Por Bruno Ernesto
No último dia 11 de agosto de 2025, a Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de Mossoró (ACJUS), recebeu em sua sede, Palácio Cultural Acadêmico Milton Marques de Medeiros, o mossoroense, acadêmico e imortal João Almino, único potiguar a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 8 de março de 2017, na sucessão de Ivo Pitanguy na Cadeira nº 22, e empossado em 28 de julho de 2017, da prestigiada academia literária fundada em 26 de julho de 1897, e presidida por Machado de Assis.
João Almino traduz e é a prova maior de que Mossoró é um berço profícuo da cultura e que tem alcance para muito além de suas fronteiras.
A simplicidade de João Almino pode ser constatada em sua trajetória de vida, marcada pelas suas vívidas lembranças de uma Mossoró que lhe acolheu aquela criança nos primeiros anos de vida até, literalmente, ganhar o mundo como diplomata.
Sua mente e criatividade literária, aliada à sua sensibilidade como um observador atento do cotidiano e das transformações sociais e interrelacionais, refletem prodigiosamente em suas obras literárias, como nos romances “As cinco estações do amor”, “Samba-Enredo”, “Homem de papel”, “Cidade livre”, “Enigmas da primavera”, “Ideias para onde passar o fim do mundo”, “Entre facas, algodão” e “O Livro das Emoções”.
Além para esse olhar literário, suas obras não-ficcionais também demonstram que o seu olhar técnico como diplomata enxerga muito além da crítica comum, como nas obras “Os Democratas Autoritários”, “A Idade do Presente”, “500 anos de Utopia” e tantas outras.
Ao contrário daqueles encontros mais formais ou ritualísticos, sua passagem por Mossoró, segundo ele próprio registrou, foi um reencontro com o seu passado, com os personagens reais que marcaram sua primeira fase de vida e, visivelmente emocionado, detalhou sua trajetória e o orgulho de ser mossoroense, demonstrando como a força de vontade e, sobretudo, uma mente brilhante e criativa, o fez trilhar um caminho sempre amparado na literatura.
Foi interessante constatar que suas memórias de infância e juventude nas ruas de Mossoró, assim como nos sítios da família, em muito se assemelha a outras tantas, como nos episódios de livramento que teve, ao quase sofrer de um choque elétrico fatal ao brincar; ao quase ser arremessado cerca a fora pela freada do cavalo em disparada, e ao ser salvo pela irmã de um atropelamento – certamente fatal – quando partiu em disparada bem em frente à sua casa. A diferença, talvez, seja que ele consiga contar esses episódios com vontade de repeti-los.
Sua passagem por Mossoró essa semana também foi marcada ao ser homenageado na vigésima edição da Feira do Livro de Mossoró, onde participou de uma sessão de autógrafos e uma conversa literária com os leitores.
Aliás, em sua recepção na sede da Academia de Ciência Jurídicas e Sociais de Mossoró, registrou que foi com um prêmio literário – o seu primeiro -, que conseguiu as passagens para poder ir ao Rio de Janeiro e prosseguir com a sua formação acadêmica, graduando-se em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestrado em sociologia pela UnB, doutorado em História Comparada das Civilizações Contemporâneas pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris e pós-doutorado no Centro de Estudos Avançados da USP, além de ter sido agraciado com a Medalha de Ouro do Rio Branco, após ter sido aprovado em primeira colocação no Curso de Preparação à Carreira Diplomática do Instituto Rio Branco, o qual dirigiu posteriormente.
Numa conversa franca e direta, portanto, João Almino fez questão de registrar que valoriza todas as instituições de promoção e preservação da cultura e da literatura, pois são o contraponto e o elo entre quem produz e quem vive a cultura, e que é importante manter viva e a veia cultural pulsante de todas as formas possíveis.
De fato, João Almino é um exemplo para todos que ainda acreditam que a cultura, arte e, sobretudo, a literatura, ainda vivem, e que é necessário resistir para ser cada vez mais valorizada.
