Por Marcos Ferreira
Hoje eu gostaria de dizer, apesar do esforço do nosso imberbe prefeito, que nossa província vai de mal a pior. Claro que o rapaz trabalha incansavelmente (o senhor prefeito), contudo é muita coisa errada para um só cristão consertar. Meus conterrâneos, juntamente com aqueles que esta cidade adotou e que aqui fazem desordem e fortuna, embora sejam minoria, transformaram nossa poética terra do sal e petróleo numa casa de recurso, num randevu onde muitos se relacionam promiscuamente.
Lamento trazer este assunto nevrálgico para este domingo azul e ensolarado.
As ruas continuam repletas de buracos. Os paralelepípedos do Conjunto Walfredo Gurgel, onde resido, por exemplo, estão na maior parte revirados. O Executivo passou o asfalto em uma determinada rua do bairro (não sei dizer qual foi o critério), porém o resto é uma buraqueira lunar, exibindo crateras do tamanho da Rússia, do Canadá ou China. Os governos pretéritos, é bom que se diga, deixaram uma batata quente nas mãos do atual prefeito, um abacaxi nada fácil para descascar.
Então, unindo nossa histórica desordem administrativa à vocação depredatória do povo (tanto os necessitados quantos os novos-ricos) esta comuna sofre nas mãos e sob os pés dos seus insensíveis habitantes, salvo exceções. O nosso rio, de tão massacrado pela poluição, é outra personagem desta aldeia que agoniza ante a inação dos políticos aboletados na Câmara Municipal. Até o novo prefeito, embora bem-intencionado, parece fazer vistas grossas a calamidade do velho rio. O município possui um aeroporto quase inoperante, utilizado bem mais por corujas e urubus.
Como diria Vinícius de Moraes, os bares estão cheios de homens vazios. As noites deste cafundó perderam a poética do histórico Cine Pax e entraram em cena os desfiles de carrões disputando estacionamento nos arredores de casas de pasto e no Partagem Shopping.
Somos, volto a frisar que há exceções, uma população que não se interessa por livros de fato literários. Até porque só restou em nosso meio cultural uma única e modesta livraria, instalada justamente no tal shopping.
Rapazes e moças de cabelos estilizados, a exemplo de gente de meia-idade, todos muito prafrentex, exibem as melhores roupas e assessórios nos bares e restaurantes mais badalados. À volta desses endereços está a tropa de flanelinhas auxiliando os motoristas a estacionarem seus possantes. Fico a imaginar o que seria de certos condutores não fosse o imprescindível papel dos guardadores de carros, todos na expectativa de descolar um trocadinho quando seus “clientes” decidirem voltar para suas residências absolutamente bem diversas daquelas dos referidos flanelinhas.
Nossa terra, como falei, já foi mais poética, prosaica, pitoresca. Agora, à maneira de grandes municípios, está semelhante a uma espécie de porco-espinho de alvenaria, isto a julgar pelo constante aparecimento de arranha-céus que brotam do chão perfurando nuvens e reduzindo a população de árvores, de edifícios históricos, tornando as fotografias do mestre Manuelito em retalhos sentimentais de um tempo oculto sob concreto armado.
Saudades daquele tempo que sequer vivenciei.
Mas nem tudo nesta crônica melancólica são choro e ranger de dentes. Também enxergo prosperidade. Há muita coisa positiva em meio ao capitalismo selvagem. Apesar das rasteiras e pancadas que já levei, amo este berço natal. Ainda tenho esperança de que os nossos políticos, entre os quais se encontram indivíduos de boa índole e comprometidos com o bem desta Macondo do semiárido, façam jus aos votos que receberam e trabalhem por um progresso igualitário para todos. A começar, quem sabe, tomando medidas efetivas para que salvemos o nosso padecido rio.
Espero verdadeiramente que esta terra encontre o seu ideal. Como na canção do Chico Buarque. Não podemos restaurar o passado, impiedosamente destruído, todavia é possível construir um futuro menos insensível e solidário.
