Mesmo preguiçosamente a tarde consegue dar lugar a uma noite que chega de mansinho.
No céu surge a primeira estrela.
Breve virão as outras para formar a linda colcha de retalhos.
No horizonte avermelhado o anúncio de que a noite está chegando.
Lembranças muitas, saudades poucas, se atropelam e me lembram passagens já amortecidas pelo tempo.
Por que as lembranças não nos abandonam deixando lugar apenas para a saudade?
Para a saudade e os seus segredos.
Os sonhos vencidos pela realidade sempre a nos trazer lembranças.
Precisamos aprender a sonhar com pouco.
Em busca da realização de sonhos saímos procurando o que depois descobrimos não passar de meras espumas.
Só muito tarde percebemos ter deixado o realmente importante para trás.
Na corrida louca caímos e nos levantamos incontáveis vezes.
A vida passando e a gente sem perceber que corria em busca do nada. Do nada, sim, porque o importante estava conosco o tempo todo. E se estava conosco não precisava ser buscado em nenhum lugar.
É noite, a escuridão aumenta mais a capacidade de mergulhar em lembranças. E vem a vontade forte de fugir de tudo sem sair do lugar.
Ou não é isto o que a velhice nos reserva?
Certo que existem os que buscam a felicidade tão perseguida nos anos verdes brincando com sonhos de um futuro feliz. Imaginar-se imortais é a maneira de enganar os corações e de continuar sonhando.
A sorte é que cada saudade compensa mil lembranças e o amadurecimento nos grita que nunca devemos procurar saber como teria sido se não tivesse sido como foi.
Olho as brilhantes estrelas e vejo também uma lua linda.
E me pergunto se valeu a pena.
Claro que valeu.
Valeu porque tudo aconteceu sem a chatice do certo sempre presente.
A felicidade existe dentro de nós e é a soma dos nossos erros e acertos. Das nossas vitórias e derrotas.
Felicidade é a saudade que ficou.
Pena só compreendermos isto Tarde Demais.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
Meu Caro Inácio, li vossa crônica arrepiado!
Sabe aquela coisa que voce precisa ler, exatamente o que estou sentindo agora? Foi o seu texto!
Muito obrigado, de coração
Um abraçaço.
Caro Inácio, essa “caiu redondo” .
Vou ver como imprimir e colocar num quadro.
Outro abraçaço
“Lembranças muitas, saudades poucas”. O velho Inácio é sentimento. Consegue despertar em nossa alma algumas saudades. Mas que, certamente, valeram a pena.
Parabéns pelo belo texto, amigo.