Com o intuito de ganhar ainda mais prestÃgio com a czarina Catarina II, que o tinha como “favorito”, o general Grigori Potemkin resolve “inovar”. Ele apressa retoques estéticos em habitações numa aldeia ao sul da Rússia, para a passagem da comitiva da czarina (equivalente a rainha).
O plano de Potemkin, era ludribriar Catarina com a maquiagem. Assim, pensava, passaria a idéia de pleno êxito da ocupação do lugar pelo império, sob seu comando.
À história, o episódio terminou criando um conceito de falsidade, embuste: a expressão “Aldeia de Potemkin” significa isso.
Recorro ao episódio porque sou alertado por algo parecido, mas adaptado à realidade contemporânea mossoroense.
Na comunidade rural de Córrego Mossoró, uma creche foi inaugurada com pompas pelo governo municipal. Depois da festa, o prédio foi fechado e tomado pelo mato e a depreciação fÃsica, sem nada em seu interior, sobretudo crianças.
Há pouco tempo, mobilização dos próprios comunitários resolveu invadir o imóvel, puxar energia de uma casa próxima e utilizar o lugar na educação de idosos. Diferente do que ocorreu na Rússia no século XVIII, a realidade de Mossoró termina fazendo o povo de vÃtima e não a “czarina.”
O caso do Córrego Mossoró não é uma situação isolada. Inaugurações de fachada, equipamentos públicos que são entregues e não funcionam, terminam se tornando algo comum e em série numerosa.
A nova versão da Aldeia de Potemkin em pleno século XXI, no sertão nordestino potiguar, consegue ser mais perniciosa do que o cenário das estepes russas há mais de 230 anos. A culta e operosa Catarina foi traÃda por homem de sua confiança, mas sem consequências maiores ao próprio reinado.
Com Mossoró, o quadro é mais delicado. Os efeitos do faz-de-conta respingam na vida do próprio cidadão, preferencialmente os que mais precisam do governo, os humildes.
Somos uma aldeia à céu aberto, vÃtima de um Potemkin bem menos engenhoso e claramente incapaz.
O preço é alto.
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