderno são maiores se você se comportar como aquela máquina que está na sua frente, o cérebro vai falar “ok”, como bom camaleão que ele é, “eu vou assumir a lógica digital e vou me comportar de acordo com ela”. E qual o resultado disso? Basta perguntar para a Catherine Tucker, que trabalha no media lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ela era uma grande defensora do uso de computação na educação e agora está mudando de opinião radicalmente, porque entrevistou dezenas, acho que milhares de jovens, adolescentes que vivem online e encontrou graves problemas sociais, emocionais, psiquiátricos. Eles têm falta de aptidão social, não conseguem se relacionar fisicamente. Nosso destino é virar um zumbi biológico digital.

Quer dizer: a máquina não consegue se comportar como o cérebro humano, mas o cérebro humano pode virar uma máquina?

A ironia de tudo isso é que os caras fazem parte da igreja, é o culto da inteligência artificial, como qualquer outra igreja. Tem bispos, tem cardeais, papas, tem seguidores, fanáticos. Se você fala mal de um desses caras, como o Elon Musk, que é um grande marqueteiro sem nenhuma substância por trás… Nossa, enxames de seguidores caem em você nas redes sociais para querer te matar. Mas, enfim, a ironia de tudo isso é esse mesmo: a inteligência artificial jamais vai reproduzir um cérebro humano, mas o cérebro humano é capaz de se transformar, de imitar, emular um sistema digital. No limite, é como a pandemia: as fragilidades dos modelos econômicos de desenvolvimento, de crescimento dos últimos 300 anos expuseram a humanidade à pandemia.

O senhor acredita que devemos impor limites às máquinas, então?

Plenamente. Acho que estamos a caminho do precipício. Eu fiz a minha própria metáfora: todos nós sorridentes, com um telefone na mão, a outra dando mão para o próximo vizinho, caminhando todos juntos fazendo alguma alusão a algum deus, algum mito, alguma abstração mental que rege a nossa vida, caminhando todos juntos em direção ao precipício com o celular na mão.

E qual é esse limite na sua opinião? Ele existe?

Veja, eu não sei se você viu um livro que saiu há uns dois anos, mas está explodindo agora, é da Shoshana Zuboff, professora emérita da Harvard Business School. Ela mostra como a nossa privacidade está sendo completamente destruída pelo modelo de negócios do Google e do Facebook. O Google não criou um telefone para competir com o mercado de telefonia digital. Eles nunca tiveram essa ambição. A ambição foi coletar informação: som, voz, texto, para estudar correlações de consumo. Por isso que hoje você compra um livro na Amazon e, no momento seguinte, você recebe cinquenta imagens de livros semelhantes, porque o seu padrão de comportamento está sendo analisado. A ideia é fazer você comprar mais coisas. E a Shoshana fala muito bem de como isso está levando à destruição da democracia, da liberdade individual, dos direitos humanos, está corroendo por dentro todo o arcabouço humanista que foi criado e todos os mecanismos de ação política, de defesa dos direitos humanos, do direito de escolher quem queremos que nos governe.

É só olhar para os Estados Unidos de hoje [a entrevista foi concedida durante a apuração dos votos na eleição presidencial americana]. Esse embate é a maior bifurcação da história dos Estados Unidos em cem anos. Estão decidindo se o país fica junto ou se quebra, se divide, porque é uma sociedade ainda mais polarizada do que a nossa.

Ou se pula para o precipício?

Isso. O precipício chegou para eles. Eu moro lá há 32 anos, e o país que eu conheci em 1988 não existe mais. Ele foi engolido pelo que a Shoshana fala no livro dela. E eu usei isso também no final do meu livro para dizer: olha, esse é um momento dramático do final da espécie. Não é o mar de rosas que alguns autores pintam, como o Yurval [Harari], com quem eu debati no Chile: o mundo é maravilhoso, nós criamos tecnologias, o homem vai virar deus? Isso tudo é absurdo! Vende muito livro, mas não tem o menor sentido! Um sociólogo em um meeting de que eu participei usou uma frase que adaptei com ele: “Quando foi que nós todos viramos escravos e nem percebemos?” No escândalo da Cambridge Analytica, que ele usou na apresentação dele, é clara a manipulação. E também no que ocorreu no Brexit, ou no que ocorreu nas eleições de 2016, nos Estados Unidos, nas eleições aqui em 2018. O WhatsApp está virando um instrumento político de guerra, literalmente. E tudo isso é a antítese do que esses autores, o Yurval, o [Steven] Pinker pintam sobre o mundo cor-de-rosa, o mundo maravilhoso, menos guerras, mais dinheiro…

Tudo bem, vamos usar os verdadeiros índices humanísticos, não os índices econômicos. Vamos falar da coisa que realmente conta: qual sociedade do mundo atingiu o grau de controle global que nós hoje temos, do ponto de vista digital? Nenhuma. Alexandre, o Grande, conquistou meio mundo e não conseguia saber o que o cara na Macedônia ia conversar com os filhos dele. Hoje os caras conseguem saber isso em vários lugares do mundo. Então é uma questão de vender a pílula. Tudo isso leva ao ponto da sua pergunta original: o que é que nós estamos ensinando? Literalmente o que a educação virou?

E o que o senhor faz para escapar desse controle todo na sua vida particular?

O meu filho sempre me pergunta isso, meus filhos que me convenceram a entrar no Twitter e no Instagram. Eu estou no Twitter há muito tempo, mas o Instagram? [ele tem 11,3 mil seguidores] Eu falo: eu penso! Eu leio, e não acredito nas coisas que me são entregues de bandeja. Não frequento certos ambientes digitais, parei de usar qualquer coisa relacionada a Google do ponto de vista de Drive, Cloud? os meus pensamentos não estão em nenhuma Cloud. Eu escrevo à mão.

Tudo à mão?

Tudo o que eu começo a fazer começa na mão, com caneta tinteiro. Mas por quê? Porque pratica essa interação corpo-mente. A caligrafia, os chineses sabem disso há 6 mil anos, é um exercício humanístico extremamente potente, de manifestação humana, artística, de equilíbrio do que você pensa e como você move o seu corpo em relação ao pensamento. Quando comecei a ir para a China – eu não fui para a China durante 40 anos, de repente comecei a ser convidado para falar naquele país várias vezes por ano – descobri lá uma coisa que eu nunca imaginei que fosse descobrir: as centenas de milhares de variações de papel que tem lá. E os pincéis de caligrafia… Eu comprei um monte.

Essa interação tátil também interfere na maneira como pensamos, não? Ou melhor: na maneira como expressamos o que estamos pensando?

Claro. Em tudo. Não existia calculadora quando fui para grupo escolar aqui em São Paulo. Tinha ábaco, mas ninguém queria usar ábaco. Eu adorava porque era um desafio. Mas não podia. Então você ia lá, você escrevia os números que vieram da Índia, que foram pegos pelos muçulmanos no século 8 e transformados em álgebra. E a gente escrevia isso da mesma maneira que os caras escreviam há anos. Tem uma lógica no método de aprender isso. Quando você escreve, você vê, você abstrai. A matemática é uma grande abstração da mente humana, talvez uma das maiores. Eu não sou um bom matemático de forma alguma, não sou nada, sou amador, mas eu tenho uma admiração profunda pela simbologia, a criação e expressão dessa simbologia de uma maneira tátil e visual, que gera grandes interpretações do universo. As pessoas esquecem disso, mas não tem geometria aqui fora. O Einstein gerou o modelo geométrico na cabeça dele, projetou para o mundo e funcionou. Talvez não seja para o resto de nossos tempos, mas funcionou. E ele primeiro colocou isso onde? Ele não pôs no universo, ele escreveu no papel. Olhou e viu um mundo onde o tempo e o espaço se fundem. E criou todo uma lógica que, cem anos depois, ninguém consegue dizer que não funciona.

Eu leio, e não acredito nas coisas que me são entregues de bandeja", afirma

Tem limites, mas os limites são impressionantes para um cara sozinho, num escritório de patentes em Berna, olhando para o relógio da cidade e falando: “Ok, o tempo não existe da maneira como a gente acha que ele existe”. Tudo isso vem desse exercício visuo-tátil, dessa abstração sendo criada e projetada daqui pra fora. Para o meu novo livro, eu estudei um pouco sobre a descrição dos grandes pintores no momento em que eles encontraram o meio de pintura que usariam para o resto da vida. É o Picasso descrevendo a experiência dele de pegar na tinta, não pintar, mas sentir tatilmente a consistência da tinta óleo, do pastel óleo, que depois ele criou, o “sennelier”, que a gente usa até hoje. E, à medida em que você começa a pintar – e eu aprendi depois de adulto e não parei mais -, você entende a lógica disso. Porque pintar não é só a arte de criar. É a arte de sentir a tinta, sentir a experiência tátil. E isso você não faz. Se você faz isso num tablet, como hoje a maioria das crianças faz, é muito diferente de você fazer analogicamente, metendo seus dedos na tinta. A pessoa com quem eu interagi no começo da minha aventura de pintor dizia o seguinte: “Esquece pincel, esquece tudo. A gente vai espalhar essa tinta aqui na paleta, você vai meter seus dedos em tudo, vai borrar a tela. E você vai sentir não a cor visualmente, você vai sentir textura do que é o vermelho versus o azul cobalto”. Eu não conheço as cores pelos nomes, eu conheço as cores pelas texturas.

