Por José Nilo
“Lembro-me, quando criança, da reação dos garotos ricos ao receberem brinquedos. Os seus olhos brilhavam e, imediatamente, passavam a desfrutar merecidamente da conquista, mais comumente, envoltos por individualidade e relativo período de felicidade. Em contraponto a essa realidade, recordo-me também dos amigos que tinham, apenas na vontade, algum tipo de passatempo. Ao imaginário desse último grupo, cabia a pretensão de concretizar o desejo de construir, a partir de um conceito, de uma ideia, um brinquedo palpável às suas ainda pequenas mãos. Para tanto, assumiam o papel de desenvolvedores, reaproveitando materiais já utilizados e descartados. Indiscutivelmente, o aprendizado, nesse caso, ficava mais consolidado e a conquista mais vibrante.”
Convido-os a espelhar essa experiência no cenário econômico atual do Rio Grande do Norte.
A exploração do petróleo em Mossoró no início dos anos 80 foi, de maneira análoga, o presente de rico para uma região economicamente carente que, com o passar do tempo, desembrulhou-o e deleitou-se dos resultados.Por 35 anos, gerou-se progresso e distribuiu-se renda por meio dos royalties. A pujança parecia interminável, até que, por aparente ironia, o presente de rico mudou de endereço e agora está sendo apreciado bem longe das terras costeiras e competentemente explorado por players capitaneados pela Petrobras, detentora inconteste de tecnologia e mão de obra especializada à altura dos desafios da exploração do pré-sal. Fantástico, vibrante, mas com alegria contida.
Alegria contida porque as regiões produtoras terrestres, que tanto contribuíram com o aprimoramento da curva de aprendizado por meio de inúmeros testes de equipamentos, materiais e capacitação de mão de obra, hoje, assistem de forma desolada a uma vertiginosa queda de produção motivada pelo descompasso entre o programa de desinvestimento da Estatal e a entrada das novas operadoras. Descompasso inesperado, tendo em vista o empenho, a dedicação dos potiguares e os bons resultados econômicos e sociais advindos dessa exploração.
Segundo a própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), conforme matéria publicada pelo Valor em 07 de março de 2019, a produção terrestre recuou 36% entre 2012 e 2018, para 115 mil barris diários. As perfurações em terra recuaram 73% entre 2015 e 2017, para 85 poços, bem na contramão do Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (REATE), do Ministério de Minas e Energia (MME), que previa a possibilidade real de mais que triplicar a produção de petróleo e gás natural onshore, revertendo o declínio da curva dos últimos anos.
É notório o clima de desânimo e de desalento na capital brasileira do onshore, Mossoró/RN, clima de que tudo ficou para trás, para o passado, como se agora não fosse o momento de se reconhecer a avidez dos produtores independentes, de união em torno de um novo conceito, de um ideal, de um propósito na preparação de um negócio renovado, capaz de impactar positivamente a geração de empregos em regiões castigadas pelas condições climáticas e baseado primordialmente naquele modelo de sonho de brinquedo de criança pobre citado inicialmente, no qual ela mesma busca construí-lo, vencendo as dificuldades e partilhando os resultados.
Alguns empresários locais afirmam: “é hora de pararmos de lamentar a decisão da Petrobras de repassar polos produtores sob sua concessão. É hora, sim, de lamentarmos a demora na concretização desse repasse, é hora de agradecermos a relevante contribuição dispensada pela maior operadora do Brasil à região, de nos prepararmos para receber as novas operadoras e esperarmos que elas recoloquem em operação em prazo urgente os mais de 2000 poços que se encontram parados, desestagnando a combalida economia local, restaurando empregos e, quiçá, fazendo-nos compreender que o petróleo também é nosso”.
José Nilo é empresário
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