Como diz a canção do cantor-compositor José Augusto, “todo sábado é assim”. A rotina se repete.
Perto da Mercado da Cobal (Central de Abastecimento Prefeito Raimundo Soares), onde faço a feira semanal, estaciono o carro sempre no mesmo local. A cena não é diferente do sábado anterior.
Deve ser, inclusive, o mesmo retrato de todos os dias da semana. A moradora de rua, com o sol já iluminando as primeiras horas da manhã, dorme em sono profundo – indiferente à violência dos dias atuais. Ao seu lado, um depósito desasseado com restos de comida, entregue às moscas, de uma boia que pelo aspecto não deve ter sido boa.
O colchão, roto, em frangalhos, na calçada imunda, serve de abrigo para o repouso do corpo adormecido.
A coberta, uma colcha esfarrapada mais suja que o colchão, agasalha a mulher ajudando à mesma a enfrentar o frio da madrugada escura e silenciosa.
Sabendo que isso é uma amostragem de uma realidade por todo esse Brasil afora, uma gota d’água nesse país continente, onde há milhares de moradores de rua iguais à habitante da calçada da Cobal, é que vejo quão desigual e cruel é nossa pátria. Indago então a mim mesmo, ao ver o quadro semanal dessa desprotegida da sorte: que esperança ou sonho poderá ter a infeliz moradora de rua, onde um prato de comida depende da boa vontade dos transeuntes indiferentes?
Terá alguma aspiração na vida?
Verá alguma luz no fim do túnel?
Creio que não.
Seus dias e noites devem ser todos iguais. Sem luz, sem vida, sem futuro, sem esperança enfim.
Paulo Menezes é meliponicultor e cronista
Parabéns pela crônica. As políticas públicas para essa população na nossa cidade são tímidas . A atenção mais expressiva era da diocese com o trabalho das irmãs no abolição, mas elas estão cansadas e o trabalho é árduo, precisa da colaboração de todos.
E a Assistência Social do município não consegue fazer nada? Sequer pensa numa casa de acolhimento pnde estes deserdados da sorte possam passar a noite?
Onde estão as igrejas que tanto falam em CARIDADE?
“…Sem luz, sem vida, sem futuro, sem esperança enfim.”
Como diz outra música, esta de Roberto Carlos: “vivendo por viver”!
Realmente amigo Paulo, a sua tela de hoje faz doer a alma de quem se diz humano, faz sangrar o coração dos que realmente o possui, nos deixa em pedaços fragmentados diante a sensação do ver, sentir e ficarmos nanicos. Diante as comparações e demonstrações bíblicas, daquilo que ali se encontra escrito e que nos púlpitos das igrejas escutamos, ouvimos, meditarmos e analisamos; fica uma pergunta que não quer calar dentro de nós. Se a criatura humana que estar descansando o seu físico numa calçada pública, com todas as intempéries do ambiente que você descreveu, quando partir para outra dimensão e nao ganhar o céu por recompensa, que lugar teremos nós quando formos também para a outra dimensão se temos tudo?
Amigo, só em lembrar me faz tremer, pois somos abençoados e reclamamos as vezes por tão pouco. Que Deus na sua omnisciência e onipotência nos guarde sempre.
É uma realidade nua e crua, meu caro Paulo Menezes, infelizmente. Para o nosso deleite, o amigo está escrevendo semanalmente para o Blog.
Continue a nos brindar.
Forte abraço.
Depois de uma constatação e documentação (com fotos, inclusive), entendo que cabe inicialmente à Secretaria de Assistência Social tomar as providências necessárias, em nome da gestão que ora se inicia, para que as pessoas menos amparadas passem a ter um olhar mais caridoso e providente por parte da administração pública.