Por Bruno Ernesto
Recentemente, li uma excelente crônica do grande Marcos Ferreira, na qual ele passou por uma quizomba daquelas (veja AQUI)! Quase parou no hospital. Um aperreio.
Tem quem não acredite em mau-olhado, olho gordo, quebranto, inveja, mandinga, enguiço, mau agouro e outras coisas.
Na última sexta-feira 13, pipocaram publicações na internet (que Xangô me perdoe), sobre essa data simbólica.
Eu mesmo publiquei a foto de Liev, meu gato preto da sorte.
Quando li a crônica de Marcos Ferreira, que falava sobre um mal súbito, possivelmente um mau-olhado, de súbito (desculpem o trocadilho), lembrei do mestre Luís da Câmara Cascudo e seu livro Meleagro, no qual fala de magia, catimbó, superstição, religiosidade e fechamento de corpo.
E, veja, Cascudo era católico fervoroso.
Quem já não teve medo de alguém lhe varrer os pés?
Certamente, você, leitor, já desvirou a sandália para proteger sua mãe. Talvez tenha colocado uma vassoura atrás da porta, batido na madeira três vezes e levado seu filho para rezadeira.
Minha mãe, católica fervorosa, me levava para Dona Mafisa me benzer com arruda e vassourinha quando era criança. Talvez para me livrar de uma pneumonia. Nunca esqueci.
Até Lampião, para a surpresa da volante que o matou na Grota do Angico, levava no seu bolso a oração da Pedra Cristalina. Talvez tivesse também a oração das 13 palavras ditas e retornadas. Quem sabe?
No aperreio ou por hábito, todos nós, consciente ou inconscientemente, consideramos certos rituais importantes para nossa saúde espiritual. Sexta-feira 13 passada, vi muita gente demonstrar isso, e achei excelente.
Afinal, tem quem não acredite. Mas não duvida.
Incenso, trabalhos de amor e outras mandingas também são populares. Bem, mas isso é outro assunto.
Há quem coma churrasco à noite, mas compre sal só durante o dia; não tenha medo de coruja, mas horror a rasga-mortalha e urutau; adore chá de arruda, faça figa, tenha olho grego pendurado na porta e reze um pai nosso antes de dormir.
O sincretismo religioso é tudo.
Já escolheu sua roupa anil, renovou sua folha de louro na carteira e passou desinfetante de lavanda?
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor