Por Marcos Ferreira
Mais uma vez estou aqui, diante da tela fluorescente do notebook, catando ideias e pensamentos com que eu possa urdir um texto minimamente digno de ser apresentado ao leitor. Não devo botar a cara fora com sensaborias, mera enrolação palavrosa. No entanto a semana voou e ainda não dei conta deste compromisso de produzir uma crônica dominical. Preciso arrumar isto em cima da hora, tirar uma carta da manga, eu que não sei jogar cartas, xadrez nem nada dessa natureza.
Embora paciente, compreensível com os meus apuros e contratempos domésticos e criativos, sei que o meu editor não está a fim de requentar outra página deste cronista, como fez noutros domingos neste espaço diversificado. Então prossigo garimpando um mote, uma fagulha, um tema a ser desenvolvido.
Muito bem. Vejam o seguinte. Geralmente é este um momento de prazer, de reencontro comigo mesmo e com algo que, permitam-me dizer, consigo manejar com razoável desenvoltura: o exercício da escrita. É isso. Não usarei de charminho ou falsa modéstia. Sou escritor e não tenho por que negar. Suponho que escrever seja a única atividade que realizo sem embaraço, atrapalhação. Hoje, no entanto, estou à vara e a remo. Pois a minha cabeça (de circunferência planetária) dói de maneira absurda. A isso, claro, dá-se alguns nomes como enxaqueca e cefaleia.
Portanto, a sinagoga pulsa, lateja. A pressão é grande. Exibe sinais de que vai explodir. Receio um derrame. Cedinho tive aquela ânsia de vômito e um suor frio. Porém não vomitei. O diclofenaco potássico, a dipirona monoidratada e um pouco de café seguraram as pontas. Imagino que sim. Estes são achaques típicos e velhos conhecidos deste apanhador de palavras. Então abandonei a rede.
Não está fácil. A redação sai picotada, cheia de arestas. As ideias vêm confusas, prolixas, desconexas. Sou obrigado a emendar e desemendar alguns pontos. Os ombros formigam. Estômago embrulhado, mãos trêmulas. Sinto um gosto de insucesso ou derrota perante a folha em curso. Os olhos marejam; até parece que têm areia. A luz desta manhã com céu amplamente azul representa um desconforto. Tenho a desagradável impressão de que escrevi muita coisa e não disse quase nada.
Peço perdão pela náusea, por esta cefaleia teimosa, recalcitrante. Perdoem, enfim, este relato bem pouco literário e decerto enjoativo.
Hei de engendrar algo melhor para o próximo domingo. Se minha cuca estiver em ordem.
Marcos Ferreira é escritor













































