quinta-feira - 17/04/2008 - 17:01h

Tragédias humanas e circo político


Quando os Estados Unidos e o mundo foram abalados pelo atentado às torres gêmeas, o "World Trade Center" (11 de setembro de 2001), um nome em especial garantiu seu lugar na história: o prefeito nova-iorquino Rudolf Giuliani.

Sem precisar se meter entre os escombros dos edifícios, puxar corpos dilacerados ou passear com roupa de bombeiro, o prefeito ganhou projeção internacional. Prevaleceu a capacidade de administrar a crise.

Abaixo da linha do Equador, precisamente em Mossoró, que se jacta de ser "um país" dentro de um país – o Brasil, como se vivesse num estado próprio, tragédia de menores proporções revela o atraso de sua elite política. Por aqui não se repete o fenômeno Giuliani.

Há uma visão promíscua e oportunista diante da tragédia humana.

Na hora de enfrentar os efeitos de um cataclisma, como a cheia do rio Mossoró, importantes agentes políticos da cidade, da oposição ao governismo, não apresentam grandes diferenças entre si. Apostam no acontecimento como chance para projeção em cima da miséria alheia.

Deixam de mostrar ação e competência gerencial numa exigência atípica como essa.

CAMPANHA

A pré-candidata a prefeito da oposição, Larissa Rosado (PSB), apareceu em áreas alagadas ao lado de inúmeros partidários. Todos estampando camisetas vermelhas, cor padrão do partido e da eventual campanha à prefeitura da parlamentar. Seus veículos de comunicação trataram de espalhar a mensagem.

Orientada por sua assessoria, a prefeita Fafá Rosado (DEM) despontou em cena entre o sábado (5) e a segunda (7), devidamente paramentada com camisa azul (seu padrão de cor no governo e campanha). Em seu entorno, um numeroso elenco de auxiliares, todos fantasiados no mesmo padrão.

Como não poderia deixar de ser, a prefeita teve o suporte da imprensa em privilegiados espaços pagos, louvada por sua intervenção "heróica" e "benemérita". A partir de sua assessoria houve distribuição de numerosas fotos e release (matéria jornalística oficial), onde o desatino ficou em evidência.

Fafá chegou a ponto de ter declaração pública divulgada, "cobrando" um percentual de 10% de recursos federais que seriam repassados ao estado, para assistência às vítimas das enchentes no RN. Outro absurdo.

Qualquer pessoa medianamente bem-informada, orientada e preparada jamais colocaria um depoimento desse nível à propagação. O dinheiro pretendido por Fafá, se realmente for atendido, não passará de R$ 9,8 milhões (a União prometeu R$ 98 milhões ao governo do estado).

Os "10%" que a prefeita impôs para Mossoró devem ser insuficientes para atendimento ao básico, como alimentar milhares de desabrigados. O que ela disse, não merecia ter sido escrito e repercutido. Denota despreparo.

CANOA

Mas o pior dos micos estava mesmo reservado para a segunda-feira. Aboletada numa canoa, com a companhia constrangida da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), um canoeiro anônimo e um cachorro vira-lata, a prefeita fez pose para câmeras fotográficas de sua assessoria e imprensa.

Com um remo à mão, até simulou que movia a "nau-capitânia." O efeito foi extremamente negativo.  No Blog do Carlos Santos (AQUI), ainda à noite da segunda, uma matéria com foto da situação picaresca foi publicada com texto analítico recebendo endosso maciço à crítica. Os comentários chegaram a mais de 60 participações.

A pantomima foi rechaçada por quase 100% dos internautas.

Descobrindo o embaraço criado à prefeita, sua assessoria tentou pelo menos atenuar a tolice, retirando do ar – no saite da prefeitura, a matéria e foto com narrativa sobre a sua "odisséia" ao lado dos demais tripulantes da canoa. A decisão foi tomada na quarta (9).

Se o episódio for objeto de reflexão séria, não apenas Fafá e seu sistema, mas a classe política como um todo deve aprender muito.

– Sou construtor e eleitor da prefeita, mas acho que para mostrar aos compradores dos meus condomínios que zelo pelos imóveis e por eles, não preciso "sentar tijolo" e pegar na massa. Tenho que gerenciar a obra, garantir cronograma e qualidade – comenta um empresário da construção civil.

O exemplo é emblemático. Sem comentários adicionais.

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. Francinaldo diz:

    E essa nova foto da prefeita na caça ao mosquito transmissor da dengue??? Você já viu?

  2. Paulo Gilberto Morais dos Santos - J. Pessoa (PB) diz:

    É realmente enorme a distância que separa a atitude de um Rudolf Giuliani da de uma Rosalba Ciarlini.

  3. Carlos Magno diz:

    Só uma pequena retificação: “elenco de auxiliares” eu diria: “elenco de parasitas”.

  4. Carlos Magno diz:

    Seria bom não incriminar o canoeiro e o seu fiel pulguento. Eles não têm nenhuma ligação com essa tramóia. Estavam lá apenas para aparecer no “retrato para a posteridade”. Ora ora, eu num tô dizendo meeRmo!!

  5. alvaro neto diz:

    Francinaldo para o nosso eterno deleite, nos informe como podemos ver esta maravilha da foto da Sherlock Holmes do Aedys.

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