Por Aílson Fernandes Teodoro
Na última quinta-feira, 13 de agosto, o jornalista Carlos Santos, editor-chefe desse espaço, que na realidade é “Nosso Blog”, publicou matéria com o seguinte título: “Oposição precisa cativar povão e mexer com o egoísmo da elite“.
Li, achei interessante a análise e me senti instigado a escrever um artigo sobre o tema, onde deixo minhas impressões sobre o papel dos mossoroenses nas eleições que serão realizadas dia 15 de novembro.
Pois bem. Eis minha opinião: Considero a elite social e política local uma das mais conservadoras e corporativistas do país. Não consegue aceitar nem digerir quem ascende social e politicamente se não for da terra; principalmente se não fizer parte de alguma família tradicional da cidade. Financeiramente também são conservadores, olham com desconfiança e indiferença para quem consegue amealhar vultoso patrimônio, mesmo que adquirido honestamente.
No campo político, é ainda pior.
Ajuda a manter no poder e a perpetuar um modelo, representados por uma prefeita desgastada política e administrativamente, fruto de uma gestão desastrosa que não consegue resolver as obrigações mais básicas que competem a um gestor de um município do porte de Mossoró. Uma prefeita que saiu do Governo do Estado avaliada como a pior chefe do executivo estadual do país, à época.
Sequer teve amparo do seu partido, o DEM, para tentar a reeleição em 2014. Em Natal, por exemplo, virou persona non grata.
Mas, a “doutora Rosalba Ciarlini (PP)”, como é chamada com a boca cheia por bajuladores, amigos, asseclas, admiradores, detentores de sine curas e outros que fazem parte da fauna política mossoroense, tem um diferencial: é de família tradicional e, dois anos depois, conseguiu retornar com relativa facilidade à titularidade do Palácio da Resistência, sede do executivo municipal.
O que me deixa constrangido e triste, é ver uma expressiva quantidade de pessoas, de todas as áreas, mas principalmente da classe médica, salvo raríssimas exceções, “passando pano” – gíria que está na moda nas redes sociais e significa “encobrir coisas ruins feitas por colegas ou pessoas que gostamos” – para a prefeita. Só e somente só, por conservadorismo e corporativismo. Algo inato às castas na tentativa de preservação do poder. Ou das espécies.
A elite social e política não aceita pessoas como Allyson Bezerra (Solidariedade), Isolda Dantas (PT), Gutemberg Dias (PCdoB), Cláudia Regina (DEM), e outros pré-candidatos, só por não pertencerem a nenhum ciclo elitista tradicional.
Uns são tolerados, outros nem isso. São vistos com reservas ou mesmo tratados com escárnios e insultos em rodas da “alta”.
Se reeleita, muitos atribuirão a vitória de Rosalba a bairros como Santo Antônio, Barrocas e Belo Horizonte, redutos de grande concentração popular, onde a prefeita já possuiu maior densidade eleitoral. Mas na verdade, aqueles que formam o PIB da cidade, em sua quase totalidade, votarão na atual chefe do executivo – por se sentirem representados na pompa e na mediocridade não assumida. Casa e botão.
Se fizer, hoje, uma pesquisa nos condomínios mais luxuosos da cidade, sejam eles compostos de casas ou apartamentos de médio e alto padrão, “A Rosa”, epíteto também atribuído à prefeita por alguns sabujos, aparecerá com mais de 80% de preferência entre os mais abastados financeiramente.
Não aceitam um jovem deputado como Allyson Bezerra, nascido na ‘roça’, filho de lavradores e originário da escola pública, tornar-se prefeito. Nem uma mulher, como Isolda, natural de Patu e criada em Upanema, concebida nas lutas sociais, desde a vida estudantil até se tornar militante e representante das minorias no legislativo municipal.
A eleição de dois deputados estaduais que não fazem parte das corriolas do vinho, das viagens europeias e spas chiques, que não moram em casarões luxuosos (muitos igualmente de péssimo gosto arquitetônico), mexeu com os brios dos donos da cidade. Julgavam-se vencedores e acreditavam em vitória fácil, por conta da estrutura que tinham à disposição.
Ouvi muita gente falando após o resultado 1. Turno, em 2018, a seguinte frase:
– “Como é que o povo de Mossoró deixa de eleger Larissa Rosado, para eleger esse Allyson e essa vereadora do PT? ”.
Falavam como se uma eleição municipal tivesse sido encerrada. E pasme, ponderavam sobre o assunto, como se Allyson e Isolda Dantasfossem os responsáveis pela derrota de Larissa, deputada estadual e candidata apoiada pelo executivo municipal.
Fechadíssimo clube é a elite política, social e financeira mossoroense. Cláudia Regina sabe disso. Foi eleita em 2012 com apoio do rosalbismo, mesmo sem possuir e desfrutar da ampla e irrestrita confiança dos atuais donos do poder e de grande parte da elite financeira e social.
