“Laboratório” da Fitema faz nascer Rosalba Ciarlini – o mito da “Rosa”
Ao contrário do que seria normal, a trajetória polÃtica de Rosalba Ciarlini (DEM) não foi arquitetada pela mente do seu marido, o então deputado estadual Carlos Augusto Rosado (PFL). O emérito articulador polÃtico foi voto vencido e relutou em aceitá-la candidata a um cargo eletivo.
O “pai” da “criatura” é outro: jornalista Canindé Queiroz.
Ela é resultado de um ousado e bem-elaborado projeto de campanha que em seguida se alargou à formação de poderoso grupo polÃtico, com neologismo derivado do seu prenome: “rosalbismo”. O ponto de partida foi a disputa municipal mossoroense de 1988.
Pesquisa encomendada ao Ibope mostrou a viabilidade de Rosalba, não obstante o largo favoritismo do deputado estadual LaÃre Rosado (PMDB). Ele aparecia com 56% de intenções de voto, contra 9% do próprio Carlos e 8% de Rosalba. A rejeição de Carlos Augusto, muito elevada, diferentemente do que ocorria com sua mulher, sinalizava à necessidade de ela ser posta na condição de candidata.
Ex-candidato a prefeito em 1982 e vice-prefeito em 1972, Canindé era o oráculo de Carlos Augusto e amigo muito próximo ao casal. Além disso, tinha a confiança dos ex-governadores TarcÃsio Maia (PFL) e José Agripino (PFL), pai e filho – lÃderes no estado do sistema Maia.
Do alto da Gazeta do Oeste, jornal de referência na mÃdia regional na época, o jornalista era a voz mais influente de Mossoró.
Preconizou em reuniões com Carlos e outras pessoas próximas, que a vitória seria possÃvel, apesar da fortaleza que LaÃre parecia revelar. O adversário imaginava-se imbatÃvel, com apoio do governo estadual (governador Geraldo Melo) e da União (presidente José Sarney-PMDB).
Até então, Rosalba era apenas uma pediatra dedicada às campanhas polÃticas do marido, sempre em posição secundária, além de mãe zelosa de quatro filhos. Entretanto a hipótese de ir à disputa contra LaÃre fez seus olhos brilharem. Carlos, ao contrário, amuou-se. Não queria. Relutava.
A pesquisa para consumo interno – sugerida por Ângelo Fernandes (então superintendente da Rádio Difusora) – e os argumentos de Canindé foram o amolecendo.
Ele rompera com a liderança do tio e deputado federal Vingt Rosado (sogro de LaÃre), anos antes. Aquela era a primeira prova de fogo, num confronto direto com a raiz polÃtica do clã Rosado, onde ele fora produzido.
TarcÃsio Maia
Carlos Augusto sonhava com a disputa e o cargo que pertencera ao seu pai, Dix-sept Rosado, vitorioso em 1948 à prefeitura.
Em alguns momentos de plena liberdade com Canindé, a quem tratava jocosamente por “Miséria”, admitia fraqueza. Entraria na campanha para pelo menos marcar posição, evitando o surgimento de algum aventureiro no vácuo.
O jornalista enxergava por outra ótica. Levou a proposta do nome de Rosalba para TarcÃsio Maia. Num primeiro momento, ele também foi contra. Insistia que Carlos deveria ser o candidato. Rosalba era imberbe. Não a via em condições de assumir tamanha responsabilidade.
Canindé não se dobrou e manteve esgrima ainda com o próprio Carlos. Remava contra todos, para gerar em sua piracema a candidatura vencedora.
Para não contrariar o marido, sempre onipotente, Rosalba não emitia opinião própria. Era a cândida “Mãinha”, como ele a trata afetuosamente. Porém virou uma candidata incansável e tenaz. Empolgou.
Atrás de si foi montado um núcleo pensante. Canindé Queiroz, advogado Paulo Linhares, professor Anchieta Alves (presidente do PDT, partido pelo qual ela concorreu), além dos médicos Antônio Gastão e Leodécio Néo. Ocasionalmente, o padre Sátiro Dantas aparecia para dar uns pitacos.
O escritório de Canindé Queiroz, incrustado na Fitema (indústria desativada na Ilha de Santa Luzia) virou o "laboratório", de onde nasceu a “Rosa”, prefixo para popularizar o nome da candidata. Faziam treinamentos para discursos, debates, postura cênica, entonação de voz, uso de indumentária etc. O clichê “irmãos mossoroenses” também vem daÃ.
Enfim, estava nascendo um mito feito “in vitro”.
A campanha em si foi travada com contÃnuo crescimento de Rosalba, diante de um marketing meramente festivo do contendor, com trios-elétricos e atrações artÃsticas. Os discursos foram nacionalizados, em cima de inflação e até – acredite – dÃvida externa do paÃs.
LaÃre (com a aluizista Rose CantÃdio-PMDB como vice) caiu na armadilha.
