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domingo - 29/09/2024 - 07:38h

Pôr do Sol rosa e a questão ambiental

Por Wendson Medeiros

Foto ilustrativa da Freepik

Foto ilustrativa da Freepik

Depois de Lajes, por volta das 17h15, olho para o retrovisor e vejo um sol de cor rosa, bem definida, diferente de um dia normal. Estou dirigindo, não posso parar para fotografar e deixar vivo esse registro, por mais distante que ficasse a partir da lente de um celular. Peço aos meninos que olhem para trás, para ver o fenômeno. Para que possam apreciar e, quem sabe um dia, lembrar daquele cenário.

Antes de chegar em Lajes, porém, venho achando estranho a cor do céu. Cinza, muito cinzento. De longe, o Pico do Cabugi, imponente e sempre bem visível ao longo de qualquer dia ensolarado, surge meio ofuscado por uma espécie de nevoeiro, mas em um dia sem nuvens e sem chuva. Há algo diferente no ar. E essa tonalidade no céu já vinha se apresentando, também, em Mossoró,  por volta do meio dia, ao longo da semana, quando geralmente saio da Universidade do Estado do RN (UERN) para o almoço e o céu é sempre contemplado.

Ao chegar em Natal, procuro me informar sobre tudo. Leio as notícias e encontro um texto de colegas pesquisadores, replicando o Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do Mapbiomas que identifica que o RN foi um dos estados que mais desmatou no Nordeste, com cerca de 1359 hectares somente neste ano. A expansão dos empreendimentos de energia renovável (eólica e fotovoltaica) é tida como uma das responsáveis por esta degradação.

A REGIÃO CENTRAL, onde está Lajes e o Pico do Cabugi, a Serra do Feiticeiro, geopatrimônios do nosso estado e que ainda preservam a história geológica da Terra, se encontram nesta porção do estado do RN. Ventos fortes – sobretudo essa semana, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) publicou alertas de tempestades – solo exposto devido ao desmatamento acelerado e em grandes áreas, pode ser uma das justificativas para aquele cenário cinzento: muita poeira em suspensão na atmosfera dificultando a visibilidade limpa dessa paisagem.

Pouco mais tarde, vejo as noticias sobre as queimadas no Centro Oeste e na Amazônia, que tem se tornado uma constante ao longo de todo esse mês e do ano. São milhares de focos de queimadas lançando gases estufa e material particulado na atmosfera que, transportados pelas correntes de ar, alcançam lugares distantes de sua origem.

O efeito cumulativo e sinérgico destas duas ações (desmatamento e queimadas) combinado, ainda, com a dinâmica atmosférica, além de poder explicar o céu cinzento, pode também explicar o por de sol rosa vivenciado a partir daquela localização. E isso é apenas o que se vê de alguns dos muitos impactos ambientais oriundos de atividades que parecem não estar tão em equilíbrio com o meio ambiente. E o que não se vê, o que deverá causar?

Em tempos de emergência climática e de ocorrências cada vez mais frequentes de desastres ambientais, percebe-se cada vez mais a urgência em se considerar a dinâmica da natureza nos processos de desenvolvimento dos lugares, caso queiramos garantir a sustentabilidade do planeta Terra, nosso único lar, e, por consequência, da vida como a conhecemos hoje, inclusive a humana.

Wendson Medeiros é Geógrafo e Professor da Uern

*Texto escrito em 23 de agosto de 2024

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Categoria(s): Crônica / Política

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