Por Ronaldo Cunha Lima
Quero morrer de manhã.
Janelas abertas.
Contemplando o sol e a vida.
Quero morrer de manhã.
Deve ser bonito um ocaso numa aurora.
Não quero camas brancas, cadeiras brancas
que fazem pensar que a gente vai morrer.
Quero morrer de manhã.
Os galos cantando.
O sol na vidraça,
e a vida passando lá fora.
Quero morrer de manhã.
A interminável noite virá depois
claro-escuro, de madrugada,
quero morrer de manhã.
Deve ser bonito um ocaso numa aurora
haverá sol, haverá luz, haverá vida
e ninguém há de pensar que eu vou morrer.
Ronaldo Cunha Lima (1936-2012) Nascido em Guarabira-PB, ele foi vereador e prefeito de Campina Grande-PB, deputado, senador e governador, além de advogado, poeta e escritor
*O autor faleceu com câncer no pulmão, numa manhã de 7 de julho de 2012.
Emocionei!
Um abraçaço
Lindo demais! Lembrei do poeta no programa sem Limites, da extinta Rede Manchete, onde em dez programas respondeu, em versos, sobre a vida e a obra de Augusto dos Anjos! Infelizmente também ficou marcado pelo episódio que ficou conhecido como Tragédia do Guliver, quando atirou em Tarcísio Burity, que se alimentava no restaurante. Não o matou, mas o ataque deixou sequelas que levaram Burity a morte tempos depois. Grande homem e político! Eu também quero morrer de manhã!
Não sei como morreu, mas passará a eternidade como o homem que tentou matar outro, por motivos banais, e passou o resto da vida fugindo da justiça, através de chicanas jurídicas que só servem aos políticos poderosos e demagogos, como ele o foi.