Por Homero Homem
Cacilda. Preta. Por fome
(essa fome nordestina
sergipe de tão comum)
Cacilda preta, por fome
de comida se dá toda.
Por amor só da a um.
Mau comércio de Cacilda.
Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.
Vigarice de Cacilda
pelas Lapas do sol posto
cavando seu desjejum:
Se espoja em cama de vento
apaga a vela a Ogum.
O corpo vira cem pratas.
Com vinte de safadeza
Mais dez de semvergonhice
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.
Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão preto
e nana por gerimum.
Deita, Cacilda. Deitada
a fome quebra o jejum.
Cacilda preta expedita
polvilha pele e axila.
Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.
Cacilda preta expedita.
Sempre fatura algum.
Cacilda negrinha à toa
Mulher de Cosme e Doum.
Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.
Homero Homem (1921-1991) – Poeta potiguar, nascido em Canguaretama
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