Veja abaixo uma entrevista com o jornalista e blogueiro Daniel Dantas, que divulgou gravações que apontam o uso de Caixa Dois e outros crimes eleitorais na campanha do DEM de 2006 no estado. Ele é jornalista diplomado pela UFRN (2000) com mestrado (2006) e doutorado (2012) em estudos da linguagem pela mesma universidade. Coordenou o movimento de Blogueiros Progressistas no RN entre 2010 e este ano e mantém o Blog de Olho no Discurso desde 2009. A entrevista faz parte de um projeto experimental da própria UFRN.
Por Antonino Condorelli
O jornalista Daniel Dantas Lemos publicou em maio passado, no Youtube e em seu blog De Olho no Discurso (blogdodanieldantas.blogspot.com), uma série de gravações que apontam crimes eleitorais que teriam sido cometidos em 2006 por representantes do Democratas (DEM) durante a campanha para a Câmara e o Senado em 2006. A atual governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), seria a principal beneficiada. O caso repercutiu em alguns blogs nacionais de destaque, mas não teve ampla cobertura pela mídia local e não chegou aos grandes veículos de imprensa nacionais. Conversamos com Daniel Dantas sobre essas gravações.
O que relevam as escutas telefônicas às quais teve acesso?
No dia 21 de maio, recebi de uma fonte anônima um DVD que continha 42 gravações de uma investigação do Ministério Público realizada em 2006 contra o atual Secretário Adjunto da Casa Civil do Governo do Estado, Francisco Galbi Saldanha, porque o irmão dele tinha se envolvido em um crime de pistolagem no interior do Estado. Interceptaram o telefone de Galbi para tentar descobrir se estava dando cobertura ao irmão. Essas interceptações telefônicas levantam indícios muito fortes de crimes relacionados às eleições da 2006, época em que Galbi era coordenador de despesas da campanha do então Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), especificamente da campanha de Ruth e de Rosalba Ciarlini: a primeira candidata à reeleição como deputada estadual e a segunda candidata ao Senado. As gravações indicam crimes como a prática de Caixa Dois, a compra de apoio político, a compra de votos e o uso de notas frias para justificar gastos eleitorais. A voz predominante é a de Carlos Augusto Rosado, marido de Rosalba Ciarlini, e os crimes levantados pelos áudios envolvem a atual Governadora, o senador José Agripino Maia, o deputado federal Betinho Rosado, o próprio Carlos Augusto Rosado e, claro, Galbi Saldanha. Em 24 de maio, o Ministério Público Estadual informou que encaminhou em 2009 todo o material para a Procuradoria Geral da República, que tem atribuição para investigar senadores e deputados federais
Essa investigação aconteceu?
Essa é a questão. Desde o dia 28 de maio, venho solicitando à assessoria de imprensa da Procuradoria Geral da República informações sobre o que aconteceu com a denúncia lá em Brasília. Não souberam me dizer até hoje o que foi feito.
Ao que atribui essa aparente inércia?
O fato de não termos essa informação pode significar várias coisas. Na melhor das hipóteses, que a investigação foi feita e continua sendo levada adiante de maneira sigilosa. A segunda possibilidade é que não tenham levado a sério a informação e, por isso, não tenham se aprofundado na denúncia, que não teria sido nem arquivada, nem levada à frente. A terceira possibilidade é que a denúncia tenha sido arquivada. O que é estranho é que também em 2009 a Operação Vegas, que envolvia o senador Demóstenes Torres, chegou à Procuradoria Geral da República e, depois de algumas ações, não teve prosseguimento. Demóstenes Torres também era do DEM. Temos, então, vários políticos daquele partido envolvidos em escândalos. Assim, surge inevitavelmente a pergunta: será que há um acobertamento do DEM na Procuradoria Geral da República?
Por quê, em sua opinião, a maioria dos meios de comunicação do Rio Grande do Norte não noticiaram o caso, apesar da gravidade dos crimes que parece apontar o conteúdo das gravações?
A bem da verdade, quero destacar que alguns jornais e rádios noticiaram o caso. A maioria com muito atraso e sem muito destaque, com a única exceção do Jornal de Hoje. A desculpa que alguns meios de Natal deram para nem sequer mencionar o caso é que não seria notícia, posto que é antigo e já prescreveu, que não é verdade: os crimes apontados pelas gravações vão prescrever em 2018. Há interesses políticos envolvidos, as empresas de comunicação têm ligações políticas e, além do mais, o maior anunciante continua sendo o poder público. Cheguei a saber, inclusive, que Carlos Augusto Rosado pediu a Henrique Eduardo Alves que interferisse para o assunto fosse retirado da pauta do jornal O Globo, que iria publicar uma matéria sobre o caso. Há claras interferências políticas no que diz respeito à divulgação de informações que atingem diretamente a Governadora Rosalba. Mas as denúncias são muito graves: a sociedade norte-riograndense precisa que não caiam no esquecimento.
* Esta entrevista foi originalmente veiculada pela Agência Fotec, projeto experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Veja AQUI.
Essa estranha indiferença por parte do Ministério Público configura OMISSÃO VOLUNTARIOSA, que por sua vez tipifica DESÍDIA, o que delineia um quadro interrogativo sobre a omissão do MP potiguar por não ter agido de ofício à Procuradoria Geral da República denunciando as incontestáveis e inexpugnáveis ilicitudes penais e eleitorais. Temor de efeito dominó ?. Mistérios da meia noite…