Em seu livro, o senhor fala sobre a relação entre o espaço, o tempo, o tempo cronológico, e como isso orquestrou a nossa experiência. Durante a quarentena, muitas pessoas relataram alterações da percepção de tempo. Teve gente que achou que o tempo estava passando muito rápido, teve gente que falou o contrário. Como podemos explicar essas sensações?

Na minha visão, o tempo é uma criação da mente. Não existe. As estrelas não celebram aniversário e os meteoros não sabem o dia em que eles vão cair na Terra. Essa mensuração do tempo é uma propriedade da abstração humana. Os babilônios começaram com isso e complicaram a nossa vida, porque, a partir do século 14, o tempo passou a ser ditado pelos mosteiros. Foram os primeiros sinos da Idade Média, as horas cardeais do catolicismo, que começaram a reger nossa vida. Então tocava o sino em um horário para almoçar, em outro para rezar, para dormir… Aí, algumas décadas depois, apareceram os relógios dos mosteiros, que são criações humanas.

O tempo começou a ser partido, quando, na realidade, desde o início dos tempos, também para a nossa espécie, o tempo era contínuo. A única noção de tempo que o homem do paleolítico superior tinha era a mudança do dia pra noite e das estações do ano. E, aos poucos, à medida em que nós nos assentamos na terra, nós começamos a prestar mais atenção nas estações do ano, porque era fundamental para produzir comida. Mas o tempo como nós conhecemos é uma produção medieval, é uma criação humana medieval. Até a base de 60 – 60 minutos, 60 segundos -, tudo veio da Babilônia. Não é nada mágico, não é algo divino. E, de repente, o tempo foi partido em unidades digitais. Esse é um dos exemplos que eu uso para mostrar como os sistemas digitais moldam o nosso cérebro. Todos nós começamos a viver em função dos nossos relógios. E, para ver como essa invenção é poderosa, você carrega no seu telefone uma versão digital de uma tecnologia do século 14. Ela sobreviveu 600 anos e nós ainda a temos aqui?

E o que acontece com a pandemia? Todo mundo fica em casa e o tempo volta a ser analógico. O primeiro choque foi não ter arregimentação, porque sábado, domingo, segunda e terça eram todos dias iguais. Exatamente como no começo dos tempos. O cérebro humano começa a se adaptar a essa conversão digito-analógica. Estamos há 600 anos fazendo uma conversão analógico-digital e, subitamente, passamos a fazer o caminho inverso. E, aí, as pessoas começam a ter reações: “Opa, o tempo passa de uma maneira completamente diferente agora”. O ciclo de sono começou a ser alterado. Eu, por exemplo, no comitê científico, trabalhei direto. Não tinha dia, feriado, isso não existia. A mudança de como a gente percebe o tempo é um dos aspectos mais impactantes da pandemia. Porque o mundo regimentado que todos nós vivíamos: acordar, pegar o carro, ir para o trabalho, chegar, para aqueles que precisam, bater o ponto, levar a criança para a escola? Isso tudo acabou. Hoje a criançada está toda em volta das pessoas, em casa. Então todos os aspectos da vida moderna que regulamentavam o funcionamento do nosso cérebro e da nossa mente, de repente foram removidos. E é, aí, que o pessoal espana, porque tem gente que só consegue viver assim, com o regimento. O sistema rígido de controle de cada momento do seu tempo. Para mim, é o oposto. Eu sempre vivi minha vida fora de sistemas regimentais porque eu não consigo viver neles. Mas, para quem não está acostumado, é um choque. Porque você remove todas as conexões externas que regem a sua vida. E a sua vida está flutuando no tempo.

Tem outra questão sobre a experiência do espaço-tempo: com a internet, podemos estar em vários espaços ao mesmo tempo. E cada um desses espaços tem seu próprio tempo. Isso também altera a nossa percepção, certo?

Tem uma coisa muito curiosa. Eu dei uma palestra outro dia para 40 mil pessoas na China. É como você estar falando com um estádio de futebol inteiro, ao vivo. E eu não vi ninguém. Eu estava aqui na minha sala de estar, falando sobre interfaces cérebro-máquina para 40 mil jovens. Se eu tivesse dentro de um estádio de futebol dando essa aula, eu teria um? Quando você adquire prática em dar palestras em diferentes auditórios, diferentes locais – e eu já dei aula em estádio de baseball na Coreia, eu falei em um estádio – você tem uma interação com a plateia. É como minha mãe sempre me falava: “Quando você sobe no palco, vira um bicho”, porque é outra coisa. Mas, se você está dando uma aula como essas que eu dei recentemente, você não tem o feedback. E as pessoas estavam nas casas delas com o celular, iPads, em diferentes situações para uma audiência que lotaria um estádio do Palmeiras se todo mundo estivesse junto. Na demonstração da Copa [quando o voluntário Juliano Pinto, que é paraplégico, deu um chute em uma bola graças ao exoesqueleto criado por Nicolelis] tinha 65 mil pessoas no estádio quando a gente deu o chute. E, aí, quando eu fui para a China, eu descobri que a audiência daquele instante foi de 1,2 bilhões de pessoas assistindo ao chute de 10, 15 segundos. Mas foi a demonstração científica mais vista da história até hoje.

Para você ter uma ideia, o Santos Dumont voou em 19 de outubro de 1901 para um milhão de parisienses. O Neil Armstrong, quando pousou na Lua, curiosamente no dia do nascimento de Santo Dumont, 20 de julho de 1969, foram 400 milhões de pessoas que viram o pouso. O nosso humilde chute em Itaquera: 1,2 bilhões de pessoas. E, no Brasil, ninguém dá a menor bola para isso, mas os chineses sim. Quando eu fui a Pequim, eles me deram uma placa comemorando a audiência, eu falei para a China na televisão e dei uma aula do estúdio da TV estatal chinesa no dia que celebrava o aniversário do chute. E, para minha surpresa, eu não estava no meu país.

Eu falo isso no livro, falo dessa noção de espaço-tempo como sendo embutidas, nós temos uma noção primordial do espaço-tempo, um ritmo circadiano, um troço que o ambiente embutiu no cérebro, é um ritmo um pouco mais longo do que um dia, 25 horas e pouco. Mas, à medida em que a sociedade moderna foi sendo imposta à nossa espécie, apesar de que é uma criação nossa, mas foi imposta a bilhões de pessoas, ela foi cronometrando, ela foi forçando o cérebro a se adequar a esse novo ritmo temporal e a esse novo ritmo espacial. De repente, bilhões de pessoas estão confinadas nas suas casas e o tempo passa a ser analógico de novo. Isso teve um impacto profundo. Eu não sei ainda, os estudos devem estar sendo feitos nesse momento, mas tenho certeza de que os distúrbios de sono, de emoção, o grau de depressão? mudou tudo, mudou todo o ritmo biológico.

A sua produção continuou igual?

Eu acho que explodiu, porque eu tive que coordenar um comitê científico depois de 38 anos. Eu comecei minha carreira fazendo epidemiologia, por incrível que pareça. A sensação que eu tenho é que deixei muito moleque sem fôlego nesses meses porque eu liguei o modo trator e fui. Mas eu me senti muito bem, não tive nenhum problema, mas senti essa sensação de fusão do tempo. Teve momentos em que eu literalmente escrevia aqui nas minhas notas e nos meus caderninhos a descrição do que eu estava sentindo do que era o tempo.

O senhor poderia mostrar uma dessas notas?

Veja, eu tenho uma coleção de caderninhos, só aqui tem dois gigantescos. Tem desde lista da feira até equação de fluxo populacional para medir a taxa de transmissão do vírus. Mas eu senti uma conversão do tempo para analógico. E eu comecei a imaginar o que deve ter sido viver 40 mil anos atrás sem nada desses gadgets, sem nenhuma definição de segunda, terça, quarta e simplesmente acordar 5h da manhã e dormir às 6h da tarde. Acordar com o primeiro sol e dormir com a noite. É uma mudança de paradigma muito radical.

