Por Odemirton Filho
Não, não se trata de uma resenha do livro da escritora alencarina Rachel de Queiroz, Um alpendre, uma rede, um açude. Apenas tomei por empréstimo parte do título para compor esta crônica.
Na verdade, quero resgatar sentimentos de um tempo passado que, volta e meia, invade-me a alma e o coração.
Uma casa com alpendre, como se sabe, é um convite para se jogar conversa fora, seja em uma fazenda ou numa praia.
Em um alpendre se fala sobre tudo e, principalmente, da vida alheia, só escapando quem voa alto. Em outros tempos, do alpendre da casa de Tibau, ouvia-se: “olhe a tapioca, o grude”. Tomava-se um café acompanhado de um pedaço de bolo de leite. Ou fofo.
Na minha época de menino o alpendre da casa ficava lotado de adultos e crianças. Não tínhamos medo de dormir fora da casa. Muitos preferiam dormir sentindo o vento frio da madrugada e tendo a lua com lamparina.
Na infância falávamos sobre histórias de casas mal-assombradas, contos de pescador (se sentir cheiro de melancia, não entre no mar, tem tubarão por perto). Demorávamos a dormir. Ninguém queria “pegar” no sono e ser motivo de chacota. Corria-se o risco de ter o rosto pintado com uma pasta de dente.
Os mais traquinos armavam a rede de modo que quem fosse se deitar levasse uma queda. O riso era geral. Aquele que caiu, por vezes, levantava-se “brabo”, doido para “ir nas orelhas” de quem fez a brincadeira de mau gosto.
Já adolescentes, quando voltávamos das festas de madrugada, ficávamos resenhando. Quem “descolou” ou quem somente encheu a cara. Alguns chegavam bêbados e, com o balanço da rede, vomitavam pra valer.
Mas é claro que um alpendre tem os seus momentos de calmaria. A rede é um convite à leitura. Um cochilo. Sim, eu sei caro leitor, a rede também é um convite para o aconchego dos casais.
Pois é. Um alpendre e uma rede oferecem agradáveis momentos. E boas, boas lembranças.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Muito boa a crônica. Voltei no tempo à casa de meu avô materno; lá tinha rede pra todo mundo! Recordações de uma infância sem TV e com muita criatividade! Parabéns! Feliz 2024!🥂
Feliz 2024, Bernadete Lino, tudo de bom para a senhora e a sua família. Obrigado pelo comentário.