• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 27/11/2022 - 10:42h
Conversando com... Cicília Maia

Uern precisa extrapolar cada vez mais os seus próprios muros

Por Carlos Santos

A reitora da Universidade do Estado do RN (UERN), professora-doutora Cicília Maia, está há pouco mais de um ano à frente dessa instituição de ensino.

Graduada em Ciência da Computação, Cicília é professora efetiva do Departamento de Informática desde 2006 e compôs o quadro de professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (UERN/UFERSA). Obteve doutorado em Engenharia Elétrica e da Computação, pela UFRN, e pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Ela fez parte da equipe do professor Pedro Fernandes na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – na gestão do reitor Milton Marques, e foi Pró-Reitora de Recursos Humanos e Assuntos Estudantis no primeiro mandato de Pedro Fernandes (2013-2017). Na segunda gestão do reitor (2017-2021), Cicília atuou como assessora técnica da reitoria e na Chefia de Gabinete.

É a reitora da Uern num momento muito especial, com início de período de autonomia financeira da universidade. Nessa entrevista, ela fala sobre alguns aspectos desse trabalho e seus desafios.

Cicília Maia está (Foto: arquivo)

Cicília Maia diz que autonomia exige ainda mais dedicação e zelo (Foto: arquivo)

Em um ano de gestão, quais têm sido os principais desafios e conquistas à frente da Uern?

Primeiro, Carlos, obrigado pelo espaço neste importante espaço jornalístico. Quero aqui reiterar o meu agradecimento à comunidade da Uern pela confiança que nos foi dada, ao sermos escolhida, ao lado do professor Chico Dantas, para ser a reitora da instituição. De setembro do ano passado até aqui temos vivenciado importantes momentos na história da Uern, conseguindo conquistas fundamentais ao seu fortalecimento, como foi o caso do fim da lista tríplice para reitoria e vice-reitoria, a autonomia financeira da instituição, os planos de cargos, carreiras e remuneração dos servidores técnicos e docentes, e a ampliação de nossa política de ações afirmativas, atendendo melhor à nossa classe estudantil e toda sua diversidade.

Com a conquista da autonomia financeira, a Uern passou a poder planejar melhor suas ações, tendo a segurança em relação ao recebimento de seus recursos. Isso possibilitou que a universidade conseguisse honrar os compromissos com fornecedores, efetuar os pagamentos necessários, e projetar melhorias na infraestrutura, na aquisição de equipamentos e materiais, retomando, aos poucos, um cenário de investimento que há muito tempo não se tinha condições de fazer devido aos contingenciamentos orçamentários. Estamos trabalhando e cumprindo aquilo que assumimos como  compromisso com a comunidade universitária. Melhorias importantes nos campi avançados vêm sendo feitas constantemente, no campo estrutural mas também em relação à equipamentos em salas de aula e laboratórios.

Os desafios são aqueles comuns a qualquer gestão pública, mas temos contado com apoio da comunidade universitária e conseguido avançar em pautas extremamente necessárias à instituição.

Esse trabalho realizado foi importante para fortalecer a imagem da universidade junto às pessoas?

Com certeza. Iniciamos a gestão com duas lutas históricas, que eram a busca de autonomia e dos planos de cargos dos servidores, e conseguimos unir a comunidade, conquistar o apoio da sociedade e concretizar esses sonhos. Tivemos uma recepção e apoio fundamental na Assembleia Legislativa, com todos os deputados e deputadas nos apoiando, e a compreensão e parceria do Governo do Estado. A governadora Fátima Bezerra (PT) e sua equipe foram imprescindíveis para que pudéssemos comemorar essas conquistas.

Foi um momento que não esquecerei jamais. Tudo isso mostrou às pessoas como a Uern é forte e o principal patrimônio vivo do Rio Grande do Norte. De lá para cá, temos colocado a universidade cada vez mais presente no dia a dia das pessoas, seja por ações no campo do ensino, da pesquisa ou da extensão. Precisamos extrapolar cada vez mais nossos muros levando o melhor dos programas/ ações que tenham impacto no dia a dia e qualidade de vida do povo potiguar.

A associação dos docentes (ADUERN) anunciou recentemente uma paralisação das atividades cobrando reajuste salarial. O plano de cargos dos servidores não conseguiu atender às necessidades?

Toda a sociedade acompanhou o trabalho que fizemos, junto com a comunidade acadêmica, em busca da autonomia financeira e também dos planos de cargos. Para que pudéssemos avançar com o projeto dos planos, cada categoria elaborou sua proposta, aprovou em assembleia, e encaminhou para que a reitoria pudesse enviar ao Governo do Estado. Trabalhamos todo o tempo em constante diálogo e acordo com os sindicatos, encaminhando as propostas elaboradas por suas categorias. O plano dos servidores técnicos, por conter uma tabela única com as previsões salariais, foi aprovado integralmente. O plano dos servidores docentes – contendo tabelas escalonadas para os anos de 2022, 2023, 2024 e 2025, em alinhamento com o que foi pactuado na lei de autonomia financeira para estes anos, foi aprovado e transformado em lei, mas somente com a tabela referente às previsões salariais para 2022. Porque? Pelo fato do impedimento legal do governo, em seu último ano de mandato, de sancionar uma lei que resultaria em impacto financeiro para os anos subsequentes.

Desta forma, pactuou-se que, ao final de 2022 seriam encaminhadas as tabelas restantes (2023,2024 e 2025), ao Governo e Assembleia Legislativa, para efetivação da parte complementar do plano de cargos docente, por meio de nova lei.

