Por Marcos Ferreira
Precisei antecipar (Natália cuidou disso) meu retorno ao psiquiatra. Eu vinha até me esforçando, mentalizando coisas boas, entretanto não foi o suficiente. Minha cuca havia se complicado, saído do prumo. Pesadelos medonhos, noites maldormidas e dias de cansaço e desmotivação se tornaram rotina. Até Preciosa não brincava comigo como de costume.
A felina pressentiu o meu humor negativo. Fui logo para a clínica. Após uma longa consulta, o médico disse que eu estava em uma crise mista de depressão e bipolaridade. Isto é, na iminência de um novo surto.
Passei semanas borocoxô e uns três meses sem tirar a barba nem cortar o cabelo. Não queria sair de casa. A saudável peleja com a literatura entrou no fastio. Sentia-me nervoso, enraivecido, coração acelerado, sem vontade de falar com ninguém. Mantive o telefone fora de área durante vários dias. Hoje, contudo, estou num momento sereno. No entanto, por orientação médica, sigo fugindo, esquivando-me de qualquer coisa que possa me render inconvenientes, irritação, estresse.
Dr. Dirceu Lopes, como eu esperava, fez uso de sua poderosa bateria de psicofármacos. Voltou com alguns que eu já não tomava há tempos, como a olanzapina e o cloridrato de propranolol. Aumentou, entre outros, a dose do Rivotril, que passou para dois miligramas. Entre as dez e as onze horas, quando finalmente consigo me levantar, estando com o equilíbrio e a coordenação motora comprometidos, tomo um Levoide em jejum. Após o café engulo a losartana e o primeiro Depakote do dia. À noite, depois do jantar, a sobremesa é literalmente substancial e colorida.
Então decidi colocar essas drogas todas num pratinho azul em cima da mesa e fazer uma foto para ilustrar a minha própria crônica. Aí estão todos os comprimidos do período noturno: os grandes e azulados são o Depakote; as bandas longas e amarelas são a quetiapina; o branco com fenda é o famoso Rivotril; o outro branco (sem fenda) é a olanzapina; o amarelo grande com fenda é a lamotrigina. O último é o cloridato de propranolol, que aparece em uma bandinha branca.
Estou, portanto, sob controle. Tranquilo.
Bem! Não tenho o menor pudor de compartilhar com meus leitores essas turbulências psicológicas. O Blog Carlos Santos, se me permite, é o meu divã. Aqui me desnudo, me visto e me inspiro com a escrita dos demais colaboradores deste espaço eclético. Domingo passado, felizmente, tivemos a volta do François Silvestre. Há muito não dava o ar da sua graça. Torço que ele sempre retorne.
Trago à tona estes meus sufocos emocionais como fizeram em suas épocas, por exemplo, indivíduos como o filósofo Friedrich Nietzsche e o escritor Lima Barreto. Este último, assim como eu, também experimentou os dissabores de passar por um hospício. Agora (e de novo) é preciso renovar as forças, ficar o mais longe possível dessa moléstia silenciosa e traiçoeira.
Estou me autoanalisando. Tentarei colocar menos angústias e ocupações infrutíferas no meu juízo. Porque o tratamento medicamentoso não resolve tudo. Preciso exercitar, além da mente, este corpinho pré-histórico. Farei meditação, caminhadas, e continuarei cometendo os meus escritos.
Além disso, vou diminuir drasticamente a atenção que eu dava às redes sociais. E, ao menos por enquanto, só estarei disponível no telefone e no WhatsApp a partir das treze horas. Preciso de um tempinho para sair do nevoeiro dos medicamentos. Aí já terei tomado um banho, feito alguma coisa para comer e bebido um café puro. Ainda assim, por via das dúvidas, peço ao meu exército de quase dez leitores que continue com as orações para o bem-estar e proteção deste cronista.
Marcos Ferreira é escritor
Nota do BCS – Querido Marcos, esse divã é seu, mas também meu, nosso. O “Nosso Blog“, como definiu Naide Rosado, é compartilhado, diverso, necessariamente conflituoso, plural, feito por muitos; dialético. É, também, onde temos o privilégio de seus escritos e da participação ainda de tantos outros colaboradores, incluindo os webleitores e comentaristas.
Faz-lhe bem? Que bom! A nós, então…
No caso deste editor, a página nasceu como terapêutica às próprias neuras e segue sendo útil nesse fim.
Tamo junto.
Cuide-se.