E não é à toa que, se você for ler a história da evolução dos sistemas econômicos, políticos a mitologia, a maneira como a nossa espécie encarou o mundo? Nas cavernas do paleolítico superior na Europa, em Lascaux, que é como a Capela Sistina da antiguidade? imagine uma esfera de pedra gigantesca, como uma catedral que os caras, lá os nossos queridos antepassados utilizaram as proeminências da pedra para criar imagens tridimensionais. Os caras olharam para a configuração da pedra e falaram, bom, isso aqui parece um touro. Eles pintaram a pedra para criar um efeito dimensional e tudo o que eles representam ali, naquela catedral pré-histórica, é o mundo natural. Não tem imagem deles, não tem autorretrato, não tem tentativa de reproduzir os seus membros da sua tribo, nada. Eu nunca entrei, antes de morrer eu preciso ir até lá, mas a sensação que as pessoas descrevem é de estarem envolvidas por animais tridimensionais, só que eles estão em pedra. Então, veja a noção de espaço desses caras.

O Picasso tem uma frase sensacional sobre Lascaux. Ele disse que ninguém de nós conseguiria pintar como aqueles caras. Porque era uma mistura de escultura, pintura e arquitetura. É incrível. E nós estamos falando de gente que andou pela Europa há 20, 30 mil anos. Só que o que eu acho sensacional é que não tem nenhuma representação humana. É só o mundo que nos cerca que está lá. O que mostra que nós mudamos bastante nesses 40 mil anos. Se você largasse quatro moleques de São Paulo ou de Nova York em uma caverna subterrânea em 2020, o que será que eles iam grafitar lá?

Iam fazer selfies, não iam grafitar.

Exatamente. Esse era um mundo analógico. Então o tempo e o espaço eram completamente diferentes, e a visão desses indivíduos muito provavelmente era muito mais coletiva do que individualista, pelo menos é a interpretação que você tem da etnografia, várias das interpretações que se tem das cavernas, há um senso de comunidade.

Dá para dizer que esse é o início do registro da memória?

Isso. Veja: a linguagem oral permitiu que a nossa memória individual fosse coletivizada. Mas, quando todos os indivíduos que participavam da conversa na fogueira à noite morriam, essa memória coletiva só passava para outros indivíduos pela tradução oral. Essa foi a primeira vez na história que as nossas impressões, emoções e a nossa visão cosmológica do mundo foi impressa em um meio não biológico. E ele está lá até hoje. Esses caras escreveram a Ilíada há 40 mil anos, e ela está lá em pedra. E o que é mais sensacional é que os caras descobriram uma forma de pintar que durou 30 mil anos. No meu livro, eu descrevo uma cena, claro, tirada da minha imaginação, de como eles migravam na neve para penetrar no subterrâneo e fazer seu ritual de encontro com a transição do mundo real para o mundo imaginário.

Mas já havia uma divisão clara entre o mundo mágico e o mundo concreto naquela época?

Tudo leva a crer que sim, que existia inclusive uma classe, não sei o nome mais correto, de sacerdotes, xamãs ou arautos da visão. Isso é impressionante porque existe desde o começo dos tempos. A gente valoriza muito aqui no ocidente evidentemente os mitos gregos, a Odisséia, a Ilíada, a origem da descrição da condição humana. A cada dois anos, eu leio a Odisseia e a Ilíada só para ver como eu me sinto. E a minha impressão não mudou desde os meus vinte anos. Todavia a Ilíada é inspirada no mito de Gilgamesh da Mesopotâmia, que é muito mais antigo. E Gilgamesh já tem o dilúvio, já tem a tal da arca, já tem a maçã, já tem a serpente, e esse tópico se repete.

É o que dizem: é sempre a mesma história que é contada, certo?

Metade da vida da humanidade foi plagiar. Você pega a história das religiões modernas, monoteístas, e eles adotaram todos os mitos pagãos, deram uma revestida. Eu fui descobrindo isso ao longo dos anos e é impressionante. O próprio Gilgamesh remete você a um mundo anterior, do qual a gente não tem um registro escrito porque é antes da escrita, mas você tem o registro pictórico nessas cavernas. E é impressionante porque você muda de perspectiva quando começa a examinar a etnografia dessas gravuras com as interpretações possíveis. Era um mundo muito mais analógico e tangível, existiam abstrações mentais, é óbvio, mas elas não eram tão dominantes como as que hoje existem. Nós criamos um mundo de faz de conta, nós criamos um mundo nos dez mil anos onde essas abstrações mentais passaram a ser mais importantes do que a vida humana. Sistemas políticos, ideologias, religiões, dinheiro, são todas abstrações humanas.

No capítulo doze, eu tenho um quadro que talvez seja a figura mais legal do livro que é a história do dinheiro. Como as diferentes civilizações usavam algo para carregar valor e transferir para trocar bens. É uma coisa absurda. O império romano usava sal. Os astecas usavam grãos de cacau quando precisavam de troco. Quando precisavam fazer compra grande, eram roupas de algodão. Mas, a cada passo, o dinheiro começa a ser menos tangível. O exército romano precisa receber a moeda de ouro, de prata dos caras. De repente, mil anos depois, a gente tem zeros e uns na conta bancária e acha que é a mesma coisa, porque a gente assume essa abstração mental de que o que está lá é real. E evidentemente não é. É um contrato mental humano. E esse barato, que é uma criação nossa, tem um valor que rege o mundo hoje em dia. Ele manda no mundo, mas é uma abstração mental, não caiu do céu, não tem nada de divino.

Outro dia, me perguntaram o que eu acho das fake news? As fake news são a coisa mais antiga da humanidade. Um exemplo disso é um faraó em crise que vira para o sacerdote e fala: “Ô, os caras não querem construir a pirâmide, o que eu faço?”. O sacerdote: “Ah, muito simples, é o seguinte: eu vou ser sacerdote para a vida inteira?” Soa familiar, não soa? E o faraó: “Não, você, seu filho, seu neto, seu bisneto, todo mundo vai ser sacerdote do faraó.” E ele: “Tá bom, então é o seguinte: você vai lá, se veste de ouro, ao meio dia, você sai do templo de Tebas, na praça central, todo mundo vai estar lá, o sol vai bater em você, eu vou dizer que você não é mais o faraó, você é a encarnação de Rá, o deus Sol, pronto.” E funcionou! O cara fez exatamente isso e olha as pirâmides que têm lá. Os caras não estavam construindo as pirâmides, eles estavam construindo a pirâmide para um deus!

Então a gente como humano já nasce com a tendência a acreditar nessas abstrações?

Isso. Tem duas fragilidades fundamentais do cérebro humano: a grande vantagem é que nós somos capazes de criar essas abstrações. Somos uma máquina de criar universos. Por isso que nós temos essas bolhas da internet, onde os caras vivem em comunidades, onde a Terra é plana, não tem lei da gravidade, vacina não é boa? Qual é o nosso problema? Nós somos geradores de abstrações mentais contínuas: religiões, sistemas econômicos, sistemas políticos, ideologias, deuses, ciência, matemática, enfim. Só que nós temos uma fragilidade neurobiológica que permite que, ao comunicar essas abstrações, que eu chamo de vírus informacionais, os cérebros de milhões de pessoas se sincronizam quase que automaticamente. É o que a gente chama de crença, que nada mais é do que uma fragilidade biológica que faz com que um vírus informacional sincronize milhões de pessoas a fazerem parte de um universo abstrato.

E, aí, vem o nosso querido Marshall McLuhan. Quando ele diz que, no momento que o meio de comunicação, que é a mensagem – e ele está absolutamente certo – atingir a velocidade utilizada pelo cérebro para processar a informação, nós estamos fritos. Porque vamos criar a aldeia global. Ele achava que a aldeia global seria extremamente positiva. Infelizmente aí ele estava errado. A aldeia global passou a ser o que é. Por que você acha que o Trump usa o Twitter? Porque ele tem mais seguidores do que todas as redes de televisão americana juntas. Então, quando ele fala qualquer absurdo, o universo que ele criou nesse Twitter instantaneamente sincroniza. E não há jeito de que a NBC, o New York Times, Washington Post vá lá e fale que é mentira, que é fake news. Não adianta, o universo já cristalizou. E isso é um fenômeno neurobiológico. Não é um fenômeno de comunicação.

A comunicação é uma manifestação secundária da habilidade e da fragilidade do sistema nervoso humano. Qual é a única maneira de você impedir a cristalização desses universos? É você bloquear a transmissão do vírus informacional. É como você ter uma vacina para um vírus real. Porque, no momento que ele é solto, você pode esquecer. Você não vai desmentir nunca.

"O talento humano nós temos. E essa pandemia mostrou claramente", comenta o cientista

Na sua opinião, qual o futuro da ciência e da pesquisa no Brasil?

