E o pior que muitos ex-professores da Universidade Federal do RN, quase todos já aposentados, fizeram pesquisas durante os cursos de doutorado realizados no exterior e no Brasil e colocaram suas teses nas estantes das bibliotecas dos seus departamentos ou na Biblioteca Central Zila Mamede, onde se encontram “mofando”, empoeiradas. Segundo me informou um engenheiro de renome regional, especialista em esgotamento sanitário, reuso de águas servidas, etc, o desinteresse no aproveitamento dos conhecimentos adquiridos no curso dessas pesquisas, nas quais foram investidos muito dinheiro público, é enorme.
E mais: muitos pesquisadores afirmam abertamente que não vão dar tecnologias de graça para “enricar” mais os empresários locais. Esses pesquisadores, cujos nomes não foram revelados, são contrários à aplicação de tecnologias adquiridas, após anos de estudos e testes laboratoriais, no mercado nacional. Querem (ou queriam?) apenas receber os títulos de doutores, engordar os seus contra-cheques para garantir uma aposentadoria mais confortável, esquecendo que suas pesquisas e patentes podem ser compensadas financeiramente pelas empresas.
Essa mentalidade retrógada está sendo combatida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, através de campanha encetada pelo ministro Sérgio Resende, um físico pernambucano que já formou PHDs e tem a mente dirigida para o futuro do país. A cúpula dirigente da UFRN, onde se destaca o engenheiro Ivonildo Rego, não está dando a mínima atenção ao incremento das pesquisas e o sua aplicação no mercado. È o que parece. Por que?
Porque não se conhece qualquer iniciativa no sentido de integrar os esforços da Universidade, Sebrae, Federação das Indústrias e empresas potiguares para que as teses, as inovações tecnológicas, as patentes registradas ou simples invenções sejam transformadas em produtos industriais. O descaso da cúpula da UFRN, até prova em contrário, torna-se mais grave porque o apelo nesse sentido partiu de um professor universitário da UFPE, hoje ministro, realizado no dia de 19 de outubro de 2007, durante almoço oferecido pela governadora Vilma de Faria, realizado numa casa de recepções em Cidade Jardim.
O ministro Sérgio Resende tinha vindo a Natal inaugurar um laboratório de estudos de camarões e participar de um encontro de 800 físicos do nordeste, no Hotel Praiamar, em Ponta Negra (por sinal, sem nenhuma ajuda do Governo do Estado). Sérgio Resende disse que o encontro de físicos era mais uma iniciativa governamental para discutir os desafios do Nordeste, as linhas e projetos para o seu desenvolvimento, “uma cultura que não há nas empresas privadas daqui, mas temos que acabar com esse falso pudor, com essa falsa idéia de que está sendo cooptado, nas Universidades brasileiras de que o pesquisador está se corrompendo se atuar como empresa”.
Os professores de física da UFRN estavam lá, ao meu lado e ouviram o ministro Sérgio Resende afirmar, ainda, que ciência e tecnologia têm que ser percebida pela sociedade brasileira e lembrou que há dezenas de anos que os países desenvolvidos promovem a interação Universidade X Empresa e que o maior exemplo está nos Estados Unidos. “E são companhias firmes e não de fachadas”, garantiu o ministro, após externar a sua esperança de retornar a Natal nos próximos três anos e ver o quadro mudado, isto é, uma real integração entre a comunidade acadêmica e as empresas privadas.
Segundo um professor da UFRN, quase 4 meses depois do discurso do Ministro Sérgio Resende, a reitoria da Ufrn não mexeu uma palha nesse sentido. “Se o reitor se preocupasse com ciência e tecnologia como se preocupa, pessoalmente, com as liberações de verbas para viagens, cursos e diárias, aí, sim, a coisa seria diferente” completou um professor.
Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista e pesquisador.
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