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domingo - 15/04/2012 - 14:52h

Rafael Negreiros – Inesquecível

Por Paulo Negreiros

Dezoito anos sem a presença marcante, sensata, as vezes irreverente e sempre pronto a fazer  um favor, um obséquio qualquer. Era o homem permanentemente solidário, nunca pecou por omissão ou premeditação de tirar o corpo de fora. Sempre atento aos amigos, sentia na sua própria pele quando os mesmos sofriam tanto da dor de quaisquer espécie  à falta de numerário nos negócios, lá chegava ‘Seu’ Rafael. Ia direto ao assunto, não tinha rodeios nem tergiversava.

Tinha-se que se resolver aquele problema que também era seu.

Dona Elizabeth, minha mãe, sua companheira por mais de cinqüenta anos, mareja os olhos ao falar sobre seu marido, primo, amigo e pai dos seus seis filhos, e pensa como seria hoje se Rafael estivesse por aqui…

Era um eterno apaixonado pela vida, dormia pouco, insônia crônica e terrível, que o acompanhou por toda  existencia, o que o tornou um intelectual e erudito, pois lia muito e era o meu  enfant terrible, com o bate papo com os meus professores na Faculdade de Medicina.

Sabia de tudo, de Cervantes a Goethe, Vesalius a Pasteur, da medicina hipocrática à modernidade dos dias atuais. E os mestres ficavam a me perguntar:

– Quando seu pai vem de novo por aqui com os seus conhecimentos? Ao que Eu respondia: Vão lendo pra não me fazer  vergonha como professores…

Escrevia muito e de tudo. Soubemos, eu e Armando (irmão e também médico), do surgimento de uma nova doença que matava homossexuais masculinos na Califórnia (EUA), que se manifestava como sarcoma de Kaposi. Fomos pesquisar e anos depois surgia a pandemia com o nome de SIDA.

Viveu, viveu e viveu, fez tudo que nos é permitido e teve no pai e na mãe uma grande lição de vida; nos irmãos os amigos mais próximos; nos pais de dona Elizabeth, seus tios, a amizade serena e respeitosa; em dona Elizabeth e em seus seis filhos a paixão desenfreada.

Era o MEGAPAI, não deixava faltar nada, era sempre o ombro amigo, beijo e abraço sinceros; nos netos a sua continuidade pelos quais era apaixonado.

Gostava de dizer que tudo voltava ao carbono. Foi-se, extinguiu-se a matéria, faz parte da poeira cósmica… Saudades meu pai, muitas saudades.

Até a vista…

Paulo Negreiros é médico

* O homenageado neste artigo nasceu em 15 de outubro de 1924, filho de Manoel Fernandes de Negreiros e Maria Adelaide Gurjão Fernandes de Negreiros. Faleceu em 4 abril de 1994. Há algum tempo vinha com problemas cardiacos que não respondia a medicação, morreu na sua cama, enquanto dormia em casa aos 69 completos.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. xavier jr. diz:

    Seu Rafael continua vivo na família exemplar que ele deixou…

  2. gilvan rodrigues leite diz:

    Tive algumas oportunidades de conversar com Rafael Negreiros, quando de minhas idas na sua firma Bruno Fernandes, resolver assuntos da AGROTEC. Suas tiradas lógicas, seu raciocínio rápido, seu conhecimento sobre o Segundo Conflito Mundial, tudo me encantava. Conversar com ele era receber uma aula regada a erudição e beleza. Quanta falta faz a Mossoró.

  3. Marcos Araújo diz:

    Embora seja uma colocação banalizada, Rafael Negreiros “era um homem à frente do seu tempo”. Não só pela intelectualidade, erudição e genialidade. Mais, muito mais, pelas suas ações generosas. Apesar de agnóstico, ou de indiferente à manifestação de devoção ao Cristo de Dona Elisabete, sua esposa, fazia mais caridade e tinha mais ações de desprendimento do que muitos dos chamados “cristãos”. Se descrente, alimentava o seu espírito com a alegria do conhecimento. Quando todos os comerciantes se satisfaziam em ganhar dinheiro, ele pensava em adquirir conhecimento. Convivi muito pouco com ele, mas o suficiente para desenvolver uma admiração pessoal similar ao singelo aprendiz que devota ao sábio mestre uma veneração absoluta. Poucos sabiam de tudo, como ele. Fui testemunha de sua generosidade em vários atos: primeiro quando ajudou a criar meu irmão Carlos, concedendo tempo, atenção e formação moral. Depois, em vários episódios em relação a pessoas que lhe deviam contas, ora declarando-as quitadas sem nada receber, ora vendendo de novo, quando a conta anterior sequer tinha sido paga.

    Num mundo mediocrizado como esse, Rafael faz muita, muita falta!
    Ave, Rafael Negreiros! Os sobreviventes, carentes de sua falta, lhe saúdam!
    Um abração a Paulo e a Armando Negreiros, sucessores da verve e da intelectualidade do pai.

  4. Ivana Linhares diz:

    Sou uma eterna fã de Seu Rafael Negreiros, grande amigo do meu pai.

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