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quarta-feira - 17/06/2009 - 10:24h

Revoada de talentos asfixia mais ainda jornais

A imprensa escrita de Mossoró passa por um momento delicado. Além da queda livre nas vendas e o aparelhamento político, há algo que pode ser ainda mais grave: muitos dos seus melhores quadros migram para outros meios.

O que seria impensável há alguns anos passou a ser comum: jornalistas, diagramadores etc. saem de jornais para atuação em agências de publicidade, assessorias e serviços autônomos.

Não adianta culpar blogs ou a Internet em si pelo fenômeno. Ele na verdade é a reprodução do que já ocorreu em outros centros, como a própria Natal desde a chegada da TV, a profissionalização das agências de publicidade e propaganda, além da explosão de vagas em assessorias de comunicação.

Jornal virou bico. Segundo emprego, porta para grandes negócios e pequenas gorjetas. Ou nem isso.

Baixa remuneração, jornadas de trabalho exaustivas e atrasos salariais são os principais problemas na formação desse cenário. E é difícil que melhore a curto e médio prazos.

Na prática, existem fatores endógenos e exógenos concorrendo para o ocaso e providências saneadoras não podem demorar.

Um exemplo desse desinteresse, é que há vários dias o jornal O Mossoroense anuncia desejo de reforçar sua redação e não lista interessados.

Noutra face desse quadro, há uma enxurrada de estudantes de comunicação ávidos por oportunidade de primeiros passos na mídia. Contudo o glamour da TV é que atrai a maioria.

No imaginário de boa parte desses jovens, jornalismo tem a cara de William Bonner e Fátima Bernardes, da Rede Globo de televisão. Conscientes ou não querem ser celebridade, talvez jornalistas. Não sabem da centrífuga em que estão se metendo a preço de banana.

O apetite pelo aprender que levou minha geração – e tantas outras – para as redações das rádios Difusora, Tapuyo, Rural e Libertadora, além dos jornais O Mossoroense e Gazeta do Oeste, é substituído pelo desapontamento diante da realidade contemporânea. Falta o briho nos olhos, escasseia o idealismo.

As condições de trabalho hoje são infinitamente melhores, mas isso não resultou em ganho à vida pessoal da maior parte dos profissionais.

A faculdade dá métodos, mostra caminhos e oferece base, mas é a redação em longo curso que molda o comunicador social. Isso leva realmente muito tempo e o leitor – diante de tantas outras opções de mídia – não revela paciência para aguardar essa evolução.

O fim do jornal está próximo?

Não digo isso.

Ele precisa se ajustar, otimizar custos e fazer a avaliação correta quanto ao seu papel (como instituição) no convívio com o leitor, do contrário será apenas um morto e vivo. Um zumbi.

Muitos já estão assim e não sabem. São mastodontes vorazes e sob ameaça de extinção, num ecossistema predatório. O combalido Diário de Natal está aí para reforçar minhas palavras.

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Categoria(s): Paulo de Tarso Fernandes

Comentários

  1. Fabiano Souza diz:

    Parabéns. Ninguem poderia ter definido melhor a condição a que se chegou o jornalismo mossoroense.

  2. Raul Pereira diz:

    Olá amigo Carlos, não poderia ser melhor suas palavras como estar sendo o jornalismo aqui em Mossoró, venho de cidade grande e sei como é isso. Mais aqui precisamos mudar as peças do jogo, pois só assim podemos conquistar a qualidade e os nossos leitores. Valeu amigo…

  3. francisco alexandre diz:

    O fim do jornal impresso está perto, não é apenas em mossoró, mas no mundo todo. Jornal como notícia informativa de curta duração, é muito mais prático se ler na internet. Sua análise é sensacional!

  4. Camilo Paula Barros diz:

    O que eu vejo, ao menos na minha humilde opinião é, que o maior culpado disso tudo são os próprios meios de comunicação que simplesmente não valorizam (financeiramente falando) como devem os seus profissionais. E com o leque que vem se abrindo com a instalação de outros meios de comunicação, a tendência é que a debandada aumente. Nos tempos de hoje, trabalhar filantropicamente, para quem dispõe de um diploma, está longe de ser um objetivo primordial. Ah, mas como vão conseguir experiencia? Aí são outros quinhentos!

  5. Salomão de Andrade diz:

    Os jornais estão pagando o preço de sua parcialiadade. Basta ler um jornal mossoroense para descobrir, logo na manchetes, a que grupo político ele serve. A parcialidade vai desde as eleições de reitor de universidade, passando por prefeitos, vereadores, deputados, e tudo o mais. Não dá para ler jornalismo imparcial em Mossoró, se não for na internet, e isso só nos blogs.

  6. Lindemberg diz:

    Essa crise não é apenas local. Se observarmos com um pouco mais de profundidade vamos ver que tudo isso começou com o advento da tcnologia da informação; mas creio que a imprensa escrita tem condições de encontrar um novo rumo, uma nova saída para esse problema a partir do momento em que deixar a parcialidade e assumir um compromisso com a verdade autêntica.

  7. william diz:

    Os jornais em sua maior parte só tem politica, colunas sociais, página policial e futebol. Sugeri para o jornal o mossoroense colocar assuntos como ficção, astronomia, ateísmo, ciência e temas diversos com novidades… No Jornal gazeta do Oeste tem um cara inovando com a página Impressionando que deu um ar de coisa nova. Estou deixando de ler os jornais aos domingos de saco cheio de só ler sobre os mesmos assuntos, religião ultrapassadas, temas arcaicos, taí as descobertas cientificas pouco divulgadas, parece que esporte no Mundo é só futebol, pouco se fala de outros esportes… É minha gente do mundo jornalistico!! Ou vcs inovam ou nós inovamos. O leitor quanto mais ler mais exigente fica. Já dizia Maquiavel, tudo que é novidade agita o espirito do homem.

  8. Fabio Valentim diz:

    Concordo com a sua opinião, e digo que o jornalismo escrito está nessa crise justamente por vincular apenas noticias que a cada minuto estão sendo atualizadas via internet, o que seria necessário era a inclusão de artigos sobre assuntos diversos e não somente materias sobre o que ocorreu no dia!

  9. Fabio Valentim diz:

    Eu me interesso pela causa, só que entrei no site do Mossoroense e não encontrei esse anuncio! Se puder me passar informação sobre isso eu tenho interesse! Sou graduado em filosofia e garanto que na minha área o salario é ainda menor!

  10. Regy Carte diz:

    é isso aí! o segmento imprensa atravessa revolução. em mossoró, não é diferente. quem não atentar, pode ficar p trás. ademais, ideologia e sacerdórcio não enchem barriga nem pagam conta. pragmatismo e bom caráter constroem o futuro. parabéns pela análise.

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