Por Honório de Medeiros
Platão põe na boca de Codro, no Banquete: “Supondo acaso que Alcestes… ou Aquiles… ou o próprio Codro teriam buscado a morte – afim de salvar o reino para seus filhos – se não tivessem esperado conquistar a memória imortal de sua virtude, pelo qual, em verdade os recordamos?”
Recordo, então, de Ernst Becker, e seu A Negação da Morte.
Para Becker, o que há de fundamental no ser humano é o medo da morte. Esse medo, que está em cada um de nós desde que construímos nossas primeiras noções acerca de nós mesmos e do que nos cerca, é o motor que nos impulsiona e a fonte de nossa permanente angústia.
Agimos, em consequência, para reprimi-lo, construindo “mentiras vitais” que nos permitam a ilusão de permanência histórica e explicam, assim, a conduta do homem. Delas a mais importante é a ânsia por heroísmo, que em acontecendo, nos permitiria sobreviver na memória dos outros.
Creio, mas posso estar enganado, que Becker bebeu na fonte instigante que mina de Power: A New Social Analysis, de Sir Bertrand Russel, onde ele expõe a teoria de que os acontecimentos sociais somente são plenamente explicáveis a partir da ideia de Poder. Não algum Poder específico, como o Econômico, ou o Militar, ou mesmo o Político, mas o Poder com “P” maiúsculo, do qual todas os tipos são decorrentes, irredutíveis entre si, mas de igual importância para compreender a Sociedade.
A causa da existência do Poder, para Russel, seria a ânsia infinita de glória, inerente a todos os seres humanos. Se o homem não ansiasse por glória, não buscaria o Poder.
Infinita posto que o desejo humano não conhece limites.
Essa ânsia de glória dificulta a cooperação social, já que cada um de nós anseia por impor, aos outros, como ela deveria ocorrer e nos torna relutantes em admitir limitações ao nosso poder individual. Como isso não é possível, surgem a instabilidade e a violência. Mas não somente.
No Estadista Platão alude, em tradução direta do grego arcaico por Sir Karl Popper para A Sociedade Aberta e Seus Inimigos a uma “Idade de Ouro, a era de Cronos, uma era em que o próprio Cronos rege o mundo e em que os homens nascem da terra, (…) seguida pela nossa própria era, a de Zeus, um período em que o mundo é abandonado pelos deuses e só conta com seus próprios recursos, sendo, consequentemente, um tempo de acrescida corrupção.”
É de se recordar toda a obra de Talkien, principalmente o Silmallirion e sua cronologia do surgimento das raças que povoaram a Terra Média até que os homens a assumissem em definitivo, na Quarta Era. Teria a leitura de Platão influenciado a obra do erudito autor de O Senhor dos Anéis?
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
Guardando como tesouro.
Creio, sim, na influência de Platão, em “magnum opus” de Tolkien, O Senhor dos Anéis, bem como vivencio a era de Zeus e anseio pelo resgate.
Grato, Naide Rosado. Seus comentários inteligentes e oportunos são um um grande incentivo. Também anseio por esse resgate.