Por Odemirton Filho
Há tempos procurava seguir por outro caminho, pois estava cansado da vida. O trabalho o consumia, mal sobrava tempo para curtir a vida ao lado de quem amava. Era preciso trabalhar para pagar os boletos. A vida se resumia a trabalhar? Seria um viciado no trabalho? Um workaholic? Pensava. Ao sair em férias nunca relaxava. Tinha medo de ser mandado embora quando voltasse.
O ambiente no trabalho era tóxico. A competitividade entre os colegas saltava aos olhos, desconfiavam uns dos outros; sem falar nos “puxadores de tapetes”. Os chefes sempre pediam o cumprimento das metas, e as metas nunca acabavam. Precisava era dar outro rumo à vida; aproveitar os poucos momentos para se distrair.
Os filhos cobravam a sua presença. “Sente um pouquinho aqui, papai, brinque com a gente”, diziam. E ele nunca podia, pois estava sempre ocupado, pensando nos relatórios a serem entregues. Já tinha visto colegas com vários anos de empresas serem demitidos por qualquer motivo.
Em dez minutos, após a comunicação do desligamento (um eufemismo para demissão), as senhas de acesso aos sistemas estavam bloqueadas. Consideração pelos anos dedicados à empresa? Rsrsrsrs.
Ficava a pensar: pedir demissão e ir vender coco na praia é coisa de filme ou novela. Não podia ter esse luxo, pois as contas de água, luz, prestação da casa, do carro, colégio dos meninos e a feira não esperavam. Porém, lembrou-se do livro de Aristóteles, filósofo grego.
O pensador considerava que os “impulsos humanos podem levar o indivíduo a extremos em termos de comportamento, e esses extremos representam o vício (o contrário da virtude). Por outro lado, a virtude estaria no equilíbrio, no controle sobre esses impulsos na busca pelo ideal de equilíbrio”.
A partir de então começou a não levar trabalho para casa. Sempre encontrava um tempinho para namorar a sua mulher; tirava meia hora por dia para brincar com os seus filhos.
Nos finais de semana não atendia aos telefonemas dos colegas da empresa para falar sobre trabalho. Aos pouquinhos foi encontrando o meio-termo. Nada de excessos. “Tudo demais é veneno”, diz a sabedoria popular.
A virtude está no meio.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
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