Por Marcos Ferreira
Pode parecer que estou aborrecido, enfastiado com esse compromisso de escrever uma crônica dominical, porém não se trata de nada disso. Ainda menos estou de mal com quem me acompanha neste espaço. Acontece justamente o oposto. Sou grato e valorizo (de verdade) o pequeno grupo de pessoas que tiram uma parcela do seu precioso tempo para conferir o que trago de novo. Nenhuma reclamação nesse sentido. Como disse Ariano Suassuna, sou um escritor de poucos leitores.
A questão é comigo mesmo. Peço-lhes tão só uma pausa, algo de fato particular, que também pode ter a ver com a reduzida água que me resta no poço da criatividade, da inspiração, se assim quiserem definir. Então, ao menos por algumas semanas, estarei fora de combate. Esta será minha última crônica no correr de alguns domingos; por mais que alguns vejam como falta de comprometimento.
Esse autor fala muito a respeito dos seus achaques psicológicas! Ok. Quem dessa maneira me aponta não está de todo errado. Exponho, não nego, as subidas e descidas de minha gangorra emocional. O mais, a meu ver, é tabu. Ninguém se acanha, por exemplo, em relatar que tem um problema de coluna, uma hérnia de disco ou uma bursite. Quando a enfermidade é psicológica ou psiquiátrica, entretanto, aí se costuma esconder a moléstia. Não se deseja expor que temos problemas mentais. Até um câncer, seja ele de que tipo for, é compartilhado com os amigos e a sociedade.
Sinto um cansaço alojado aqui no meu juízo. Mas o leitor não merece meia-sola, texto sem o brilho, sem a voltagem própria e necessária da boa redação, de uma literatura verdadeira. Nada de fraude, de embuste palavroso. Há ocasiões em que não conseguimos enfeitar o pavão da escrita de maneira atrativa, com bom gosto e deleite para os leitores. Do contrário o cronista falha, o escritor fracassa.
Não é escassez de assunto. Não é. Isso é o que menos nos falta para esse artesanato com palavras. Mas uma nuvem sombria paira sobre minha cuca. Quem sabe seja por causa da morte trágica de Oncinha na segunda-feira, uma gata amorosa demais para a qual buscávamos um tutor ou tutora. Não deu tempo, foi atropelada na Ufersa. É dramático o número de animais abandonados naquela universidade. Posso imaginar o quanto essas minhas histórias de cães e gatos já devem ter enchido a paciência de alguns fidedignos leitores deste espaço de informação e cultura.
Todavia não quero falar acerca do triste fim de Oncinha. Estou aqui tentando levar adiante esta narrativa que explica a minha ausência provisória; de umas férias autoconcedidas à revelia de negociação com o meu paciente Editor. Penso honestamente que essa lacuna terá pouca importância. Existem neste blogue ótimos colaboradores, indivíduos traquejados no manejo da língua portuguesa.
Olho à volta e pressinto que daqui para o próximo domingo podem surgir várias outras coisas sobre as quais poderei escrever, contudo não pretendo fazer isso. Preciso de um tempo, puxar o freio de mão. Além disso, caso valha por justificativa, estou pelejando, fazendo mais uma revisão num romance que intento apresentar a uma conceituada editora de São Paulo, e o prazo está bem em cima.
Como eu disse, embora com a mente ocupada com o copidesque desse meu romance inédito, percebo que algo não anda direito no meu espírito nos últimos dias. Noto que há instantes de irritação e melancolia aparentemente sem motivo algum. Noites maldormidas e pesadelos têm sido constantes. Quase que faltei com estas linhas para o dia de hoje. Só me foi possível porque acordei de madrugada (pouco antes das três) e liguei o computador para redigir esta página sofrível.
O resto da semana foi de esterilidade criativa. Não me entendi com os meus botões. Meu psiquiatra, com o qual me consulto há seis anos, me falou (num tom brincalhão) que sou um elemento misantropo. E tal brincadeira tem o seu fundo de verdade. Sim. Digo que possuo algum nível de misantropia.
Acredito que é melhor encerrar por aqui. Chega-me a forte impressão de que já falei além do necessário. Admito que as ideias não me surgem bem articuladas. Tenho urgência, uma certa pressa em encerrar estas palavras que, do ponto de vista literário, parecem-me inferiores a diversas outras que apresentei a vocês. Por “última” crônica, pois, considero que esta está de bom tamanho.
Até breve, portanto. Assim eu espero.
Marcos Ferreira é escritor
Vou falar de sentimentos: fiquei triste com essa decisão sua! Contudo entendo os seus motivos! Faço tratamento de depressão e fui muito mal compreendida pela minha própria família. Diziam: isso é frescura; doença é um câncer. Ouvi mais de uma vez. Um dia descobri um câncer e acreditaram que, naquele momento, não era frescura. Diante do infortúnio de um diagnóstico que é quase uma sentença de morte, fiquei agradecida por não precisar quimioterapia nem radioterapia; o problema foi resolvido com a retirada do órgão envolvido.
