quarta-feira - 11/07/2007 - 11:23h

Uma mão molha a outra

Se efetivamente as investigações do Ministério Público provarem que houve compra de vereadores em Natal, à aprovação do projeto do Plano Diretor sem vetos (veja matérias mais abaixo), meio-mundo deve vir abaixo.

Nós teremos algo incomum em termos de Brasil, num enredo que na verdade não deveria causar surpresa, no país campeão em roubalheira na atividade pública.

Será que finalmente corruptores e corruptos serão trazidos à luz, depois de se movimentarem na mesma engrenagem?  Isso, claro, sem nenhum juízo de valor antes da conclusão do que está sendo apurado, com amplo direito à defesa.

É significativo sublinhar, que é muito comum em nossa cultura política se falar em corrupção e corrupto, abstraindo-se a figura do corruptor.

Para o pleno funcionamento desse mecanismo é condição precípua a existência em perfeita simetria e simbiose, de pelo menos dois personagens: corruptor e corrupto, além da prova material do escambo ilícito.

Fazemos coro contra a classe política brasileira, universalizando o julgamento quanto a seus componentes, como se fora dessa bolha vivêssemos numa atmosfera diáfana, límpida e sob comportamento irrepreensível. A política espelha o que somos no cotidiano.

Na visão maniqueísta em formato de senso comum, o político é corrupto e todos nós somos arcanjos. No fundo, não nos cabe sequer o epíteto de apóstolo dos gentios. Será que somos menos corruptores do que um empreiteiro, quando passamos uns trocados ao policial de trânsito, evitando uma multa?

Chega de hipocrisia e cinismo!

Tanto farisaísmo cria uma cortina de fumaça em nosso meio social. Produz e reproduz a esperteza como esporte nacional; praga como os gafanhotos egipcios. Os políticos levam o troféu de campeões, mas aqui embaixo continuamos sendo um microcosmos da bandalheira gerada por eles em escala industrial.

Se há corrupto, tem que existir o corruptor. A quebra dessa relação perniciosa, com a ruptura de nossa civilização com o monstro da impunidade, é que nos transportará para um estágio de superioridade.

Sem a coragem para desatar esse nó górdio do cotidiano, continuaremos alimentando insaciáveis predadores. Ao final, não adiantará muito se queixar ou resmungar. 

Enquanto uma mão molhar outra, o Brasil será apenas uma piada como Estado e nós, como povo, um simulacro de sociedade.

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. tete bezerra diz:

    carlos as ligações telefonicas trazidas a tona não deixam mais dúvidas quanto ao crime de peculato praticado pelos vereadores citados.espero que não fique impune,a sociedade não aquenta mais a impunidade.

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