domingo - 15/11/2015 - 23:56h

Sobre Paris, Mariana, tragédias, causas, cobranças etc.

Por Cefas Carvalho

Aos amigos e amigas que, sabedores de minha paixão pela França e de minha mania de dar pitaco sobre as coisas, me perguntaram opinião sobre os atentados em Paris, a dizer – e refletir – o seguinte:

1 – Não relativizo atos terroristas. Em hipótese nenhuma. Não discuto, não debato e não o farei neste post. Atentado é atentado e assassinato e assassinato, ponto. Não embarco em relativizações (“ah, mas estão colhendo o que plantaram”, “Oh, mas a França apoia os EUA nos ataques ao Oriente Médio”, “Ih, mas teve o Charlie Hebdo”. Não. NADA justifica atentado e assassinato.

2 – Sem disposição de ver amigos queridos e inteligentes “competindo” sobre tragédias (Paris x Lama em Mariana + Quênia + Nigéria) e cobrando solidariedade. Cada um se solidariza com o que quer e se quiser, e quem não o faz publicamente e no Facebook não quer dizer que esteja sentindo mais do que quem sente em silêncio, não é mesmo? E, não, não vou trocar minha foto nem pela bandeira da França nem pela bandeira brasileira. Quem o faz, bem. Acho legal quem se dedica a uma causa. Só não pode cobrar que os outros sigam a mesma causa, da forma que se deseja e na hora que o outro quer, né?

3 – Não há comparação entre tragédias. Uma foi um desastre ambiental causada pela negligência e mau caratismo de empresários que tiveram vista grossa de políticos, todos eleitos pelo voto popular. Outra foi um atentado terrorista que mais tem a ver com geopolítica do que com religião. As da Nigéria e Quênia também foram diferentes. Ah, e também teve chacina de 11 pessoas em Fortaleza e assassinato de um PM aqui em Natal,

4 – Amigo(a) que eu detectar ofendendo muçulmanos em geral pelos atentados, deleto amizade. Generalização é uma das pragas do Facebook. Ou os amigos nordestinos gostam quando um retardado de São Paulo posta coisas como “todos os nordestinos deveriam morrer” e similares?

5 – É isso. Cada qual tem seu time de futebol, seu filme preferido, suas causas e decide a hora de defende-las e se o fará neste Facebook ou não. Cobrança radical parece muito com o pensamento daquele pessoal que comete atentados terroristas, não? Que todos nós tenhamos mais calma na hora de apontar o dedo para os outros internautas.

Cefas Carvalho é jornalista.

* Texto originalmente publicado em seu endereço próprio na Web.

Compartilhe:
Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Iris Maia diz:

    “Humanidade! tende como objetivo a criação de um mundo unificado, sem conflitos”

  2. naide maria rosado de souza diz:

    Excelente texto. Compartilho não ser possível a comparação de tragédias. Compartilho a não generalização dos muçulmanos. Penso nos refugiados que estão vendendo suas iguarias quase na porta de meu edifício. Pensei num possível fracasso de suas vendas que têm sido prósperas, se as mentes do povo que me rodeia não temerem mastigar uma bomba. Enfatizo, entretanto, que essa atrocidade nada tem de religiosa. Pode ter todos os cunhos, mas nada de religioso. Pois que Deus bárbaro seria esse? Qual Deus colocaria irmãos contra irmãos, armados até os dentes, para matar e mutilar. Que Deus pregaria se armar e explodir para carregar sua própria vida e a dos que estão à sua volta? Homens-bomba, querem morrer? Cometer o suicídio “santo”, que o façam longe dos outros. Bem longe, no desertos de suas almas incultas e bárbaras.
    Conjeturo de onde vem esse dinheiro que os arma e os mantêm. Houve deslocamento? Alguns dizem que se disseminaram pelo mundo. E as armas? Como compram? Como são fartas e poderosas? Comunicam-se por redes sociais? Como têm acesso a elas? Aqui, para manter o PC em ordem, preciso pagar, algumas vezes, R$ 80.00, a hora. Todos mestres em computadores e similares.
    Cefas, andei assombrada comigo. Muito sensibilizada com o desastre em Mariana, na bela Minas Gerais, de solo rico que a irresponsabilidade humana foi conspurcar, fiquei ciente do ocorrido em Paris. Imediatamente, ouvi meu cérebro cantando o hino francês, no meu pensamento revoltado; “Aux armes, citoyens…”
    Aquela não era eu, a pacífica, tentando sempre conciliar as coisas do meu mundinho. Conheci a minha versão enfurecida.
    Precisava ouvir quem me acalmasse, não apenas com gestos de carinho, mas que me chamasse às falas. Felizmente, fui moderada no face e só manifestei a minha dor.

  3. João Claudio diz:

    Por trás da lama (sem fedor) que inundou a cidade de Mariana, existe outro lamaçal (fedorento). Deputados mineiros receberam R$ 2,6 milhões da mineradora, a titulo de ”doa$ão” para bancar as suas campanhas eleitorais.

    No Brasil é assim: em qualquer lugar e a qualquer momento, pode surgir um imenso lamaçal (podre).

    As vezes é necessário cutucar. Mas, em muito casos, o lamaçal é a céu aberto e visto a olho nu. A maioria do povo, ó, sequer tapa o nariz e prefere não ver. Faz vista grossa. Muitos deles ”acha é bom” e compactua com os produtores do lamaçal.

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2025. Todos os Direitos Reservados.