À época governadora, Rosalba Ciarlini, com apoio do esposo e tutor político Carlos Augusto Rosado, usou e abusou da máquina estadual, através de falsas promessas e outras ardilosidades com o escopo de eleger sua candidata. E conseguiram o feito. Cláudia, que podia perder, foi eleita. Rosalba é que não podia ter sua candidata derrotada.
Depois, inúmeras cassações, o resto da história todo mundo conhece, inclusive quem é da elite política e acompanhou a forma que abandonaram Cláudia. Só não sabem exatamente como foi essa mágica que permitiu Rosalba sair ilesa legalmente. Bem, aí são outros quinhentos.
Lembro, à época, como foi renhida a disputa municipal em 2012. Inúmeras pessoas das classes média e alta, expunham: “Eu vou deixar de votar em Larissa Rosado, que é de Mossoró, para votar em Cláudia, que nem é daqui”. Desse jeito. Diziam sem pudicícia alguma. De forma torpe. Desonestidade intelectual grande.
Todos sabem que Cláudia Regina reside em Mossoró há décadas; é tão mossoroense quanto os que aqui nascem. Mesmo que não tenha sido condecorada com o título de cidadã mossoroense, uma das formas mais hipócritas que o legislativo encontrou para bajular pessoas ilustres, principalmente membros do Judiciário e Ministério Público, ou empresários ricos, forma de paparicar a elite. E mais nada.
Isolda, que é Dantas; Allyson, que é Bezerra, e outros pré-candidatos como Gutemberg Dias, Ângela Schneider e outros, nem sequer podem, na visão de alguns, sonhar em ganhar a eleição municipal dia 15 de novembro. Aliás, ver os intrusos Allyson e Isolda eleitos em 2018, já foi demasiadamente duro para muitos.
Ainda existem feridas não cicatrizadas.
A derrota de Larissa Rosado e Cadu Ciarlini (filho de Rosalba, que a mãe tentou empregar como vice-governador) foram duas das maiores vergonhas políticas dos Rosados e seus apaniguados nas últimas décadas. E, agora, fazem de tudo para não passar um vexame ainda maior: Rosalba não pode perder de jeito algum para os párias da oposição, que não têm sangue nobre.
A elite sabe onde, quando e como conversar com o grupo da prefeita. Conhece o caminho. No verão, frequenta os mesmos alpendres. E quando consegue o que quer, recolhe-se a seu valhacouto. Volta a cumprir seu papel subalterno de súdito.
Se a oposição deseja ganhar a eleição, o caminho é conversar com o povão. É essa fração vulnerável que vive em nossa cidade, que mais precisa dos serviços básicos da municipalidade.
É mostrar a essa massa, que é só é vista pelo executivo a cada 2 anos, intervalo entre uma eleição municipal e estadual, alternativas para se livrar da servidão.
Em 2018, o grupo da prefeita sofreu um grande baque eleitoral. De todos os seus candidatos e todos movidos à alta combustão da máquina pública, apenas Beto Rosado se reelegeu à Câmara Federal e, assim mesmo, no “tapetão”. Foi graças a um processo judicial lá para as bandas de Brasília, onde o direito não é exatamente o certo, o reto e o justo, que ele pegou a reeleição “pelo rabo“.
Essa derrota foi gerada pelo voto do povão; da massa-gente. Esse grande número de eleitores, formado por cidadãos mossoroenses, disse claramente que não estava satisfeito com a prefeita. E é essa fração de eleitores que devem ser procurados pelos prefeitáveis; são essas pessoas que vão decidir os destinos das eleições, contrariando a vontade dessa elite cavilosa, preconceituosa e que arrota caviar depois de beliscar um espetinho.
Durante a ditadura militar, o economista Edmar Bacha, definiu o Brasil como uma “ Belíndia”, resultado da fusão da Bélgica com a Índia. Quem conhece a frase percebe que ela se encaixa com o padrão de alguns bairros de Mossoró.
Existem duas Mossorós; uma rica e sintonizada com o primeiro mundo. Pertence à elite, que não quer mudá-la. A outra é miserável e ineficiente na prestação dos serviços públicos; é arcaica, e reservada a massa-gente.
Espero que em novembro, as classes média e baixa mossoroense, de origem popular, e da qual faço parte, comecem a reescrever uma nova história. A elite política e social, corporativista que é, tentará manter a história como está, seu status quo. Seu egoísmo ignora as necessidades alheias, ou seja, da maioria. A maioria somos nós. Eles não!
Aílson Fernandes Teodoro é bacharel em direito
















