Sei que a vida é feita de batalhas e as mais difíceis são aquelas que travamos com nós mesmos. Nosso maior inimigo não está fora de nós; está dentro de nós! Compete à gente fazer as escolhas! Você é um ótimo escritor e, durante esse tempo que o acompanho, sei que o meu domingo tem algo diferente. Vou ter que aprender a não esperar suas publicações. Como diria o autor do Pequeno Príncipe, você é eternamente responsável por aquilo que você cativa e você me cativou. Nunca o vi pessoalmente mas sinto que o conheço bem. O meu lado de observadora teme que você sinta o mesmo vazio que está nos destinando. Mas decisão, é decisão! Vou ter que trabalhar o desapego pois me viciei com suas publicações dominicais. Vício bom! Talvez você nem saiba o bem que nos faz. Falo por mim e acredito que os “poucos” seguidores, devem estar se sentindo meio órfãos.
Meio intuito não é deixá-lo triste; como falei no início, falaria de sentimentos. E é isso o que estou sentindo! Respeito sua decisão! Seja feliz! Se puder, volte!
Caro Marcos Ferreira, não se cobre e não se dobre, vivencie seu necessário distanciamento, possibilitando, inclusive dar últimos retoques no livro que irás publicar. Pois o cobre dos que o cobram, não são se não armadilhas, vaidades e egolatrias desmedidas dos que não se assumem, também de alguma forma doentes, seja do tipo psicológico, emocional ou até mesmo psiquiátrico.
Esse fato e essa observação me fez lembrar da letra de uma música do Kid Abelha, que em um dos seus estrofes revela algo que todos nós de alguma forma exercita em nosso recôndito, por vezes não assumido e silencioso egoísmo…
“Eu quero você como eu quero”
A propósito dos tipos instáveis emocionais, misantropos e outras formas de expressão do nosso eu não tão adequadas ao universo social tão bem supostamente posto e idealizado. Nesse sentido, já que não tenho ciência do seu ZAP (Para enviar-lhes um vídeo da BBC), se é que usa essa ferramenta dos ditos tempos modernos da comunicação. Ainda assim lhes recomendo, quando tempo tiver e poder, entrar no Youtube e assiste r. vídeo sob o Título: ” Livre arbítrio não existe” por Roberto Sapolsky
Olá, Marcos!
Você mais do que ninguém, sabe das suas necessidades, mas vou sentir falta.
Não se distancie da escrita. Ela é vida!
Abraços
Boa tarde, querido poeta. Sua decisão me fez lembrar agora a partida do craque Zico nos anos dourados do futebol para a Udenese italiana…À época Moraes Moreira providenciou um ” volta galinho” que aqui tem mais carinho e dengo. E o galinho voltou fazer magias no Maracanã… Esperamos que suas merecidas “férias” sejam breves e que a orfandade desse espaço literário seja restituída tão logo essa nuvem escura passar. Bom domingo e vamos à luta!
Meu caro escritor, quem escreve, faz arte, sempre precisa de um tempo de introspecção para depois retomar com toda força.
Abraço!
Querido amigo “cafezista” é xará!
Sentiremos – e muito! – sua falta!
Seus textos são imprescindíveis às nossas manhãs domingueiras.
Que seu período “sabático” seja muito breve.
Nós, seus leitores – e admiradores – padeceremos de uma crise grave de abstinência literária.
Forte abraço!
Respeito sua decisão, meu dileto amigo. Às vezes, precisamos de um tempo. Tenho que certeza que voltará a este espaço, logo, logo.
Estarei esperando para admirar seus textos e, sobretudo, aprender.
Um forte abraço, deste amigo-aprendiz.
Fique bem.
Meu nobre Marcos, boas férias. Você merece e com certeza precisa destes dias. Descanse bem e estamos aqui ansiosos pelo regresso dos seus belos textos, da sua inigualável escrita. Boa sorte, caro escritor. Beijo em Nat. Abraço.
Célebre frase do amigo poeta Crispiniano Neto contextualiza o cenário coreografado e emoldurado em transcendental reflexo D’alma. Devo observar que a minha misantropia
vive perene frenesi intercalado com ciclotimia Kardecista. Aja e haja malucos-beleza !.
A célebre frase/ poesia do Velho Crispa :
SAIR SEM PARTIR
FICAR QUANDO PARTE
A VIDA REPARTE
TEU PEITO EM METADES.
Boa noite ,
Melhoras companheiro.
Um grande abraço.
O título me fez lembrar a crônica de Fernando Sabino. Entretanto, sei que o amigo está se fortalecendo e voltará com força total. Melhoras!
Querido Marcos,
Prefiro achar que você está tirando umas bem merecidas férias. Sentiremos falta dos seus textos maravilhosos. Relaxe , descanse e volte com tudo para os nossos Domingos.
Beijos!