terça-feira - 06/05/2025 - 14:20h
Novo papa

Sob chaves…

Por Marcos Araújo (Especial para o BCS)

Arte ilustrativa do Vaticano em estilo impressionista com recursos de IA para o BCS

Arte ilustrativa do Vaticano em estilo impressionista com recursos de IA para o BCS

Começa nesta quarta-feira (dia 07), o conclave que definirá o substituto do Papa Francisco. A palavra conclave vem do latim cum clave, que significa “com chave”, aludindo ao isolamento dos cardeais em local fechado até que escolham um novo Papa. Esse processo foi institucionalizado em 1274 pelo Papa Gregório X, após um longo período de instabilidade causado por eleições papais demoradas e politizadas.

A expressão “cum clave”, sob chaves, vem de um fato histórico ocorrido em Viterbo, na Itália em 1271.  Após a morte do Papa Clemente IV, os cardeais reunidos em Viterbo não conseguiam chegar a um consenso, reunidos que estavam de 1268 e 1271, durante impressionantes 33 meses. Neste período, três cardeais faleceram. A impaciência popular fez a cidade restringir comida e remover o telhado do Palácio de Viterbo, local do conclave. Ficaram os cardeais trancados à chave e com fome.

A pressão surtiu efeito, e finalmente, após quase três anos, foi eleito Teobaldo Visconti, que não era nem cardeal e não estava entre eles. Foi escolhido de fora, quando voltava de uma cruzada de guerreiros cristãos a Jerusalém, sendo coroado como Papa Gregório X. Da notícia de sua nomeação até a sua posse, levou seis meses para chegar à Roma.

O mais breve conclave moderno ocorreu em 1939, após a morte do Papa Pio XI. Em apenas um dia, o cardeal Eugenio Pacelli foi eleito e assumiu o nome de Pio XII. Foram necessárias apenas três rodadas de votação. Outro conclave extremamente curto foi o de 1503, em que Giulio della Rovere (Papa Júlio II) foi eleito em menos de 10 horas.

Na história papal, o Papa Pio XII (1939), foi o mais votado, eleito com 61 dos 62 votos possíveis. João Paulo I (1978) também foi eleito rapidamente com ampla maioria logo na quarta votação. O Papa Bento XVI (2005) também foi eleito em apenas dois dias e quatro votações, com maioria sólida, refletindo um bloco conservador coeso. O Papa Francisco (2013) havia sido o segundo mais votado no conclave anterior (2005), mas sua eleição em 2013 foi outra surpresa, fruto de articulações entre os cardeais reformistas.

O conclave de agora se apresenta muito confuso e indefinido, esperando-se longas votações pelas tendências dos dois lados da Igreja em embate (progressistas e conservadores).

Os vaticanistas apostam em surpresas. É lembrado que o Papa João XXIII (1958) era considerado um “papa de transição” e pouco cotado. Surpreendentemente, foi escolhido como figura de compromisso entre alas rivais.

O conflito entre as diferentes ideologias está agora em evidência. Conservadores e progressistas se engalfinharão para assumir o trono de Pedro. Não será fácil a escolha. Não devemos ter outro papa sul-americano nem tão cedo. Papa Francisco foi o primeiro papa jesuíta da América Latina e o primeiro não europeu em mais de 1.200 anos (desde Gregório III, sírio, em 741).

Uma dificuldade dos tempos modernos é a imposição do sigilo absoluto a todos que estão relacionados ao evento.  Além dos trabalhadores, os cardeais são proibidos de revelar discussões internas do conclave, sob pena de excomunhão.  Somente cardeais com menos de 80 anos podem votar. São 133, ao todo. Uma maioria de dois terços é necessária para eleger o novo pontífice.

Quinze se destacam entre os “papabili”, os papáveis. Entre os fortes candidatos, nove são europeus (quatro italianos – Pietro Parolin, Pierbattista Pizzaballa, Matteo Zuppi e Claudio Gugerotti; um francês – Jean-Marc Aveline; um sueco – Anders Arborelius; um maltês – Mario Grech; um húngaro – Péter Erdö, e um luxemburguês – Jean-Claude Hollerich). Dois são asiáticos (Antonio Tagle – Filipinas, e Charles Maung Bo – Belarus).  Dois do continente africano (Peter Turkson – Gana – e Fridolin Ambongo – República Democrática do Congo). Para finalizar, temos dois americanos (Robert Francis Prevost e Timothy Dolan – arcebispo de Nova York).

Entre os cristãos, tem-se a ideia (nem sempre realizada) de que o Espírito Santo guia os cardeais eleitores. Tivemos algumas situações de eleições papais que o Espírito Santo andou dando um “cochilo”.  Torço imensamente pela eleição de um cristocêntrico autêntico à semelhança de Bergoglio, e que a Igreja não retroceda ao conservadorismo canonista dos tempos de Ratzinger.  Que venha, com urgência, a exclamação, precedida da fumacinha branca: – Habemus papam!

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Marcos Araújo é advogado, professor da Uern e escritor

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Categoria(s): Artigo

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