Lei Seca para adversário
A campanha ao Governo do Rio Grande do Norte divide Mossoró em 1965. Aluizistas cantam vitória em defesa da candidatura do Monsenhor Walfredo Gurgel, apoiado pelo governador Aluízio Alves.
Num tradicional reduto adversário, o conhecido “Bar IP”, seu proprietário João Pinheiro observa do balcão a chegada de um aluizista. É o suficiente para fechar a cara. Mais ainda, que se diga.
– Bote aí uma cana, João – pede o ‘fiscal de rendas’ Moacir Vilar, adornado por adereços verdes que simbolizam sua preferência política.
– Só despacho no balcão e tá faltando – infla João Pinheiro, contraindo os músculos faciais, numa reação que não disfarça seu desinteresse em fazer a vontade do cliente.
– Então eu quero uma cerveja, homem! – insiste Moacir, desdenhando o humor de quem o atende.
Sem qualquer meio-termo, o dono do IP volta a rechaçá-lo: “Tá quente!”
O insistente freguês não desiste. Coça o próprio cocoruto como se os dedos fossem eficientes arados e parte para o definitivo pedido:
– O.K! Eu vou tomar mesmo é um uísque…
Nem aí ele consegue dobrar João Pinheiro, impávido na tarefa de não atender o adversário:
– Não tem gelo!
A resposta faz Moacir Vilar ser ejetado da cadeira, endemoniado: “Quando o ‘padre’ ganhar eu fecho essa …!”
João e sua clientela vibram com o aguardado desfecho da contenda. Nas urnas Monsenhor Walfredo foi vitorioso, mas o Bar IP continuou inexpugnável ainda por décadas.
Caro Carlos…
Essa e muitas “estórias”.
Obrigado por me fazer relembrar as coisas do meu saudoso pai.
Moacir A. Vilar Jr
Em matéria de antipatia e carrancismo o João Pinheiro e o Raimundão (Do Bar Ypiranga) eram conhecidíssimas figuras carimbadas do anedotário mossoroense. Que sejam resgatados do olvido as poucas e boas destes honrados personagens da geografia humana de Mossoró. Tenho dito.