Por Thaís Cunha (Site Calciopédia)
Parece documentário do History Channel. Os marinheiros de Veneza, em tempos de peste bubônica, inventaram a quarentena: chamavam-na Lazareto. O ano era 1347. Para evitar espalhar doenças pelo país, todo mundo que chegava pelo Mediterrâneo era submetido a um isolamento de 40 dias. A inspiração era o tempo de quaresma.
Segundo um breve Google, isso tinha de ocorrer porque “ainda não tinham inventado o antibiótico”. O engraçado é que essa explicação vem, no site da Galileu, como “A bizarra história de 4 ilhas de quarentena“.
A matéria curiosa já está no ar há uma eternidade, desde 2015. Naquele tempo, ninguém conseguiria sequer supor que a Itália inteira seria submetida a uma quarentena. Esta aqui é a minha bizarra história de já estar há 22 dias em casa. E de ter me dado conta, há uns 10 minutos, de que só cheguei à metade do percurso. Eu poderia me sentir um marinheiro de Veneza, me submetendo a um sacrifício em uma ilha deserta, mas a história é meio diferente quando o ano é 2020.
Um dia antes de os jornais falarem que o Covid-19 tinha saído de controle em uma cidade vizinha à minha, eu bebia vinho e comia pizza com umas 50 pessoas depois de ter pego dois metrôs. O clima era de apreensão com a notícia do primeiro contágio perto de Milão. Fez-se fila para lavar as mãos no restaurante.
Com o vinho na cabeça, ensinei uns 20 italianos a dançarem até o chão ao ritmo de Kevinho – Olha a explosão.mp3. Gastei meu italiano, voltei pra casa feliz. Quando a gente já trabalha de casa, ter contato com seres humanos parece sempre uma ocasião especial.
Isolamento
E, então, aconteceu. Eu iria com o meu marido a uma cidade próxima acompanhar Lecco x Pro Patria por uns euros. Aproveitaria para passear. O frio finalmente dava uma trégua. O brasileiro sente uma saudade louca de sol, até os mais vampirões. As cidades da Lombardia foram se fechando aos poucos. Cancelamos o freela, a viagem e, do início da quaresma para frente, a cultura do cancelamento foi longe demais na Itália. Começou pelas aulas, chegou à semana de moda, ao futebol, às missas, à Lombardia e, depois, a todo o país. Já se passaram 528 horas.
Dessas 528 horas, eu chutaria que passei metade na internet. Duvido que quem passasse 40 dias isolado por peste bubônica sequer soubesse o que significa a palavra “bubônica”. Eu gastei um tempo na internet pesquisando.
Vem da palavra grega βουβών, que quer dizer “virilha”. Diferentemente da vanguarda da quarentena, eu acredito que meu tempo vai passar mais rápido se eu souber de mais coisas. E que, quanto mais eu souber, menos ansiosa eu vou me sentir. Não é difícil adivinhar como essa história evoluiu.
A quarentena dos anos 2020 vem com uma mistura muito diferente de sensações. Nós, os millennials que trabalhamos além da conta, pensamos “meu sonho um isolamentozinho: vou ler uns livros que queria ler há muito tempo, meditar, fazer ioga, ouvir os podcasts atrasados, escrever o primeiro capítulo do meu livro, assar um bolo, fazer aromaterapia, escalda-pés, ver os filmes do Oscar”.
Barulho sem fim de ambulâncias
Mas o meu isolamento não é tão isolado se eu continuo trabalhando home office normalmente, peguei freelas, ganhei mais de mil seguidores no Twitter falando de coronavírus, o WhatsApp não para, filmo a cantoria da janela e coloco no Instagram, passo muito tempo por dia tranquilizando a família. Desligar de tudo isso dá mais medo que pegar coronavírus.
Quando eu arrisco tirar tudo isso para tentar viver o isolamento dos sonhos, o que sobra é uma versão um pouco mais modernete da quarentena de 1347.
A rua é silenciosa, exceto pelo barulho sem fim das ambulâncias, preciso preencher um documento se quiser ir ao mercado repor o estoque de vinho, o cenário é exatamente o mesmo todos os dias, eu cozinho todas as refeições, dou faxina, olho as bandeiras pela janela. Ainda faltam 19 dias. 456 horas. Me segue lá no Twitter, vamos conversar.
P.S – Blog Carlos Santos – A autora da matéria informa em seu twitter, que só neste domingo (15), “a Lombardia registrou 252 mortos com #coronavirus na região. É como se um avião caísse por dia. Ainda assim, as medidas de isolamento parecem funcionar”.
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A Thaís escreveu com maestria, apenas lembro que as condições climáticas na Itália é muito adversa as do Brasil, principalmente aqui no Nordeste, graças a Deus pelo que tomo conhecimento os cientistas pesquisadores afirma “coronavirus é mais suscetível em regiões frias”, chego até pensar, no nordeste brasileiro seremos imunes.
Claro que somos conscientes do perigo, mais acho que Dengue, Chicunguinha, Aids, fome, falta de medicamentos, esgoto a céu aberto, cocaína e outras drogas com falta de segurança, já matou bem mais é o alarde das autoridades e da mídia foi bem menos.
Fechar escolas, universidades e outras repartições até aonde não se registrou nenhum caso, isto acho exagero.
A UERN parar ? Acho atitude mais politiqueira do que preventiva. Vejamos que o pessoal da educação do estado já se encontrava em greve.