O principal ponto de preocupação era evitar o envolvimento do prefeito Dix-huit Rosado (PMDB) e da prefeitura na peleja, em favor de LaÃre. A ardilosidade de Canindé, puxando pela vaidade do governante, o manteve eqüidistante. O prefeito só subiu no palanque da Rosa no dia 4 de outubro.
Versão de Dix-huit
Dix-huit queria fazer o vice-prefeito e empresário SÃlvio Mendes prefeito. Vingt (seu irmão) impôs LaÃre. Foi o gancho para ser alimentada a cisão entre ambos, enquanto Rosalba marchava ao topo.
LaÃre iludiu-se até a decisão do prefeito, à espera do apoio que não chegou. Perdeu tempo e alijou parte do próprio discurso.
Astuto como era, Dix-huit vendeu a versão de que dera a vitória à Rosalba Ciarlini. Uma inverdade.
Carlos Augusto, com uma pesquisa debaixo do braço, visitou-o sem que Canindé soubesse. Era final de setembro. Mostrou-lhe os números em que Rosalba botara vantagem sobre LaÃre e avançava à eleição. Foi chamariz para consolidar o êxito, com o prefeito das “milobras” (como gostava de dizer, emendando as palavras mil obras) a apoiando claramente.
As eleições aconteceram no dia 15 de novembro. Rosalba, da coligação “Força do Povo”, contra LaÃre da “Aliança Mossoroense” e Chagas Silva da “Frente Popular”, levou a melhor ao lado do seu vice Luiz Pinto (DEM). O resultado das apurações saiu três dias depois. Veja os números abaixo:
– Rosalba Ciarlini – 37.307 (49,7%);
– LaÃre Rosado – 30.226 (40,2%);
– Chagas Silva – 2.507 (3.3%);
– Brancos – 3.594 (4.8%);
– Nulos – 1.503 (2%);
– Maioria de Rosalba sobre LaÃre Rosado – 7.081 (9,5%).
O eleitorado habilitado ao voto era de 80.397, em 275 secções. Compareceram 75.217 eleitores. As abstenções foram de 5.180 votantes.
* Leia amanhã a segunda parte dessa série: primeira administração, derrota sucessória e mais bastidores exclusivos.
Foto – Carlos Augusto, locutor Evaristo Nogueira, Rosalba e Luiz Pinto em agosto de 1988 no bairro Santo Antônio (Acervo do Blog do Carlos Santos).
Amigo, lembro muito bem de tudo que você postou. Participei também desse laboratório. Dei minha contribuição pequena, mas na epoca era de coração. Operava câmera de vhs (é o novo) e TV. Na epoca quem veio auxiliar essa produção foi Mauricio Pandophi, que hoje se não me engano está na SIMTV.
Foi a maior diferença entre eleito e segundo colocado até então.
Isso sim é jornalismo. Excelente para os mais jovens conhecerem como, realmente, as coisas aconteceram. Parabéns.
Carlos, parabéns pela reportagem.
essa imparcialidade de lidar com as notÃcias infelizmente não vemos no jornalismo convencional…
Um marketing bem elaborado para a época e contexto, aquele desenho da Rosa foi muito importante para chamar a atenção do eleitor, o que aliás seria conveniente para a próxima eleição.
Não entendo por que Caninde Queiroz atacou tanto Rosalba e que foi processado e a justiça o fez pagar indenizações…
Em primeiro lugar que parabenizar vc por trazer para os seus leitores um pouco dos bastidores de 1988, participei desta campanha, concordo quando Carlos Augusto falou que quando Dix-zuit entrou na campanha Rosálba já estava na frente,
Amigo Carlos, Parabéns pela excelente pesquisa e reportagem,
Acho que todos os mossoroenses precisam conhecer melhor seus candidatos.
“Atrás de si foi montado um núcleo pensante” Acrescentaria nessa relação o nome de OlÃmpio Rodrigues.
Ou não?
Nota 10 pela reportagem.
Parabens.
Parabéns, Carlos, adorei a reportagem. Não sabia desse detalhes da “incubadora”, mas lembro muito bem da primeira candidatura de Rosalba. Eu trabalhava com ela no antigo Hospital Regional Tancredo Nesves. Lembro o quanto a sua campanha começou “tÃmida” e dividia com Ruth, sua irmã,muito nervosa, o rádio pra ouvir o seu primeiro discusso no palanque. Lembro também das perseguições que Ruth sofreu, por parte da então diretoria do Tancredo Neves(Dr. Raimundo Fernandes Jr.). Mas, logo Rosalba se agigantou e não tem pra ninguém!
REPORTAGEM ESPECIAL MESMO!!!!!! PARABÉNS
Só pra enfeitar:
Chagas Silva,queria a cabeça de chapa com Rosalba pra vice,quando lhe foi oferecido a oportunidade de ser”vice-prefeito”de Mossoró,”meninos,eu vÔ,eu estava lá. Homi,vá cagar!
