O "bonel" de Júnior

Apressado para sair de casa, o vereador Júnior Escóssia cobra de Nildinha, sua esposa, um "kit" elementar:

– Pegue uma camisa amarela, aquela bermuda que eu gosto e um "bonel".

Atento ao crime hediondo de lesa-gramática, o ex-prefeito e pai de Jùnior, João Newton da Escóssia, resolve não ficar calado. Cobra-lhe zelo à lingua:

– Júnior, o que é isso, meu filho?! Não é "bonel"; o nome correto é "boné".

Sem baixar a guarda, Júnior procura justificar o deslize:

– Eu sei, papai. É que ás vezes eu confundo com pastel, tonel…

Sempre cabe mais um 

Noite concorrida no tradicional Kazarão em Natal.  O candidato Miguel Mossoró chega aclamado ao local, onde se organiza ambiente – superlotado – para ele proferir palestra, dissecando seus planos mirabolantes para gerir a capital.

Alguém entre os circunstantes tenta embaraçar nosso personagem, ponderando que não o vê acompanhado de nomes de expressão para poder montar um bom secretariado. “Faltam quadros?”, indaga em tom quase afirmativo o interlocutor do nosso anti-herói.

– Não, não é assim não – retruca Miguel. “Eu só vou chamar gente boa”.

Em seguida, sem pausa, ele começa a listar uma série de personalidades conhecidas da cidade, as enfileirando numericamente nos dedos das mãos. 

– E eu, Miguel! – provoca já de pé outro freqüentador do Kazarão.

– Não se preocupe! Tem lugar pra todo mundo – acomoda salomonicamente.

Com pouco menos de 40 minutos de vôo na rota Natal-Brasília, uma aeronave de carreira acomoda pânico convulsivo e praticamente generalizado. Choros, orações e desmaios revelam o drama.

Entre os passageiros estão diversos políticos do RN, como o senador e presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho. 

Com voz trêmula e chorosa, agarrada a seu braço, Denise – mulher do político, sentencia sobre a situação:

– Garibaldi, o avião está caindo!

Sem maior esforço e em câmera lenta, a voz anasalada do senador espelha sua serenidade: "E o que eu  posso fazer, Denise!?"

Em seguida voltou a folhear uma revista, apesar da queda livre da aeronave e do murmúrio estridente de inúmeros passageiros.

Seridoense da gema, o médico recém-formado (depois deputado) Abílio Medeiros é acomodado numa das muitas casas do próspero fazendeiro Marinheiro Saldanha. Ouve dele apenas uma recomendação especial:

– O que o senhor observar por aqui, não comente".

Mulherengo inveterado, prole numerosa e com várias fontes, ele não queria comprometer algumas mães de família que o visitavam.

Anos depois, uma delas aparece com o marido a tiracolo diante do médico, em pleno período de inventário do patrimônio de Marinheiro. Na expectativa de receber um naco da herança, a visitante insinua o porquê de procurá-lo:

– Como o senhor bem sabe, doutor Abílio, eu andava muito naquela casa (…).

Lembrando a recomendação do morto e também atordoado diante do marido, esclarecido, Abílio retruca: "Não, eu não vi nada, não estou sabendo de nada…"

Com dedo em riste e transtornado, o marido salta em defesa do pretenso direito da mulher, exigindo respeito:

– O senhor não se faça de besta! Sustente o que viu, homem! 

Modesto vigia de loja comercial no centro de Mossoró, Altivo Paiva sente a possibilidade de ser uma surpresa eleitoral.

Apurações em andamento, época ainda das cédulas impressas, 1982, o quase-vereador é abordado por um repórter de rádio:

– Parece que o senhor vai se eleger, seu Altivo. E aí, como vai ser na Câmara Municipal?

– Meu filho, aí o cangapé (pontapé, na gíria popular) é feio!!

Para registro da história: " sêo" Altivo não se elegeu.