É interessante notar, todavia, que poucos veículos de comunicação registraram a passagem histórica de João Almino por Mossoró essa semana. Não por onde, isso reflete e faz constatar que a pauta literária e cultural vem perdendo espaço para outras menos proveitosas, embora resista.
Aliás, se não fosse a criatividade literária, que nos permite essa fuga da realidade controlada, se assim podemos dizer, a vida – bem ou mal – seria menos interessante para todos nós e, talvez, o narrador de “O Empréstimo”, conto do Bruxo do Cosme Velho, tivesse razão, ao dizer que podemos elogiá-la à vontade: está morta.
Bruno Ernesto e advogado, professor e escritor
Muito bom o relato sobre a passagem do ilustre João Almino por Mossoró, Bruno. João é uma pessoa muito generosa e que orgulha Mossoró e o Rio Grande do Norte. E o Blog do Carlos Santos permanece sendo o espaço jornalístico com as melhores leituras do domingo. Abração, pessoal.
NOTA DO BLOG – Obrigado pela generosidade, querido Esdras. O domingo com tanta gente boa é um dos meus mimos nesta página. E sobre Almino (olha só a intimidade), infelizmente não consegui ir a nenhum dos compromissos dele em Mossoró. Perdi autógrafo desejado. Fica para outra oportunidade, assim espero. Abraçao
Meu nobre editor, sem dúvida, o BCS repercutiu, e muito, a passagem de João Almino. Domingo é dia de muita cultura, informação e conhecimento no BCS! Um forte abraço! Conte comigo sempre!
Obrigado, Esdras! A passagem dele foi bastante proveitosa. E, sim, o BCS é um espaço que valoriza, e muito, a cultura !
Realmente deve ter sido um momento singular. Pena que não deu para comparecer.
Abraços, Brunão!
Obrigado, Odemirton! Foi um encontro bastante proveitoso ! João Almino é uma pessoa muito querida por todos.
Ótimo texto, Bruno Ernesto. Assim como o imortal mossoroense da ABL, a sua narrativa contempla com simplicidade e clareza, a trajetória de um cidadão pleno. Parabéns à Acjus por dar o devido crédito ao ilustre escritor e torná-lo membro dessa conceituada casa de saberes. Parabéns ao confrade que tão bem expos os fatos narrados.
Obrigado, Rai! João Almino eleva e leva Mossoró para aonde vá!
Muito bom ler esse importante registro e o reconhecimento ao mossoroense, João Almino.
Obrigado, Larissa! Você sabe o quão é importante !
Uma simples observação : Percebe-se que, com certeza, involuntariamente, o nobre Autor do brilhante Artigo esqueceu em referenciar o nome completo do novel Imortal. O ilustre Imortal compõe a vetusta e tradicional familia RÊGO, povoadora dos rincões Oestanos-potiguares, em sua vertente genealógica Souza Rêgo. Parabéns pelo Artigo. Parabéns Mestre Alvino !.
Obrigado, Marcos Pinto. De fato, faltou esse detalhe. João Almino também tem raízes em Pau dos Ferros. Ele me comentou sobre isto. Um forte abraço.
Prazer por ler importante artigo ,reverenciando o ilustre escritor João ALMINO, qua através de comentários certifiquei que o mesmo descende da tradicional família Souza Rego do Oeste Potiguar, motivo p/ qual permita_ me perguntar: João ALMINO tem parentesco com o nobre tbm escritor , o abolicionista Dr: ALMINO Alvares AFONSO ? Satisfação e gratidão ,se possas me responder!… Obrigada,Fátima Oliveira.
Olá, Fátima. Obrigado pela leitura. Acredito que não há a nenhum parentesco entre João Almino e Almino Álvares Afonso, o Senador da República Velha, grande personagem de Martins/RN. Você pode se aprofundar sobre este assunto na obra “ Os Souza Martins: de Portugal ao Rio Grande do Norte”, de coautoria de Misherlany Gouthier, que está próximo do lançamento. Um forte abraço.