Entretanto, a associação dos docentes  passou a desconhecer o plano por ela apresentado, e tem reivindicado a aprovação de novas tabelas, desta vez com um impacto financeiro bem diferente daquele apresentado nas tabelas enviadas ao Governo do Estado ainda em 2021.

Reitora (Foto: Uern)

Reitora fala sobre reajuste salarial (Foto: Uern)

Temos dialogado com a associação reafirmando o nosso compromisso, assumido desde o início, de cumprimento do que foi estabelecido inicialmente, já que é essa a realidade prevista nos percentuais da autonomia financeira para os respectivos anos. Desde o início de todo este processo fizemos questão de ressaltar que os planos apresentados não corrigiam todas as perdas salariais históricas que tivemos ao longo de mais de uma década, mas que seria um começo importante para que ao final de 2025 pudéssemos passar a prever um cenário com reajustes salariais que possamos compensar esse histórico e gradativamente pudéssemos realinhar o que é justo e merecido aos servidores que tanto trabalham em prol da educação pública, gratuita e de qualidade.

Então, não se trata aqui de propostas de reajustes que a reitoria tenha oferecido, se trata de cumprir o que está previsto no plano – frise-se novamente – pactuado por todos. Todo o histórico deste processo é público e pode ser conferido por qualquer cidadão. A comunidade nos conhece e sabe que lidamos com responsabilidade, zelo e verdade.

No início de sua gestão uma das marcas foi a efetivação de uma política que garante que no mínimo 50% dos cargos de primeiro escalão da administração central sejam ocupados por mulheres. Qual o impacto disso junto à comunidade?

A equidade de gênero é um compromisso que não deve ser somente das mulheres, como algumas pessoas pensam. Deve ser um compromisso de todas as pessoas que acreditam e que lutam por um mundo mais justo. Ter mais mulheres liderando os processos de gestão, seja na universidade, no governo, nas empresas, no dia a dia, é uma experiência que muda todo o sistema. Por meio de ações como essa, e outras mais, queremos que as mulheres que fazem a universidade sintam-se cada vez mais acolhidas neste espaço, e tenham cada vez mais oportunidades e condições de estudar, pesquisar e fazer aquilo que lhe interessa nesse seu percurso profissional. Recentemente, inauguramos  o espaço da Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade, no Campus Central, em mais um momento de fortalecimento dessa atuação estratégica. A diretoria de ações afirmativas e diversidade foi um compromisso que assumimos e que já concretizamos. Com ela, questões fundamentais de apoio e assistência a estudantes e servidores e servidoras terão um suporte e acompanhamento institucional mais humanizado e forte.

Cicília, as pessoas conhecem bem a reitora da Uern, a professora, mas parece que há uma poetisa escondida em você. Isso é verdade?

Nossa, Carlos. Você já sabe disso? Olha costumo dizer que sou uma poetisa em construção e tímida nesta matéria. Mas na pandemia resgatei a poesia como forma de colocar para fora muito do que não conseguia compreender. Gosto das letras e de sua intensidade. E foi muito bom! Encontrei pessoas que me inspiraram como prof. Ailton Siqueira e a jornalista Rosalba Moreira. Com Rosalba fiz alguns versos. Quem sabe liberaremos nosso livro, que está pronto já, em breve.

Qual a importância de uma mulher na liderança da única universidade pública estadual do Rio Grande do Norte para inspiração e motivação a mais mulheres ocuparem espaços de liderança?

Tenho como princípio e vontade me aperfeiçoar enquanto pessoa humana. Falo isso para poder dizer às mulheres que muito temos a construir, a  aprender e a fazer e se não formos nós dizendo ao mundo o que nós queremos e merecemos quem dirá?

Eu, terceira reitora mulher, mãe, professora e pesquisadora, aproveito todos os espaços, toda ocupação de fala para levar essa voz que por muito tempo foi de homens. E sempre digo que a missão é coletiva e só ganhará a dimensão necessária quando a sociedade entender que a luta é de todos e todas e não somente de nós mulheres.

Qual sua expectativa para os próximos anos, tendo a Uern, agora sim, como uma universidade autônoma financeiramente?

Neste ano a Uern teve conquistas importantes e históricas e isso foi possível porque toda a comunidade universitária esteve junta e unida. Quero agradecer toda essa construção coletiva à nossa comunidade universitária (estudantes, docentes, técnicos (as) e terceirizados) e sociedade em geral. Estou cada dia mais convicta que a autonomia financeira da Uern é uma conquista fundamental para a instituição exigindo cada vez mais responsabilidade, zelo, compromisso, diálogo, união e maturidade institucional para que possamos tornar a universidade ainda mais forte.

Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e YouTube AQUI.

Compartilhe:
Categoria(s): Conversando com... / Entrevista/Conversando com...

Comentários

  1. Lair Solano Vale diz:

    NO sou da Uern e nem fui seu aluno. A Uern se encontra em boas mãos sendo dirigida por uma mulher simples e talentosa. Parabéns e sucessoa toda sua equipe.

  2. jgh diz:

    O blog democraticamente aceita comentários elogiosos de quem nao é da uern.
    E nenhuma critica
    Continua assim!
    Vais longe👏👏👏👏👏👏

    • Carlos Santos diz:

      NOTA DO BLOG – Você pode usar seu nome e seu e-mail verdadeiros para comentar. Não precisa se esconder em nome e endereços falsos. Faça isso que liberamos os comentários. Acredito que o fará.

      Pelo registro do IP que temos aqui no sistema, conhecendo-o socialmente, sei que não terás dificuldades em se apresentar e comentar, emitir opiniões, críticas etc.

      Faça isso.

      Um abraço e muito obrigado por sua leitura fiel.

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.