Por Bruno Ernesto
Há quanto tempo você não envia um cartão postal pelos correios?
Quando viajo, tenho o costume de enviar um cartão postal para mim mesmo.
Numa dessas viagens, enviei vários cartões postais: os meus e outros para alguns familiares.
Apesar da pressa, escrevi com calma e escolhi os selos mais bonitos, aproveitando a ocasião para acrescentá-los à minha coleção em seguida. Todo filatelista entenderá.
Antes de depositá-los na caixa de coleta dos correios, me ocorreu de tirar algumas fotografias para registrar o momento. Inclusive, fotografei as próprias mensagens, algo que nunca fizera antes.
O motivo? Não sei. Sinceramente, não sei. Apenas me ocorreu naquele instante e fiz.
A impressão que tive instantes após depositá-los na caixa de coleta do serviço postal foi a de que não os veria novamente. Estando tão longe de casa, essa impressão me distanciou ainda mais. Foi como uma despedida.
Também não sei por qual motivo, instantes após, voltei e perguntei ao funcionário do serviço postal quanto tempo levaria para os cartões postais chegarem aos destinos, algo que também nunca fiz.
– Por volta de trinta dias.
Respondeu o funcionário com uma cara sisuda.
Passei o resto da viagem pensando nesses cartões postais, e aquela impressão de despedida apenas aumentava.
Passados quinze dias da postagem, resolvi ligar para minha mãe e saber se ela havia recebido o cartão postal que havia lhe enviado.
Esperei alguns minutos ao telefone ela ir conferir a caixa de correios. A resposta foi bem direta:
– Não chegou nada.
Tentando ser otimista, imaginei que ainda estava dentro do prazo previsto que haviam me informado no momento da postagem.
Dias após o fim da viagem e retornar para casa, passei a conduzir um ritual diário para conferir se os cartões postais haviam chegado.
Todo dia conferia na minha caixa postal e ligava para os destinatários para saber se os cartões postais haviam chegado. Nenhuma resposta foi positiva.
Após noventa dias da postagem, tive a certeza de que algo não estava correto.
Uma série de suposições passaram a me perseguir e a ansiedade tomou conta de mim, pois aqueles cartões postais eram bastante especiais e jamais ocorreu tal fato comigo.
Duas hipóteses se destacaram: ou os enderecei de forma errada ou todos foram extraviados, e apenas uma dessas hipóteses eu podia confirmar.
Peguei as fotografias dos cartões postais que havia feito e verifiquei que todos foram preenchidos corretamente. Fiquei intrigado, mas concluí que, certamente, foram extraviados.
Até hoje não sei o destino dos cartões postais. Entretanto, tenho a certeza de que quem os achar, verá que noticiam uma coisa boa.
No mundo dos dados criptografados, das mensagens eletrônicas instantâneas, confidenciais e da proteção legal da inviolabilidade da correspondência, o cartão postal persiste em ser aquele mensageiro de uma boa notícia e uma boa lembrança a todos que puserem as mãos nele.
Propositalmente, ele é formatado para que não haja sigilo para, quem sabe, despertar algum sentimento bom em que possa lê-lo. Ou seria uma forma de literatura universal? Uma carta aberta ao mundo?
Aliás, por acaso você já soube de alguém ou você mesmo já recebeu algum cartão postal com más notícias? Certamente não!
Quanto aos meus cartões postais, além de ter vivido intensamente o que nele escrevi, transmiti pessoalmente a mesma mensagem aos seus destinatários e já não importa se chegarão ao destino original, ainda que intempestivamente.
Se, de fato, um dia chegarem ao destino correto, despertarão ótimas lembranças, claro. Estando eu por aqui ou não.
Se não, um dia, quem sabe, virará um registro histórico para alguém e, talvez, desperte o mesmo sentimento que tive quando os escrevi.
Bruno Ernesto é professor, advogado e escritor