Eu fiz parte de uma diáspora, existiram várias. A maior eu acredito que aconteceu na década de 1960, depois do golpe de 1964. Já eu fiz parte da diáspora do Plano Cruzado, no final dos anos 1980. Eu era professor da USP e tinha que pegar meu salário e fazer supermercado do mês inteiro porque o dinheiro não chegaria no final do mês com a inflação galopante. A gente comprava tudo em grandes quantidades. E o que eu queria fazer era impossível no Brasil. Aí meu professor me disse: “Achei um lugar no Brasil pra você fazer sua pesquisa de pós-doutorado”. E eu falei: “Onde? Estou procurando há meses”. Ele falou: “Chama-se aeroporto. Você vai para o aeroporto, pega um avião, acha um americano maluco que tope o que você quer fazer e vai para lá”. Eu achei, dei sorte. Achei um cara maravilhoso que virou amigo pra vida toda. Nós dois queríamos fazer algo que ninguém na neurociência queria fazer. E, no final das contas, nós fizemos e escrevemos um capítulo que eu considero muito emocionante na história da neurociência. Todo mundo registrava um neurônio só e, de repente, estávamos eu o John [Chapin] no meio da madrugada registrando 40 simultaneamente. Aí um dia ele vira para mim e diz assim: “Tem uma vantagem de, às três da manhã, a gente estar aqui juntos registrando 40 neurônios em um cérebro de rato”. Eu perguntei: “Qual, John?” Ele: “Bom, nós podemos dividir o mesmo advogado para o mesmo divórcio, ele vai fazer dois pelo preço de um, porque ninguém vai acreditar que tem dois caras passando a noite registrando neurônio”.

Quando nós publicamos, foi um artigo comentado como uma revolução. Eu tinha 29 anos e ele, 39. Dois moleques causando um salseiro medonho. E isso não é possível no Brasil. Não é possível porque, nos últimos seis anos, desde o golpe de 2016, nós tivemos uma perda de 50% do orçamento científico. Ciência não é só dinheiro, eu falo isso o tempo inteiro, eu odeio esse papo de só falar de dinheiro o tempo inteiro, mas tem que ter dinheiro para fazer ciência. E o investimento no pico em 2013 foi 1,12% do PIB, sendo que os EUA investem, desde a segunda guerra, 5% todo ano. E esse ano a China passou, no PIB mundial, os Estados Unidos. É a primeira nação a passá-los desde o começo do século 20, com 130 bilhões de dólares anuais. Então é quase impossível competir.

O talento humano nós temos. E essa pandemia mostrou claramente. Eu trabalhei durante meses com jovens das universidades federais do Nordeste, que foram contratados pelos planos de capacitação das universidades, que foram do Ciências Sem Fronteiras e que voltaram e estão aqui lutando diariamente. Essa molecada trabalhou comigo de madrugada, no sábado, no domingo. Nós temos reunião no Zoom às três da manhã. Nós fizemos palestra pesada para decidir que cidade a gente ia recomendar que fosse fechada. E essa molecada é espetacular. Eu fiquei emocionado. Da minha sala de estar, eu estava conversando com vários laboratórios de jovens no Brasil. Foi talvez o trabalho mais emocionante que eu fiz. Talvez só a Copa tenha sido mais emocionante por suas circunstâncias, mas não dá para fazer ciência sem um planejamento, sem investimento contínuo. O Brasil teria que investir 5% a partir de ontem, durante 50 anos, para se equiparar ao mundo neste momento. E mesmo assim nós chegamos a ser, dois anos atrás, eu não sei atualmente porque eu não vi os números, mas o décimo país a mais publicar no mundo, o que não é pouca porcaria. Para você ter uma ideia, na área de medicina tropical, o Brasil é líder mundial, com 25% do mercado de publicações do mundo. Se tem um país que entende de moléstias tropicais no planeta, somos nós, a Fiocruz, o Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, enfim.

Eu fui criar um instituto no meio da periferia de Natal [o Instituto Santos Dumont] e por dez anos tive um programa de educação científica para crianças da escola pública, 1.500 crianças por ano. Teve criança que eu levei para o laboratório para registrar neurônio aos 14 anos porque o talento era tão brutal? E essa molecada foi autora de paper internacional porque o moleque entrou no laboratório e não saiu mais. Esses caras foram fazer doutorado, podiam ter pulado a universidade, ir direto para o doutorado. Isso na periferia de Natal, interior bravo da Bahia. Nós reproduzimos o nosso modelo do sistema educacional em Natal, em Macaíba, que é na periferia de Natal, e em Serrinha, que é na periferia de Feira de Santana. E agora tem uma escola nossa em Caxias, no Maranhão. Mas, em 2017, nosso querido ministro da educação, o Mendonça Filho, dez dias antes do Natal, nos comunicou que o MEC não tinha mais prioridade em fazer sistemas de educação científica para crianças da escola pública e cortou nosso projeto no meio, depois de 10 anos de prêmios internacionais. É a história do Brasil, né?

Eu sempre digo isso: o Brasil está cheio de Santos Dumont, ele só não tem aeroporto para os caras decolarem. Eu vejo tudo isso com muito receio. Em 2018, eu fiz um discurso num evento aqui no Teatro da Universidade Católica (TUCA) falando, olha, dependendo do que acontecer, a ciência brasileira vai acabar. E a perspectiva não vai muito longe do que eu falei naquele dia.

Apesar do esforço heroico dos cientistas brasileiros e de todas as áreas das universidades federais que produzem 95% da nossa ciência. Tem outros problemas que também precisam ser resolvidos. Um deles é a falta de comunicação com a sociedade brasileira. O cientista não é treinado para explicar o que ele faz. Quem paga a conta é a sociedade. Se você não explicar o que você faz, como é que você espera apoio?

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domingo - 06/12/2020 - 08:14h

Saudade do Potiba

Por Odemirton Filho

Um domingo desses senti uma vontade danada de assistir ao Potiba. De ver em campo os times do Potiguar e do Baraúnas. Da arquibancada cheia. Da resenha antes e depois do jogo.

O Estádio de Futebol Manoel Leonardo Nogueira, o Nogueirão, em dia de Potiba quase sempre recebia um bom público.

Antes de iniciar a partida, e após um gol, “pipocavam” os fogos de artifícios. O velho Nogueirão, literalmente, estremecia.

Clássico entre Potiguar e Baraúnas é o confronto sempre marcante no Nogueirão em Mossoró (Foto: Wilson Moreno)

Com um rádio de pilha no pé do ouvido, cada lance, na voz dos narradores, era uma emoção. Como em toda e qualquer torcida havia aquelas figuras humanas que fazem parte da magia do futebol. E, claro, ver jogando Cícero Ramalho e Júnior Xavier, craques.

O futebol de Mossoró fazia parte de nossas vidas. Durante o jogo era comum se ouvir o xingamento contra o árbitro, a reclamação pelo esquema de jogo do técnico, as ofensas contra os jogadores e a torcida adversária. Não tinha essa de briga entre as torcidas, pelo menos em tempos passados.

Como era bom assistir ao jogo tomando uma cerveja. No intervalo da partida descíamos para “merendar” um cachorro-quente com um refrigerante ou um espetinho de “gato”. Não era fácil ser atendido. Uma zoada. Das grandes.

Infelizmente, li que o Nogueirão foi interditado. De novo. Mais uma vez. Sei lá quantas vezes.

Os nossos representantes no futebol já não disputam em pé de igualdade com outros times. O Baraúnas, pelo que sei, no momento não participa mais de campeonatos. O Potiguar, ainda de pé, somente aqui ou acolá consegue formar um elenco competitivo.

O futebol de Mossoró há tempos vem numa peleja medonha pra sobreviver. Os bons tempos ficaram apenas no cantinho da recordação, como diria o querido Olismar Lima.

Que falta faz ouvir a galera da arquibancada do Nogueirão gritar pelos seus times do coração. O meu é vermelho, do Potiguar, “time macho”.

Mas sinto falta, até mesmo, de ouvir a torcida do Baraúnas:

“Solte o leão”!

Odemirton Filho é Bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica
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domingo - 06/12/2020 - 06:46h

Prefeito eleito precisa estar atento à nova onda da Covid-19

Por Josivan Barbosa

O prefeito eleito Allyson Bezerra (Solidariedade) terá muita dificuldade se a segunda onda da Covid – 19 se prolongar no primeiro semestre de 2021. O principal problema será com o repasse de recursos do Governo Federal para o município, o que não foi problema até então.

