Por Odemirton Filho
A crônica do amigo Paulo Menezes no domingo passado (veja AQUI) despertou a saudade dos banhos de chuva na minha infância.
Eu saía correndo pelas ruas próximas à minha casa, ia para baixo das biqueiras dos prédios, sentia a água gelada batendo no “couro” até ficar tremendo de frio.
Jogava bola “na chuva”, não tinha um pingo de medo dos trovões e dos raios. Uma ruma de meninos pedalando pelas ruas, molhados, aqui e ali pegando as cajaranas da vizinhança.
Às vezes ficava resfriado ou com a garganta inflamada e precisava tomar uma injeção lá em Dr. Vicente Forte. Mas valia a pena.
Levávamos as Kombis da padaria para lavar na barragem do rio Mossoró. Meu pai, segundo dizia, quando era criança atravessava o rio nas enchentes agarrado num tronco de uma árvore, mesmo sem saber nadar, e me contava as aventuras de sua infância no antigo Horto Florestal.
Estando em Tibau, por muitas vezes fui à praia na hora da chuva. Nem ligava para o perigo que corria. Queria era mergulhar no mar, com as gotas d´água “açoitando” o corpo. Ia brincar com os meus primos na pedra do chapéu. Depois, é claro, levava uns “carões” da minha mãe.
Para o pessoal do Sudeste o céu fica feio quando está com as nuvens “carregadas”. Para nós, nordestinos, é lindo de se ver.
Como é bonito os raios rasgarem de ponta a ponta o céu, com as nuvens anunciando um toró d´água e depois encharcando o chão rachado pela seca.
Quando eu vejo as imagens das chuvas no sertão, das pequenas barragens sangrando e do mato ficando verde, fico feliz. Imagino a alegria do homem do campo em cultivar a sua terra.
Hoje, já não tenho coragem de tomar banho de chuva pelas ruas nem de mergulhar no mar de Tibau quando está chovendo.
De vez em quando contemplo o céu quando “tá bonito pra chover” (uma expressão bem nossa, sertaneja, de contemplação) e espero a água cair para aguar as plantas do meu quintal. Aproveito e tomo uma boa dose pra esquentar a alma. Aí vem à memória os banhos de chuva na minha infância.
Sinto uma saudade danada.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
E quem não sente?
Já notaram que as melhores coisas da vida são de graça?
Alguém já pagou por um banho de chuva, por um nascer ou um por do sol? E por admirar uma lua cheia como a que só acontece no sertão de Brasil tão cheio de belezas naturais?
Não vou nem falar nas noites estreladas do nosso verão.
Será que estamos perdendo a capacidade de valorizar o belo verdadeiro e nos deixando levar por frivolidades que nos metem garganta abaixo por meio de propagandas bancadas pelos ditos senhores da razão.
A crônica do Odemirton nos leva a um despertar.
O grito contido neste alerta não nos permite mais confundir novidade com beleza.
A novidade cansa.
A beleza é eterna.
Torço para que logo chegue domingo e com ele mais uma cŕõnica do Odemirton Filho
Pois é, meu caro Inácio. A riqueza da vida está na
simplicidade. Naquilo que nos é dado de graça.
Abraços!
Realmente, João Inácio, os valores hoje são outros! Nossos filhos e netos não sabem o que é, e foi bom.
Sempre comento que a nossa geração foi pensada e doada por Deus que nos presenteou com tudo de bom, quem viveu os acontecimentos das décadas de 70 e 80, realmente usufruiu do que de melhor existiu na caminhada que ainda estamos tentando realizar, fomos constituídos por uma matéria-prima de excelente qualidade, somos fortes, inteligentes, criativos, destemidos, ardilosos, guerreiros, valentes e firmes para enfrentar os tombos do tempo; esta nova geração veio pronta pra nos cobrar de tudo.
Veja que nem banho de chuva eles se arriscam a tomar, principalmente com as peraltice do nosso mestre Odemirton, que tão eloquentemente nos mostrou como se lavava as Kombis da Panificadora Merçalba, a qual ficava na rua José de Alencar, vizinho ao bar de Silvério, o qual tinha o melhor refresco de maracujá fde Mossoró, e a Panificadora Merçalba, a melhor bolacha 7 capas do país chamado Mossoró.
O resto, Odemirton qualquer dia nos mostrará.