• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
quinta-feira - 12/11/2015 - 05:36h
Uma reflexão

Queda para o alto

Darcy: aula para sempre (Foto: reprodução)

Ao testemunhar o que vi nessa quarta-feira (11) na política, de Mossoró, me reencontro com o professor Darcy Ribeiro. Gênio. Um brasileiro raro.

Com câncer terminal no Sara Kubitschek – em Brasília, ele fez um último pedido à médica amiga: “Doutora, eu quero dar uma aula.” Queria uma criança para ouvi-lo.

Ela apresentou-o a um filho de 9 anos. Darcy, empolgado, sem rodeios, lhe falou sobre o Brasil. Com paixão.

Morreu pouco depois.

Uma reflexão sua é minha também:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida.

Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

Tentei salvar os índios, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.

Mas os fracassos são minhas vitórias.

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

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Categoria(s): Opinião da Coluna do Herzog

Comentários

  1. Joel Borba Filho diz:

    Não poderia ser mais feliz e oportuna a reflexão incorporada pelo blogueiro.

  2. Iris Maia diz:

    Bela reflexão.
    Às vezes ficamos bem tristes quando tentamos ajudar alguém com argumentos, orientações ou observações e essas são ingnoradas e até criticadas, mas mais triste ainda é vermos essas próprias pessoas obtendo resultados negativos diante da vida exatamente porque não compreenderam a nossa intenção.

  3. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    No Brasil de tantas e tantas facetas e nuances de subserviências de toda ordem aos interesses alienígenas, temos uma espécie dita de profissional chamada de brasilianistas, que nada mais são, gringos mercenários, e, muito bem pagos para escrever e nos dizer sob a ótica dos dos forasteiros, quem somos, o que podemos e o que queremos.

    Além de Aurélio Buarque de Holanda, Mário de Andrade, Paulo Freire, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Marilena Chauí, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes, Luiz Carlos Prestes e Leonel de Moura Brizola;

    Dentre tantos outros raros brasileiros em sua vida e obra, Darci Ribeiro nos deixou incomensurável lição de conhecimento de quem somos, do que podemos e de como devemos fazê-lo para conseguir continuar sendo brasileiros e não mera caricatura de um povo e nação.

    Em sua O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil, Darcy Ribeiro empenhou a fundo todas as suas forças, seu talento e seu conhecimento para entender a nós mesmos, fazendo da antropologia, uma poética transmutada, nacionalista, séria e profunda forma de estudar o Brasil do índio, do branco e do negro em suas origens multifacetadas e contradições.

    Para que possamos contribuir com o nosso destino de nação e o empoderamento do pais, como estado e nação, necessário se faz conhecer um mínimo que seja da nossa origem e história. A par disso, peço Vênia Caro jornalista, para transcrever parte de lúcida observação do professor Darcy Ribeiro, acerca do nosso histórico e atávico processo de dependência, Vejamos:

    Mais tarde, sempre previdente, o Vaticano dispõe na bula Inter Coetera, de 4 de maio de 1493 –
    quase nas mesmas palavras que a bula anterior -, que também o Novo Mundo era legitimamente
    possuível por Espanha e Portugal, e seus povos também escravizáveis por quem os subjugasse:
    “[…] por nossa mera liberalidade, e de ciência certa, e em razão da plenitude do poder
    Apostólico, todas ilhas e terras firmes achadas e por achar, descobertas ou por descobrir, para o
    Ocidente e o Meio-Dia, fazendo e construindo uma linha desde o pólo Ártico […] quer sejam terras
    firmes e ilhas encontradas e por encontrar em direção à Índia, ou em direção a qualquer outra
    parte, a qual linha diste de qualquer das ilhas que vulgarmente são chamadas dos Açores e Cabo
    Verde cem léguas para o Ocidente e o Meio-Dia […] A Vós e a vossos herdeiros e sucessores (reis
    de Castela e Leão) pela autoridade do Deus onipotente a nós concedida em S. Pedro, assim
    como do vicariado de Jesus Cristo, a qual exercemos na terra, para sempre, no teor das
    presentes, vô-las doamos, concedemos e entregamos com todos os seus domínios, cidades,
    fortalezas, lugares, vilas, direitos, jurisdições e todas as pertenças. E a vós e aos sobreditos
    herdeiros e sucessores, vos fazemos, constituímos e deputamos por senhores das mesmas, com
    pleno, livre e onímodo poder, autoridade e jurisdição. […] sujeitar a vós, por favor da Divina
    Clemência, as terras firmes e ilhas sobreditas, e os moradores e habitantes delas, e reduzi-los à
    Fé Católica […]”
    É preciso reconhecer que essa é, ainda hoje, a lei vigente no Brasil. É o fundamento sobre o
    qual se dispõe, por exceção, a dação de um pequeno território a um povo indígena, ou, também
    por exceção, a declaração episódica e temporária de que a gente de tal tribo não era
    escravizável. É o fundamento, ainda, do direito do latifundiário à terra que lhe foi uma vez
    outorgada, bem como o comando de todo o povo como uma mera força de trabalho, sem destino
    próprio, cuja função era servir ao senhorio oriundo daquelas bulas.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Esta reflexão é de todos os que se dedicam de corpo e alma ao bem comum.
    Darcy Ribeiro viverá para sempre na memória do povo brasileiro.
    Eu fico a imaginar como Darcy Ribeiro se sentiria ao ver crianças calçando sandálias com tiras amarradas com arame, vestindo calças puídas e camisas remendadas.
    Eu fico a imaginar Darcy Ribeiro vendo crianças comendo farinha, apelidada de paçoca, e bebendo água não filtrada como refeição do MAIS EDUCAÇÃO, como eu vi o ano passado.
    Eu fico a imaginar Darcy Ribeiro numa reunião da secretária de Educação, Ieda Chaves, com pais de alunos, a ouvir que os tênis não seriam distribuídos porque os pés das crianças cresciam.
    Esta declaração da secretária de Educação, Ieda Chaves, foi o maior deboche que eu já ouvi na minha vida. E isto partir logo dela, que minutos antes declarou que tinha sido criada por um pai analfabeto e à luz de lamparina.
    Não vou nem imaginar o Darcy Ribeiro ouvindo a Ieda Chaves dizendo nas rádios que FALTA MERENDA ESCOLAR PORQUE FALTAM MERENDEIRAS.
    Feliz o país que pode se orgulhar de ter entre os seus filhos um Darcy Ribeiro. Digo ter porque Darcy Ribeiro jamais morrerá. Estará sempre onde estiver uma criança precisando de apoio para se desenvolver.
    ///
    SAL GROSSO VAI PRESCREVER! COMO DIZER AOS NOSSOS FILHOS QUE O CRIME NÃO COMPENSA?
    HENRIQUE ALVES VAI CEDER LEGENDA EM MOSSORÓ A CONDENADO POR PRÁTICA DE IMPROBIDADE? VAI?
    A CORRUPÇÃO MATA MIL VEZES MAIS DO QUE O CÂNCER.

  5. Assis Nascimento diz:

    Parabéns!
    Nada mais oportuno. Caiu como uma luva!

  6. naide maria rosado de souza diz:

    Diante da excelência dos comentários, fico calada…nada mais a dizer, só lamentar a falta de Darcy Ribeiro.

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