Faltou falar em Edith Souto, que foi a Duda Mendonça da prefeita em 88 eu que fazia parte da então Força Jovem, não gosto nem de lembra… mas reunia dezenas de jovens para visitar casa a casa da cidade de mossoro e fazer “pesquisas” saber em quem votava se fosse em Laire fazia a seuinte pergunta mas o que faria o senor mudar o voto, anotava o nome e o pedido ai naum sei dizer o que vinha pela frente, tinha a distribuição de cachorro quente e sucos isso na casa de Edith souto visinho ao antigo Cine Cid, hoje o teatro. Casa muito bonita e muitas plantas ornamentais…
Willian, Canindé atacou tanto a senadora Rosalba plo simples fato de tudo isso ter sua parcela e a ROSA com seu grupo nao ter dado a ele o devido valor.. A Rosa tem esse defeito, esquecer (abandonar as pessoas) Foi uma excelente administradora, votei nela. Mais o PODER…A o poder faz as pessoas acharem que tudo é pra semrpe!
Parabéns, excelente matéria.
Carlos, seu texto é uma aula de reportagem, memória, análise…
Parabéns, merece repercursão além fronteiras do rn.
Onde fica a contribuição do PDT e da liderança de Brizola? Afinal foi a filiação de ROSALBA a este partido que lhe conferiu o papel de oposição mais sistemática a nÃvel Estadual e Nacional, não podemos desprezar o fato de Brizola ser o mais contudente opositor ao governo federal e um candidato em ascensão para as eleições presidenciais de 1989.
Um fósforo “riscado” tem mais valor do que qualquer partido polÃtico no Brasil. Democracia fajuta. Esse paÃs jamais irá cumprir seu ideal.
Carlos Santos, parabéns pela reportagem. Um grande Abraço…
Primeiro, parabéns pela excelentÃssima reportagem! Isso sim é que é Jornalismo, história e PolÃtica. Por isso que sempre indico seu blog aos internautas que querem saber um pouco da polÃtica mossoroense, potiguar e até mesmo nacional. Um fato novo que eu mesmo não sabia, pois o leio bastante, cotidianamente, foi que Dix-Huit Rosado subiu no palanque da Rosa já sabendo que ela estava na frente das pesquisas, coisa que, imagino eu, todos, até mesmo eu, pensávamos que o velho alcaide tinha decidido subir no palanque da Rosa para reforçar sua vitória. Agora estou aguardando ansioso para saber os bastidores da derrota de Luis Pinto, como e porque houve a sua derrota, e que foi o meu primeiro voto como eleitor mossoroense e brasileiro. Novamente, parabéns!!!!!!!!!!!!!!!
Já se passaram 21 anos, mas me lembro como se fosse hoje, participei daquela campanha como fiscal de partido, as reuniões eram na casa de Edith Souto, como bem mencionou o webleitor Cláudio. Lá era decidido todo o esquema. Alguns dias antes da eleição, trabalhamos pelas madrugadas visitando as casas, não tinha muito o que oferecer, apenas um nome com intenso apelo popular e muito carisma, a ROSA. A partir daà não tive mais dúvidas da vitória, cantei na faculdade, errei apenas a maioria que cantei em aproximadamente 5.000 votos, o que fui prontamente taxado de maluco. Era o que via nas casas, principalmente da periferia, fotos de LaÃre, mas um paixão demasiada por aquela que seria mais tarde o novo fenômeno da polÃtica mossoroense e depois norteriograndense. Ah, não podemos esquecer a comemoração da vitória, o que tinha de homens de saia. Parabéns Carlos, gostei de conhecer os bastidores daquela que foi uma da mais belas campanhas polÃticas que vi. Hoje não tenho mais nenhum entusiasmo, nem com a polÃtica, nem com os polÃticos, apenas decepções.
Caro Carlos: Estando em Natal a procura da saúde,pois parece que vou ter de implantar 3 pontes e um bueiro, no coração, tive oportunidade de ler sua excelente reportagem sobre a vida politica inicial de nossa senadora ROSALBA. Pelo que sei, aliás muito pouco, pois, eu era o tesoureiro geral da campanha de LaÃre, mesmo contra toda minha familia, fiquei do lado errado, apenas por conta do grande VINGT ROSADO
Caro Carlos. Parabens pela belissima reportagem. Lembro-me como se fosso hoje a campanha da rosa, de pé no chão, e todos de maos dadas colaborando em prol de sua eleição, dái sua vitoria confirmada, esperamos que mais uma vvez isso possa se repetir em 2010, para elegermos governadora do estado do RN. se Deus quizer.
Parabéns Carlos, texto muito bem redigido.
Carlos, adorei a reportagem, uma verdadeira aula de história e jornalismo. Lembrei dos textos escritos por Fernando Moraes, nos proporciona uma viagem pela história do nosso PaÃs, em especial da nossa Mossoró…
Oh may Gosh!!!! Há mais de 30 anos fora de Mossoró mas a cantoria não muda de tema: Só da Rosado!!!!!
O Feudalismo não acabou!!!!
Naquela época as pessoas gostavam de comÃcios, era como festa.
Carlos Santos, parabéns pela reportagem. Uma verdadeira aula de história.