Que plantemos outras árvores para compensar tantas que ceifamos em benefício do ferro e do concreto. Este município, cujo nome faço questão de omitir, todo mundo conhece e sabe que não estou aqui contando nenhuma lorota. Ao menos presumo que não.
Marcos Ferreira é escritor
Através de uma escrita poética, Marcos nos lembra que as mudanças existem, estão em curso, continuam. Atentemos que nem sempre mudança ou evolução, significa melhorias, mas é impossível fugir dessas questões. Que haja, Independente de hoje ou do amanhã, um olhar e agir mais sensível numa cidade que se propõe e se intitula Capital da Cultura, o título temos, mas nós falta a vivência, que é o principal.
Que bom que em meio ao caos você aprecie o domingo azul ensolarado! Perceber a agressão ao meio ambiente e a falta de sensibilidade dos que foram eleitos para melhorar a vida das populações é, realmente, revoltante! Cada um procurando se dar bem e o povo é apenas um detalhe, como diria Chico Anysio. Contudo existe um sentimento chamado fé que nos leva a acreditar em dias melhores! Acredito que estamos num tempo de renovação de esperança! Se deixarem! Temo pela vida do nosso presidente: está incomodando muita gente! Não sou muito de falar em política mas acredito que viveremos um tempo novo! Sempre haverá gente que não está nem aí pro Povo; sem o mínimo de empatia e que só olham pro próprio umbigo! Essas pessoas se auto destruirão! Quando, eu não sei!
Concordo com o nosso Escritor, hoje por acaso me deu vontade de dá um ” passeio” na cidade no centro.
Veio-me várias lembranças, entre elas duas: a banana spit de uma sorveteira que existia na esquina contra .lateral a o Cine Pax e do Restante Amuarama.
Já o Cine Pax tem uma estória interessante contada pelo Poeta Antônio Francisco.
Reza a lendaque o Sr.Xixico vivia apurinanhando o empresário de Mossoró, dizendo que Mossoró não tinha capacidade de fazer um cinema igual ao que tinha em Natal, o Nordestao é o Rex. Pois bem, então ele contratou um arquiteto francês da França e pediu que projetasse uma estrutura com tudo o possível e que superasseos da capital .
Terminação a obra já com tudo instalado veio a pergunta, qual o nome do Cinema?
De pronto ele respondeu: Pax!
Porque? Perguntaram.
Disse ele: Para Aperiar Xixico!
Uma boa tarde e um abraçaço extensivo a Natália
Querido Marcos,
Sempre saudosas e embuídas de lembranças marcantes as suas maravilhosas crônicas!
Lê-las nos ajudam a relembrar tempos idos que marcaram o nosso cotidiano, mas que ficaram apenas nas nossas recordações sentimentais.
Tudo muda com a evolução e com o passar dos anos, ficando somente na nossa memória fotográfica o que nos marcou, de bom ou de ruim. É o curso natural da vida!
Abraço carinhoso!
A saudade é própria dos sentimentais, dos poetas, dos simples de coração… Talvez um dia esta terra venha cumprir seu ideal…
Abraços!
rua chico linhares rua principal do INOCOOP que dar acesso a outros bairros – trafega onibus cheia de buraqueira – nao recebeu asfalto nao se sabe porque motivos tecnicos nao foi incuida e outras ruas foi asfaltada.
Acredito já ter vivido o suficiente para atestar que muitas das coisas ditas aqui, sim, são registros de uma Mossoró diferente. Dá, sim, saudade de algumas coisas, principalmente daquelas que se dispensavam a violência, a corrupção desenfreada e o abandono do patrimônio público. Entretanto, não se deve colocar nas costas de quem está à frente, os desmandos do passado; porém, não devemos chegar os olhos para o que não está certo e, principalmente, denunciar o que está sendo feito de errado (se é que tem alguma coisa sendo feita de errado). No mais, uma excelente crônica, como sempre.