Por Marcos Ferreira
Houve momentos em que me arrisquei tocando em assuntos delicados ou polêmicos. Discorri acerca de temas espinhosos, como política, religião e até um pouco sobre futebol. Imaginem só isso! Futebol! Uma inconsequência de meu bestunto, admito. Mas o que busquei foi oferecer o máximo de minha pena, da linguagem de que faço uso com certa dose de imoderação, descomedimento.
Pois escrever, embora duro, penoso e solitário, também é algo que nos liberta e aprisiona a um só tempo. Sempre escolhi o melhor verbo, tentei simplificar sem baixar o nível, de forma que o leitor possa se elevar.
De minha parte, então, entreguei-me com ardor. Vivo em função da palavra. Não tenho outro anseio, ambição, exceto reverenciar nossa Língua Portuguesa. O texto é uma pedra bruta que nos propomos a esculpir. Às vezes a escultura derrota o escultor. Noutras vezes o resultado consagra o artista. De um modo ou de outro, enfim, escrever não é moleza. Requer paixão, entrega, tenacidade.
Colhi das árvores e beirais, durante a alvorada e à hora do crepúsculo, o canto benigno dos pássaros. Incrustei no exercício do meu letramento uma constelação de estrelas. Tudo isso em favor da literariedade e poeticidade da folha momentaneamente vazia. Nada pior que uma página em branco.
Reproduzi (bem ou mal) o som de regatos, o melódico dialeto da chuva banhando o espaço e a terra, metrificando horizontes, retomando seus caminhos. Cantei a moeda infalível da Lua, a juba indomável do Sol, o rendilhado das estrelas, o pisca-pisca de vaga-lumes parnasianos. Essas e outras joias apenas para louvar a poesia que há em cada vocábulo que descortina a hora azul do silêncio.
Caminhei com minhas limitações, com minha cultura rasa e modesta de um devoto da literatura. Porque não sou doutor em coisa alguma, não possuo estofo intelectual como o de alguns amigos e escritores que admiro.
Minha universidade foi uma pequena estante de livros. Daí provém o que sou e reconheço ser. Tudo fiz com esta verve, do meu jeito, à minha maneira. Não achei melhor forma de me expressar exceto pela escrita.
Marcos Ferreira é escritor