O governo federal cortará o financiamento de 3.265 Centros de Atendimento para Enfrentamento à Covid-19, instituídos em maio a pedido das secretarias municipais de Saúde a fim de ampliar o acesso ao atendimento precoce das pessoas com sintomas de infecção pelo coronavírus. Outros 130 Centros Comunitários de Referência para Enfrentamento da Covid-19 também serão afetados. Sem verbas, boa parte desses equipamentos corre sério risco de fechar, já que dificilmente os municípios terão dinheiro para mantê-los. O corte preocupa em um momento de repique no número de casos e de apreensão com uma segunda onda da covid-19 no país.

Coronavírus é ainda uma ameaça muito presente e sinaliza que avançará sobre novo ano (Foto ilustrativa)

Sintonia

A prefeita Rosalba Ciarlini (PP) precisa de muita sintonia com o prefeito eleito Allyson Bezerra para que possam tomar medidas em conjunto para o enfrentamento do repique da covid – 19. Isso já está acontecendo em vários municípios, onde os prefeitos eleitos para 2021 já começam a propor ou anunciar medidas econômicas relacionadas aos efeitos do recrudescimento da covid-19 ou voltadas para o apoio à retomada da economia. Os anúncios contemplam desde parcelamento ou ampliação de prazo de pagamentos de tributos até medidas de concessão de crédito a empreendedores.

Há prefeitos que estão fazendo a opção por medidas como restrição de horários para estabelecimentos comerciais, novas diretrizes no atendimento da saúde e chegam também ao campo fiscal e financeiro, como novo programa de parcelamento de tributos e a ampliação de um fundo de aval para empréstimos a empreendedores locais. Há também medidas onde foram prorrogados os prazos para pagamento do IPTU para estabelecimentos que tiveram funcionamento suspenso durante a pandemia.

No Recife, como exemplo, o prefeito eleito João Campos (PSB) anunciou que irá tirar do papel já nos primeiros 90 dias de sua gestão um programa de microcrédito para empreendedores prejudicados na pandemia.

Novos desafios

Qualquer que seja a evolução da covid-19, os novos prefeitos deverão enfrentar todo um 2021 com lenta recuperação de emprego e renda, o que demandará definição de políticas de assistência social e de geração de emprego e formas de financiá-las. Caso não haja coordenação nacional para isso, a ajuda aos mais vulneráveis que baterão à portas das prefeituras ficará restrita à capacidade financeira de cada município e tenderá a ser desigual no país.

Caberá aos municípios identificar a nova população de vulneráveis que se formou na pandemia e ajudar a planejar programas de geração de empregos, o que inclui qualificação e treinamento. Uma coordenação nacional é importante para que não se repita o cenário de ações desordenadas e pontuais deste ano.

Mobilidade urbana

Poucos dias antes da eleição, o candidato a prefeito de uma cidade do interior de São Paulo usou redes sociais para expor ideias sobre mobilidade. A cidade que ele pretendia governar deveria ter as calçadas reformadas, grande extensão de ciclovias e muitos corredores exclusivos para ônibus.

O transporte coletivo, hoje demorado e caro, deveria ser prioridade. E, como última tentativa de convencer o eleitor de que era merecedor do voto, defendeu a redução do preço da tarifa do transporte público. Mais uma vez, a última campanha serviu para a triste constatação de que nem todos compreendem o sentido de mobilidade urbana, que, acima de tudo, é um assunto diretamente ligado à qualidade de vida da população.

Propostas soltas, vagas ou com soluções que fogem da esfera municipal rechearam muitos dos programas de governo de candidatos que quiseram fazer bonito ao falar de um tema que seduz.

Bismarck Maia

Analisando o material publicitário do prefeito reeleito de Aracati, Bismarck Maia, percebe-se que o município terá duas histórias após a sua gestão. O prefeito conseguiu ampliar o programa de areninhas do Governo Estadual e criou outras, inclusive as areninhas kids.

O prefeito reformou o Ginásio de Esportes Gigante do Vale dando muita atenção ao esporte do município.

Uma outra ideia muito boa foi o programa das unidades móveis de saúde. São ônibus especiais transformados em mini-hospitais equipados para atendimento em várias modalidades.

O prefeito revolucionou o município com a pavimentação. Foram 175 km em 04 anos.

Houve também muito apoio ao turismo com a integração de todas as praias com um percurso que era de 48 km e foi reduzido para 12 entre as praias de Quixaba, Lagoa do Mato , Fontainha, Retirinho e São Chico. Agora a perspectiva de atrair pousadas e hotéis fica bem melhor.

No aspecto da iluminação pública, o prefeito Bismarck fez uma verdadeira revolução na qualidade do serviço. Todas as localidades do município foram beneficiadas com iluminação com luz de led.

Bismarck Maia II

Na área de educação foram desenvolvidas ações que logo o cidadão vai perceber a diferença. Novas escolas estão sendo construídas com qualidade bem acima da média dos municípios da nossa região.

Na área de saúde o prefeito conseguiu priorizar a abertura da UPA 24 h. São mais de 6000 atendimentos por mês. Outra grande conquista para Aracati.

Exemplo e novas vias

Acredito que o prefeito Allyson Bezerra vai tomar Aracati como exemplo e avançar em projetos essenciais para Mossoró como a construção de nova via perimetral ligando a BR 304 na altura da Maisa, passando por Alagoinha, indo até a RN 015 e desta a BR 304 na saída para Natal.

Um outro trecho necessário para complementar o perímetro do município é ligar a BR 304 com o Rincão e daí até a BR 304 na saída para Fortaleza. Uma obra que se feita em 04 anos servirá para 20 anos.

RN sem sorte

O Ceará e Pernambuco continuam liderando a captação de empresas e o nosso RN permanece sonolento no desenvolvimento econômico.

Para se ter uma ideia tem município pequeno do Ceará que conseguiu captar mais empresas do que o município de Mossoró. Um bom exemplo é o pequeno município de Fortim que captou um grande empreendimento na área de turismo, o Jaguaribe Loudge, e, agora a chegada de uma grande fábrica de produtos de alumínio.

A Metal Brasil aproveitando o fácil acesso a partir do município até a BR 304 e a BR 116 pretende atender boa parte do Norte, Nordeste e Centro Oeste no comércio de esquadrias de alumínio.

Em Pernambuco, ao contrário do RN, a fábrica da Ambev anunciou um grande investimento para continuar na liderança do segmento na região. A Ambev vai investir R$ 255 milhões na unidade de Itapissuma (PE) com objetivo de ampliar sua capacidade de produção de cerveja puro malte e iniciar uma nova linha de envase para abastecer as regiões Norte e Nordeste.

No Nordeste, especificamente, a Ambev enfrenta forte concorrência no nicho premium com a marca holandesa Heineken, que detém 66% de participação de mercado. No entanto, considerando todos os rótulos, a líder na região é a Ambev – a Heineken, dona da Schin, tem uma fatia total de 30% no mercado nordestino.

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)

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Categoria(s): Artigo
sábado - 05/12/2020 - 23:56h

Pensando bem…

“No meu entender, o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso.”

Ariano Suassuna

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sábado - 05/12/2020 - 22:18h
Drive thru

Testagem em massa só identifica um caso de coronavírus

A Prefeitura de Mossoró realizou na manhã deste sábado (5), ao lado do Museu Histórico Lauro da Escóssia, mais uma testagem para investigação do novo coronavírus. A ação teve início às 7h, seguindo até às 11h, e foi aberta à população em geral, precisando apenas apresentar o CPF, com um documento oficial com foto.

Dos 1.056 testados, 981 apresentaram resultado negativo, enquanto 75 (IgG) já tiveram a doença e agora estão com anticorpos. Apenas 1 (IgM) dos testes apresentou resultado positivo, indicando que está com a doença.

Filas de carros se formaram nesse sábado para realização da testagem (Foto: PMM)

O resultado positivo foi encaminhado à consulta com médico em um dos centros de combate à COVID-19.

A Secretária de Saúde, Saudade Azevedo, explicou que este foi o último drive thru realizado pelo município neste ano. “Foi um drive extremamente necessário, em um momento onde os números de casos tem aumentado, além de internações. A taxa de ocupação já beira os 80%, então acendemos a luz de alerta e de preocupação”, explicando também que a fiscalização deve ser endurecida nos próximos dias.

“Esse aumento tem tudo a ver com o comportamento da população, que quis sair e ir as ruas. O poder público entendeu naquele momento que era seguro a abertura do comércio, bares e restaurantes, mas as pessoas perderam o compromisso. A ideia é endurecer as fiscalizações neste primeiro momento”, finalizou.

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Categoria(s): Saúde
sábado - 05/12/2020 - 20:40h
Pós-eleição

Gestão de prefeita não reeleita apressa asfalto e calçamento

Impressiona o volume de obras da gestão da prefeita não reeleita Rosalba Ciarlini (PP), na área viária (principalmente asfalto). Os resultados são mais visíveis e rápidos, além da medição para pagamento.

Obras de asfalto estão saindo em grande volume, velocidade e até à noite e domingos (Foto: BCS)

Empresas começam a trabalhar logo cedo da manhã e avançam pela noite.

Há casos que nem o domingo escapa da programação.

Algumas remanejaram até pessoal de obras privadas para essa operação, seguindo orientação superior.

A explicação para tanto empenho pode estar nas eleições encerradas há poucas semanas.

Mais do que desejo em entregar obras, o que se observa é uma cruzada para pagamentos mais ágeis e grandes cifras. O dinheiro está mesmo ouvindo a conversa. É mais fácil jogar asfalto do que terminar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) já inaugurada (veja AQUI).

Até bem poucos meses, o ritmo era outro, quase parando. Foi crescendo com a proximidade das eleições.

Elementar, meu caro Watson.

O lamentável nessa operação, é a falta de critério mais racional para essa expansão de asfalto e calçamento. E o desleixo com trechos que seriam mais prioritários.

Preparem-se também para a iminente possibilidade de grandes problemas com elevação da pista de rolamento em áreas de inundações, sem a devida drenagem, como no cruzamento da Avenida João da Escóssia com a Avenida Diocesana (veja vídeo abaixo de fevereiro do ano passado), Rua Duodécimo Rosado com Avenida Diocesana etc.

Aguardemos.

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sábado - 05/12/2020 - 19:36h
Desenvolvimento

Fórum define 62 ações prioritárias para o semiárido

Girão é da Frente Parlamentar (Foto: Célio Duarte)

Os 27 milhões de habitantes dos 1.262 municípios do semiárido brasileiro estão prestes a ganhar um novo plano de desenvolvimento. No Fórum de Desenvolvimento do Semiárido, encerrado na última sexta-feira (4), no campus mossoroense da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), especialistas definiram 62 ações prioritárias do plano.

Distribuídas em 12 eixos temáticos (cinco ações por eixo e um eixo com sete), as prioridades embasarão o novo Plano de Desenvolvimento do Semiárido (PDS), nas áreas de energia; meio ambiente; agronegócio; relações exteriores; turismo; educação; novas tecnologias e inovação; mercados; comunicação e tecnologia da informação; transportes; recursos hídricos e segurança jurídica.

Lei Federal

Foco das discussões técnicas em oficinas, ao longo desta sexta-feira, as demandas serão compiladas pelo Governo Federal e servirão de base para Projeto de Lei a ser enviado ao Congresso Nacional. “A intenção é reunir esse planejamento em lei federal, para assegurar a continuidade”, garante o deputado federal General Girão (PSL-RN). O parlamentar é coordenador da Frente Parlamentar Mista em Prol do Semiárido, idealizadora do Fórum.

O Plano de Desenvolvimento do Semiárido existe há mais de 75 anos, segundo o assessor de gestão da área de Empreendimento e Gestão da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Luiz Curado. A última versão começou a ser construída em 1995. “É um estudo complexo. Porém, está esquecido há 20 anos, inexplicavelmente. Precisamos atualizá-lo, reestruturá-lo”, defende o técnico.

Saiba mais detalhes clicando AQUI.

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Categoria(s): Política
sábado - 05/12/2020 - 18:20h
Covid-19

Governo do RN distribuirá mais 300 mil máscaras

Distribuição ocorrerá em breve (Foto: arquivo)

Em virtude do aumento do número de contágios do coronavírus no Rio Grande do Norte, muito decorrente das aglomerações ocorridas durante as eleições municipais, o Governo do RN intensificará ações para conter a propagação do vírus.

Entre outras estratégias retomará, nos próximos 15 dias, a intensificação na distribuição de máscaras de proteção nas cidades do Estado, com foco nas áreas com maior índice de transmissão.

Serão 300 mil máscaras do programa RN + Protegido a ser entregues prioritariamente à população de baixa renda, “pois faremos as distribuições junto com as cestas básicas do programa RN Chega Junto”, explica o Controlador Geral do Estado, Pedro Lopes.

Ao todo já foram entregues mais de 6,2 milhões de máscaras em todo o RN.

A ação será coordenada pela Defesa Civil do Governo, e contará com o apoio de parceiros como a Cruz Vermelha, Comunitários Contra Covid, Associação Potiguar de Off-Road e Associação de Supermercados do RN (ASSURN), “fazendo chegar a pelo menos 150 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social em 90 municípios, em todas as regiões do RN”, prevê o Controlador.

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Categoria(s): Saúde
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sábado - 05/12/2020 - 08:46h
Allyson Bezerra

Um dedinho de prosa com o grupo de vereadores do “G6”

O prefeito eleito Allyson Bezerra (PP) teve um dedinho de prosa com o grupo de seis vereadores que se autodenominam “G6” (veja AQUI). É formado por dois reeleitos e quatro novatos à próxima legislatura.

Afinação à vista.

O bloco é composto com os vereadores reeleitos Genilson Alves (Pros) e Didi de Arnor (Republicanos), além dos eleitos Gideon Ismaias (Cidadania),  Edson Carlos (CIDADANIA), Isaac da Casca (DC) e Omar Nogueira (Patriotas).

Na campanha municipal, os vereadores Genilson e Didi estavam respectivamente nos palanques de Isolda Dantas (PT) e Rosalba Ciarlini (PP).

Os demais também não fizeram parte da Coligação Muda Mossoró do então candidato Allyson Bezerra.

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Categoria(s): Política
sexta-feira - 04/12/2020 - 23:59h

Pensando bem…

“Temos de viver, não importa quantos céus tenham caído.”

D.H. Lawrence

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sexta-feira - 04/12/2020 - 23:50h
Política

Larissa conversa com Ezequiel Ferreira em Mossoró

Larissa e família estiveram com presidente (Foto: cedida)

A vereadora eleita Larissa Rosado (PSDB) esteve conversando nessa sexta-feira ( 4) com o presidente da Assembleia Legislativa e do seu partido no RN, deputado Ezequiel Ferreira.

O encontro ocorreu no Hotel Garbos.

Com ela ainda, a atual vereadora Sandra Rosado (PSDB) e o secretário municipal do Desenvolvimento Econômico, Lahyrinho Rosado Neto (PSDB).

Ezequiel acompanhou parte da agenda do ministro do Desenvolvimento Regional no RN, ex-deputado estadual Rogério Marinho (sem partido).

Larissa começará novo mandato dia 1º de janeiro próximo.

Ezequiel é sua referência de liderança política, sobretudo com a não reeleição da prefeita Rosalba Ciarlini (PP).

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sexta-feira - 04/12/2020 - 23:36h
Saúde pública

Prefeitura faz testagem contra Covid-19 nesse sábado

A Prefeitura de Mossoró vai realizar neste sábado (05) mais um drive thru de testagem covid-19. A ação vai ocorrer das 7h às 11h ao lado do Museu Histórico Jornalista Lauro da Escóssia. É aberta à população, porém a orientação da Saúde é que os mossoroenses que se encontram no perfil epidemiológico de teste (idosos, pessoas com comorbidades, pessoas sintomáticas e que tiveram contato com algum caso confirmado) compareçam para serem testados.

'Drive Thru' acontecerá no Museu Lauro da Escóssia com 2 mil testes (Foto: arquivo)

A Prefeitura está disponibilizando 2 mil testes rápidos que apresentam resultados IgG e IgM. Para ser testado é preciso apresentar documento oficial com foto e comprovante de residência no nome do usuário ou de algum familiar.

Os resultados que derem positivos vão ser encaminhados à consulta com médico nos Centros de Atendimento para Enfrentamento da Covid-19 no Belo Horizonte ou no Santo Antônio e já vão sair com medicamentos para iniciar tratamento contra covid.

A rota para entrar no drive de testagem vai iniciar pela Avenida Dr. Almir de Almeida Castro (rua do Parque Municipal) e segue pela Rua Maria Ferreira de Azevedo até chegar ao local de testagem.

Com informações da Prefeitura Municipal de Mossoró.

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Categoria(s): Saúde
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sexta-feira - 04/12/2020 - 23:14h
Medalhas

Fátima entrega Mérito do Desenvolvimento Econômico

A governadora Fátima Bezerra (PT) entregou nesta sexta-feira (4) a Medalha do Mérito Potiguar do Desenvolvimento Econômico a 15 personalidades que cooperam para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte. A solenidade foi realizada na sede da Federação das Indústrias (FIERN) e homenageou quatro mulheres e onze homens, tanto do setor público quanto do setor privado.

