Por Gutemberg Dias
Tive a oportunidade de participar do processo de construção do Plano Diretor de Mossoró que em sua essência deveria responder a uma simples pergunta: “qual a Mossoró que nós queremos?”. Muitas foram as discussões, umas até nem tão técnicas, mas o que é fato é que o tempo passou e a pergunta que precisa de resposta ainda persiste. Qual a Mossoró que nós queremos?
O Plano Diretor tem um papel importante para o planejamento urbano, mas não é o documento único para balizar as mudanças gerais que o município precisa implantar. Isso é fato só pela necessidade de revisão dos planos diretores após um certo tempo, coisa que a gestão municipal de Mossoró vem deixando em segundo plano.
O cerne da discussão sobre a cidade que queremos está na visão de futuro que a administração tem para o município. Infelizmente parece que os gestores eleitos não gostam de trabalhar com cenários e planejamento, usam essas palavras apenas para incrementar seus discursos carregados de promessas e frases de efeitos a espera dos aplausos.
Analisando a Mossoró de ontem e a Mossoró de hoje que deveria já ter a resposta à pergunta balizadora do plano diretor, não vejo mudança que eu possa dizer é essa a cidade que eu quero. Os problemas que deveriam ter sido solucionados pelo gestão municipal continuam evidentes e com maior intensidade afligindo o povo dessa cidade. Saúde, educação, desenvolvimento econômico, turismo entre outros continuam sem diretivas capazes de sair do trivial e mostrar números alvissareiros.
A economia que é base do desenvolvimento de qualquer cidade está sofrendo com a crise do ciclo do petróleo. Essa crise já estava anunciada a mais de 6 anos e infelizmente os gestores municipais não a colocaram na ordem do dia para que cenários fossem apresentados na perspectivas de encontrar soluções antes do problema se instalar de vez. Nenhum plano foi pensado no passado e a atual gestão não tem nenhum em andamento com vistas a dar respostas a esse problema que se agrava dia após dia.
A saúde segue o mesmo drama. Já faz muito tempo que a gestão municipal investe suas fichas nas UPA’s, fazendo das tripas coração para inaugurar as unidades, mesmo que elas não tenham a condição ideal de funcionamento. Nesse sentido o que fala alto é o marketing no entorno de uma inauguração de um equipamento importante.
Porém, o problema maior está na falta de consciência dos gestores em não investir na atenção básica que é onde tudo começa e onde parte dos graves problemas na saúde pública poderiam ser resolvidos.
Investir na Atenção Básica significa levar saúde em grande escala ao povo e, sobretudo, levar a prevenção, desafogando os equipamentos de saúde de média e alta complexidade. Hoje em Mossoró a rede básica de saúde está extremamente sucateada e a atual gestão faz de conta que o que vale são as três UPA’s funcionando, mesmo que de forma precária, para resolver o problema da saúde pública do município.
Infelizmente Mossoró elegeu nos últimos anos gestores medíocres que preferem usar a cidade para seus propósitos pessoas em detrimento de tentar fazer dessa cidade, que tem inúmeras vocações, um exemplo real de prosperidade econômica e administrativa. Por não estarem planejando a cidade que queremos, seremos obrigados a amargar os problemas sociais e econômicos que pequenos municípios estão submetidos pelo Brasil.
Um pacto pelo município deveria ser proposto pela atual gestão, buscando unir os setores produtivos da economia, a academia, os poderes institucionais e a sociedade civil organizada no tocante a encontrar um novo caminho para colocar essa cidade no trilho do desenvolvimento novamente. Para isso é necessário o atual gestor exercitar sua humildade e reconhecer que nem tudo são flores como a propaganda municipal alardeia pelos mais diversos veículos de comunicação.
Tenho a convicção que todos os atores citados acima estarão dispostos, de alguma forma, para sentarem e buscar resposta a pergunta do início desse texto, ou seja, “qual a Mossoró que nós queremos?”.
Gutemberg Dias é empresário, mestre em Recursos Naturais e geógrafo
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