Por Aldaci de França
Diversos cantores que primam ou sempre dão prioridade a um trabalho bem elaborado, ou seja, músicas em que as letra se traduzem em mensagens que falam por nós, externando sentimentos, angústias, paixões, amor, romantismo, injustiça social e conflitos entre as nações, têm recorrido à poesia popular nordestina. Não faltam obras musicando poemas em formas diversas.
Esses cantores/compositores ou só intérpretes, garimpam o que há de melhor na produção poética contextualizado na poesia popular nordestina, para adornarem com músicas e melodias contagiantes, seus poemas irretorquíveis. Com isso, a poética nordestina ganha mais projeção e pode elevar bem mais o nome e imagem de seus verdadeiros autores. Isso tem ocorrido devido a repercussão positiva de suas obras, gravadas por nomes respeitados da nossa música.
Mas, nem tudo são flores. Existem exceções, ocorrem desrespeitos, alguns ‘esquecimentos’ inaceitáveis.
Algumas obras poéticas gravadas por talentosos intérpretes da música brasileira estão aí, fazendo sucesso, sendo eternizadas: “Triste Partida” de Patativa do Assaré, gravada por Luiz Gonzaga, O Rei do Baião; “Vaca estrela e Boi fubá” dentre outras também do filho do Assaré, musicadas por Fagner; “Difícil Demais” dos Nonatos’, é carro chefe de um dos Cds de Flávio José, e na voz do forrozeiro, essa composição tem sido muito bem ouvida pelos que se identificam com o romantismo e apreciam o gênero forró. Ele e outros discípulos do maior ícone da música brasileira, o pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga, exaltam essa poética nordestina.
Acrescente-se aqui, que Amado Edilson gravou do norte-rio-grandense de Ouro Branco, Sebastião Dias, recentemente falecido, a “súplica dos ecólogos”, que posteriormente Fagner fez ecoar com o título modificado para “Canção da Floresta”. Essa mudança de título ocorreu em comum acordo entre o autor e o cearense de Orós, o que não aconteceu com Amado Edilson, pois, esse teve que reconhecer a autoria do poema musicado de Sebastião Dias e consequentemente pagar um valor em dinheiro ao autor referente ao direito autoral.
O poema em decassílabos “Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor,” com autoria de Otacílio Batista (in memoriam), poeta repentista e escritor, tem a coautoria do também saudoso poeta repentista José Gonçalves. Esse introduziu a melodia diferenciada ao trabalho, deixando-a pronta à gravação. No entanto, Zé Ramalho lança mão da referida composição e ‘autoriza’ Amelhinha a gravá-la, sem a permissão dos legítimos autores. Essa situação terminou provocando judicialização, tendo o indesejável imbróglio sido resolvido em acordo proposto no campo judicial.
Alceu Valença, uma das expressões da nossa música, também se utiliza da mesma prática, cantando modalidades do gênero coco de embolada, em suas apresentações, deixando transparecer que essas modalidades são de domínio público, mas sem apresentar provas contundentes para tal, enquanto os coquistas (emboladores coco) insistem na tese de que são os legítimos autores das referidas obras.
E assim, a “banda vai passando” e muitos se dando bem nas costas dos magistrais artistas e poetas populares, que produzem pérolas transformadas em músicas de melhor qualidade.
Apesar do exposto, vemos como positiva para os nossos poetas e compositores populares, a boa repercussão dos seus trabalhos gravados pelas grandes referências da música brasileira. O que se faz necessário, e com urgência, é que esses que estão em maiores patamares artísticos e, usufruem do talento alheio, venham a fazer o certo e reto – por dever legal e por reconhecimento moral.
Por favor, respeitem os autores.
Aldaci de França é poeta repentista, escritor, cordelista e coordenador do Festival de Repentista do Nordeste no Mossoró Cidade Junina (MCJ)
Parabéns Amigo Aldaci, pelo brilhante artigo, com temática instigante que há muito estava a reclamar um porta-voz para efetivar um urgente
chamamento dos usurpadores/ plagiadores á responsabilidade, que insistem na danosa e
detestável prática do plágio. Me vem á
lembrança uma célebre frase de autoria do Dr-Poeta Apolônio Cardoso, que resumiu consagrada frase do Rui Barbosa em simples referencial : ” De ver burros mandando em homens de inteligência, às vezes fico a pensar que burrice é uma ciência “. O Dr. Apolônio também é autor de famosa canção intitulada “Flor de Mocambo”, cantada e louvada em Prosa e Verso. Saudade.. .
Amigo Aldaci. Vc abordou um assunto com esmero, maestria e com conhecimento de causa. Há muito tempo que a classe de valorosos poetas estava se ressentido de uma abordagem tão polêmica e tão oportuna para colocar as coisas no seu devido lugar. O que se observa, são muitos vivaldinos se apresentando como o pai da criança, em detrimento dos verdadeiros autores de verdadeiras pérolas, na nossa literatura de cordel e notadamente de repentinas renomados, mas porém esquecidos. Essa é a verdade nua e crua que merece ser abordada, como foi, por esse grande poeta Aldaci França. Meus efusivos parabéns.
Obg meu querido amigo pela leitura e reflexão dos nossos escritos. Cordial abraço!!