Fátima posa ao lado dos homenageados com a medalha (Foto: Robson Araújo)

Em seu segundo ano consecutivo de realização, a medalha é uma homenagem concedida por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDEC) e não tem custo para o Tesouro Estadual. É destinada àqueles que se destacaram em prol do desenvolvimento do estado com geração de emprego e renda à população.

A escolha do Mérito do Desenvolvimento Econômico é feita pelos integrantes das câmaras setoriais – órgãos instalados pela atual gestão que têm a finalidade de criar ambientes favoráveis às atividades produtivas, com segurança jurídica e patrimonial, e favorecer a criação de oportunidades de trabalho, emprego, renda e riqueza.

Veja abaixo lista de homenageados:

1.   Ângela Maria Paiva Cruz – Coord. do Parque Industrial Augusto Severo (PAX) e ex-reitora da UFRN

2.   Antônio Leite Jales – dono da Sterbom

3.   Carlos Eduardo Xavier – Secretário de Estado de Tributação

4.   Clara Bezerra Medeiros – Restaurante Camarões

5.   Dirceu Simabucuru – superintendente da InterTV Cabugi

6.   Flávio Gurgel Rocha – CEO da Guararapes

7.   Francisca Eliane de Lima “Neneide” – Rede de Comercialização Solidária Xique-Xique

8.   Francisco Ferreira Souto Filho “Soutinho” – Industrial salineiro

9.   José Ferreira “Zeca” de Melo Neto – Sebrae

10. José Walter de Carvalho – Indústria da Construção Civil

11. Júnior Maia Rebouças – Supermercadista / Mercantil Rebouças

12. Luzia Diva Cunha Dutra – Fecomércio e Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sincofarn)

13. Marcelo Henrique Ribeiro Alecrim – Ale Combustíveis

14. Manoel Etelvino de Medeiros – Supermercado Nordestão

15. Thiago Dantas e Silva – Superintendente do BNB/RN.

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Categoria(s): Administração Pública / Economia / Política
sexta-feira - 04/12/2020 - 22:34h
Eleições 2020

O novo mapa do poder municipal no Brasil

Congresso em Foco traça perfil da força política que nasceu das urnas no país em dois turnos esse ano

Do Congresso em Foco

Por Sylvio Costa, André SathlerRicardo De João Braga

Eleições municipais são como um caleidoscópio. As múltiplas arenas de batalha, o grande número de partidos e de candidatos e as complexas conexões entre temas locais – em princípio, os mais determinantes para os resultados eleitorais – e nacionais possibilitam visões muito diversas, de tonalidades bastante diferentes. Análises apressadas, em geral, estão condenadas ao daltonismo.

Para reduzir tal risco, consolidamos nesta edição especial os principais resultados, facilitando a compreensão do que as urnas falaram em novembro, e acrescentando sempre que possível observações que tentam ir além do óbvio.

Deve-se ressaltar que ainda não foram divulgados oficialmente os resultados finais e completos das eleições (sem falar que Macapá escolherá o prefeito apenas neste domingo, dia 6). Por isso, alguns dos gráficos usados a seguir apresentam totalizações que ficam por vezes abaixo do número total de municípios brasileiros (5.570).Vencedores que perderam

O MDB é o partido com a maior quantidade de prefeitos eleitos, 784. Mas perdeu 260 prefeituras em relação a quatro anos atrás. Pela primeira vez desde 1988, controlará menos de mil municípios. O PSDB foi quem se saiu melhor nas maiores cidades, mas perdeu ainda mais: terá sob o seu controle 279 municípios a menos. Esse declínio em capilaridade poderá afetar as bancadas de deputados federais de ambos os partidos, que já caíram bastante nas últimas eleições para o Congresso.

O MDB tem um problema adicional. Não conseguiu projetar nenhuma liderança de expressão nacional. Bons nomes numa campanha presidencial, por exemplo, podem puxar candidatos a cargos legislativos, inclusive à Câmara (algo decisivo, já que o tamanho da bancada de deputados eleita define a porção do fundo partidário apropriada por cada legenda).

Quem mais cresceu

Como salta à vista desde a divulgação dos resultados do primeiro turno, os partidos que apresentaram maior crescimento em número de prefeituras pertencem ao Centrão, coalizão de corte conservador que se caracteriza menos pelo perfil ideológico do que pelo apego a nomeações e recursos federais, valiosos instrumentos para conquistar e preservar o poder local. DEM, com 196 municípios a mais, PP (190), PSD (116) e Republicanos (106) foram os maiores vitoriosos.

Percentualmente, as agremiações que mais cresceram foram Avante, Patriota, Podemos e PSL, mas todas conquistaram números modestos de prefeituras: quem mais ganhou foi o Podemos, 102. O risco de embarcar no ilusionismo aqui é grande, como mostra o caso do PSL. De fato, ele triplicou o total de prefeitos, mas isso significou passar de 30 a 90, resultado fraco se lembrarmos que se trata do partido com a segunda maior bancada na Câmara (atrás apenas do PT) e que mais recebeu dinheiro para a campanha eleitoral – quase R$ 200 milhões.

Estratégia importa

Pode demorar, mas pensamento e posicionamento estratégico dão resultados. Os expressivos avanços do PP e do PSD devem ser creditados em parte ao apurado senso tático dos seus presidentes, Ciro NogueiraGilberto Kassab, que souberam fazer alianças que deram certo. Mas o maior destaque foi o DEM.

Quem “governará” mais habitantes

Ao alterar o nome em 2007, o partido iniciou um movimento de renovação interna que projetou uma nova geração de líderes (com destaque para Rodrigo MaiaDavi AlcolumbreACM NetoEduardo Paes) e criou as condições para vencer em quatro capitais de grande peso político: Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Florianópolis.

O esvaziamento dos polos

Se o PSL foi mal, melhor não pode ser dito sobre o PT. Havia uma expectativa de que o partido de Lula se recuperaria do baque sofrido em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff. Isso não ocorreu. O partido não apenas perdeu ainda mais prefeituras (71 a menos) como, pela primeira vez desde 1986, não terá nenhum prefeito de capital.

Para piorar, ao levar Guilherme Boulos à segunda rodada de votação na maior metrópole do país, o Psol ocupou com brilho um espaço tradicionalmente petista. Portanto, os partidos que se confrontaram no segundo turno das últimas eleições presidenciais ficaram na periferia do poder municipal, o que antecipa nítidos problemas para alcançar um bom desempenho nas eleições gerais de 2022, quando serão eleitos presidente da República, governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distritais.

A disputa na esquerda

A dobradinha PDT e PSB rendeu quatro capitais, todas no Nordeste – Recife, Fortaleza, Maceió e Aracaju. As duas siglas saem das eleições como as agremiações de esquerda/centro-esquerda mais enraizadas nos municípios. Mas ambas perderam prefeituras. O PDT elegeu 20 a menos. O PSB, 155, tornando-se assim o terceiro partido com mais perdas (atrás apenas de PSDB e MDB). De qualquer forma, a parceria mandou um sinal claro: é possível uma frente de esquerda que passe ao largo do PT. Embora não sejam excepcionais, os resultados são suficientes para sustentar o sonho de uma quarta candidatura do pedetista Ciro Gomes ao Palácio do Planalto.

Já o governador maranhense Flávio Dino sai do pleito menor do que entrou. Errou ao deixar que três candidatos aliados se digladiassem no primeiro turno, na esperança de que o apoio ao mais votado no segundo turno liquidaria a fatura, e perdeu a Prefeitura de São Luís. No conjunto do país, o seu partido – o PCdoB – contabiliza 35 municípios a menos. Com exceção do Psol, todos os partidos de esquerda e centro-esquerda amargaram prejuízos.O desafio da cláusula de barreira

Para a maioria das 29 legendas que elegeram prefeitos (outras cinco não elegeram ninguém), 2022 trará um desafio de bom tamanho – obter 2% dos votos válidos nacionalmente para a Câmara dos Deputados, com pelo menos 1% dos votos em no mínimo nove estados. Quem não atingir essa votação ficará fora da repartição dos recursos do fundo partidário e do tempo de propaganda na TV. Na prática, significará se inviabilizar como partido. Espera-se que essas e outras regras restritivas, como a proibição de coligações para eleições legislativas, levem a um processo de fusões e incorporações que tende a tornar o sistema partidário menos fragmentado. A elevada fragmentação é uma das marcas mais peculiares, e mais disfuncionais, do sistema político brasileiro.

PSDB mantém força

Embora tenha perdido capilaridade, o PSDB venceu em cidades importantes, com destaque para São Paulo; terá sob sua gestão mais de 34 milhões de habitantes; e estará à frente de municípios que respondem por R$ 1,4 trilhão do Produto Interno Bruto (PIB), isto é, perto de um quarto da soma das riquezas produzidas pelo país. Nesse aspecto, saiu-se melhor do que qualquer outra agremiação. Os resultados foram especialmente vistosos nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, onde o partido é liderado por João DoriaEduardo Leite, este recentemente apontado no Painel do Poder pelos líderes do Congresso como o melhor governador do país.

O prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas, é outra liderança emergente do PSDB. Sua vitória não pode ser atribuída a Doria, que é forte no interior do estado, mas enfrenta grande rejeição na capital. O seu nome foi cuidadosamente omitido da campanha de Bruno Covas.

O prefeito paulistano e o governador gaúcho, cujo estilo amigável contrasta bastante com a agressividade de Doria e da ala bolsonarista do partido, recuperam para o PSDB a imagem do partido aberto ao diálogo e à construção de alianças amplas.

Dito isso, vale lembrar que a população governada pelo PSDB nos últimos quatro anos era ainda maior. Os municípios conquistados pelos tucanos em 2016 abrangiam no total 48,4 milhões de habitantes – 14,4 milhões a mais que o alcançado agora. O que reforça o diagnóstico anterior. Sim, o partido amargou prejuízos, mas mantém estrutura partidária, visibilidade e recursos. Não pode ser desprezado nos cenários para 2022.

Atores relevantes do centro para a direita

Mapear PIB e população facilita a identificação de outros atores estratégicos. MDB, DEM, PSD e PP formam o quarteto que administrará os maiores contingentes populacionais e os maiores nacos do PIB brasileiro. Isso mostra como o centro e a centro-direita se posicionaram bem para a batalha eleitoral de 2022.

A vitória de Bruno Covas fez do PSDB o partido que mais "governará" brasileiros a partir de 2021 (Foto: campanha)

Os três últimos partidos, de novo, cresceram de modo mais expressivo em relação a 2016. Obtiveram um ganho em população de 7 milhões para o PP, 9,5 milhões para o PSD e 13,6 milhões para o DEM.

O DEM ficou ainda com o segundo maior naco do PIB nacional. No campo do centro e da direita, também merecem destaque Podemos, PL e Republicanos. Consolidam-se como partidos médios, com baixo risco de terem problemas com a cláusula de barreira.

Nesse campo político-ideológico, os partidos que mais perderam em população foram PTB (menos 3 milhões de habitantes) e MDB (menos 2,6 milhões).

Atores relevantes do centro para a esquerda

À esquerda, quem mais saiu perdendo foi o PSB (7,4 milhões de brasileiros a menos). Mas é o agrupamento que saiu como segunda maior força nesse campo político-ideológico, atrás somente do PDT. As duas agremiações, aliadas no Congresso e nas eleições municipais deste ano, governarão mais de 20 milhões de pessoas e um PIB municipal de nada desprezíveis R$ 466 bilhões.

Guilherme Boulos (Psol-SP) foi o destaque da esquerda nas eleições municipais - eleições 2020 (Foto: campanha)

Os dois números são três vezes maiores que os amealhados pelo PT. A rigor, temos aqui um fato de excepcional significado: o PT perdeu a hegemonia na esquerda, posição conquistada desde que venceu a batalha contra o PDT de Leonel Brizola na eleição presidencial de 1989.

O PT ficou fora do “top ten” tanto em população quanto em PIB. No primeiro caso, permaneceu do mesmo tamanho: ganhou pouco mais de 11 mil habitantes em comparação com 2016. Mas é outra legenda que não deve ser desdenhada. Nem que seja pelo fato de possuir os dois nomes de esquerda que melhor aparecem nas pesquisas eleitorais para presidente mais recentes: Lula (que será provavelmente inelegível) e Fernando Haddad (o melhor nome que o PT tem a oferecer no momento).

Somente o Psol ampliou a área de influência, tendo Guilhermes Boulos candidato a prefeito de São Paulo-SP, mesmo derrotado. Terá sob sua gestão 1,5 milhão a mais de brasileiros. Do centro para a esquerda todas as demais forças saíram perdendo em total de habitantes: PV, com 2,3 milhões a menos; Cidadania, PCdoB e PDT, empatados em 1,7 milhão; e Rede, com menos 1,2 milhão.

Reeleição, Bolsonaro e pandemia

Como revelou o Congresso em Foco, é nítida a relação entre os resultados eleitorais e a pandemia. Prefeitos que se mostraram gestores razoáveis da profunda crise sanitária que já matou mais de 175 mil brasileiros se reelegeram com facilidade ou na maioria das vezes conseguiram fazer o sucessor.

Esse foi o sinal mais preocupante que as eleições trouxeram para o presidente Jair Bolsonaro, que sempre minimizou os riscos representados pela covid-19 e desdenhou os ensinamentos da experiência internacional e da ciência. O seu negacionismo, assim como dos seus adeptos e dos gestores que o reproduziram em escala estadual ou municipal, foi claramente derrotado nas urnas, embora esse aspecto tenha sido até aqui bem menos ressaltado que a perda de popularidade do filho Carlos ou a derrota da esmagadora maioria dos candidatos apoiados pelo presidente da República.

De fato, é impressionante que o chefe do governo central tenha conseguido eleger apenas 16 dentre os 63 candidatos que apoiou explicitamente por meio de lives e outras manifestações públicas. E que apenas uma dessas vitórias tenha ocorrido em uma capital (Rio Branco). Algum recado certamente houve, mas é preciso levar em conta que o voto municipal quase sempre é decidido em razão de fatores locais e é prematuro tirar conclusões sobre os seus efeitos na corridade presidencial de 2020.

É fato que Bolsonaro volta a enfrentar forte crescimento da rejeição, sobretudo nas maiores cidades, e que superestimou a sua capacidade de transferir votos. Mas ele permanece neste momento como o jogador mais bem posicionado para a sucessão presidencial e sua eventual reeleição continuará dependendo, sobretudo, dele mesmo. O desempenho da economia, a gestão da pandemia e sua capacidade para manter e ampliar alianças serão as principais variáveis a observar nos próximos meses.

Fundamental é que, num ambiente pandêmico, os eleitores preferiram não correr riscos. Isso fica muito evidente na elevada taxa de reeleição. Com base nos dados do TSE, o jornal Folha de S.Paulo apurou que 62,9% dos prefeitos que disputaram um segundo mandato saíram vitoriosos. Em 2016, esse índice havia ficado em 46,4%.Termômetro

NA GELADEIRA – A polarização, que marcou a política brasileira nas últimas três décadas, foi trancada no armário pelos eleitores. O dualismo PT x alguém (sucessivamente, Collor, PSDB e Bolsonaro) desapareceu. Comprovam isso os resultados pífios atingidos por petistas e bolsonaristas e o aumento da importância de partidos de centro e de direita. Isso deixa mais aberto o jogo presidencial de 2020, que a esta altura é jogado em quatro campos: a) o bolsonarismo (apoiado por PP, PTB, Republicanos, PSC e parte do PSL e de outras legendas); b) o campo do PT e do Psol (de onde despontam como potenciais presidenciáveis Fernando Haddad, Jaques Wagner e Guilherme Boulos); c) o campo da centro-esquerda mais PCdoB (onde pontificam Ciro Gomes, Flávio Dino e o sonho ainda cultivado pelo PSB de uma candidatura de Joaquim Barbosa); e d) o agrupamento mais fortalecido pelos resultados eleitorais, o centro e a direita não bolsonarista, área em que sobram candidatos com algum potencial eleitoral (Luciano Huck, Sergio Moro, Eduardo Leite, Doria, Mandetta).

CHAPA QUENTE – As abstenções alcançaram níveis recordes nas eleições deste ano. No segundo turno, ficaram na média em 29,5%, chegando em algumas cidades – como Rio de Janeiro – a passar de 35%. Segundo o TSE, em 483 cidades a soma de abstenções e votos nulos e em branco superou a votação do candidato mais votado. O fenômeno era em parte esperado por causa da tendência de parte do eleitorado a não votar durante a pandemia.

Mas, não é de hoje que o Brasil, um país onde o voto é obrigatório, ostenta taxas muito elevadas de não voto, o que indica o desinteresse de muitas pessoas pelo processo eleitoral ou mesmo o desejo de protestar contra um sistema político em que elas não se sentem representadas. Embora seja recomendável analisar os números com prudência, eles merecem atenção, sobretudo da parte dos partidos e lideranças que saíram derrotados das urnas de novembro. Ou esses líderes e organizações repensam suas relações com a sociedade que se propõem a representar ou dificilmente terão grande futuro nos próximos embates eleitorais.

Quem mais ganhou vereadores (2016-2020)

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Categoria(s): Eleições 2020 / Política / Reportagem Especial
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