Começou em Janduis, onde nasci. Pois, naquelas bandas, dizia o folclorista, terras de índios valentes e que por lá se purificavam dos espíritos maus, quando perdiam uma batalha contras os brancos invasores, começa a nossa história, meio trágica, mas heróica e verdadeira.
Ainda havia fumaça nos escombros do regime militar, quando o nosso povo, de Janduis, pequeno, mas corajoso e sabido, resolveu me eleger prefeito. Médico, recém formado em Moscou, Zé Agripino, governador-filhote da ditadura, me chamava de comunista do pé-roxo. Nunca entendi. Se fosse outra coisa…
Por que o pé?
Pois, bem! Em seis anos, as coisas melhoraram! Vida nova. Mais respeito, paz, cidadania, bons tempos! Depois de mim, a gente de Janduis escolheu o primeiro prefeito petista do Rio Grande do Norte: Zé Bezerra. Um ano depois, lá estava eu, candidato da Esquerda (PT, PCdoB, PSB), ao Governo do Estado.
Meus opositores: Lavoisier Maia, Zé Agripino e Ana Catarina. Campanha gloriosa para nós! Com a coragem e a cara, com os nossos militantes e simpatizantes, fomos à procura do eleitor e da eleitora… No campo e na cidade, deixamos o nosso recado. Nas grandes e médias cidades, em muitas urnas, derrotamos Zé e Lavô.
Foram 104 mil votos. Não ganhamos o pleito, mas Agripino baixou a crista.Dizia que era "governador em férias".
Pela primeira vez, em terras potiguares, um candidato a governador, pela Esquerda, ultrapassou a barreira dos 10% dos votos. Elegemos, então, o primeiro deputado estadual, pelo Partido dos Trabalhadores: o companheiro Júnior Souto. Era o começo de uma nova história ou o avanço das nossas lutas… Foi aí, também, que dona Wilma, então prefeita de Natal, começou a se intrometer na caminhada da Esquerda potiguar.
No finalzinho da campanha pra governador, ela mandou o professor Reinaldo Barros, do PSB, falar com o petista Crispiniano Neto, hoje na FJA, oferecendo ajuda para melhorar os meus programas de TV e Rádio, e montar grandes estruturas para a etapa derradeira da campanha petista nas grandes cidades. Tudo para Agripino não ganhar no primeiro turno e nos comprometer para o segundo turno, apoiando Lavô.
Recusei de pronto. Nem sequer levei a proposta indecente à Direção do PT, meu Partido.
Frustrado em tal intento, o comando wilmista tentou, depois, me desmoralizar, juntamente com os partidos de Esquerda. Dois anos depois, as pesquisas de intenção de voto para prefeito de Natal começaram muito cedo. Era Henrique, Ana Catarina, João Faustino, Iberê… Pré-candidatos em cogitação ou especulação. Eu morava em Caicó. Meu domicílio, em Janduis…
De pesquisa em pesquisa meu nome começou a aparecer. Em abril, no levantamento feito pelo Diário/Poti, eu já estava na dianteira de Henrique, até então, o campeão… É aí que, mais uma vez, o fantasma Wilma cai sobre nós, os da Esquerda.
Alguém soprou nos seus ouvidos que, em Natal, só ganharia eleição quem fosse esquerdista. E ali estava eu, um esquerdista pra ganhar não só de Henrique e Ana, mas pra brecar as pretensões dela de se arvorar dona de uma legenda de esquerda e armar a farsa até agora não desmontada.
Valendo-se da inexperiência do PT, de então, da minha ausência em Natal, fez uma declaração, nos jornais, dizendo que podia apoiar o meu nome pra prefeito. Queria, apenas, afrontar a Direção petista! Ao mesmo tempo, mandava o seu chefe de gabinete, Dr. Maurilton Morais, do PDT, dizer ao então vereador Wober Júnior, do PMDB, que eu, que nem Wilma conhecia, estava me articulando com ela, à revelia da Direção do PT.
Wober passava tudo pra Mineiro, que queria ver o cão e não, Wilma. Mineiro, dirigente do PT, colega vereador de Wober, engoliu a corda, caiu na arapuca, e perdemos uma oportunidade histórica de mudar Natal e o RN para melhor!
Wilma conseguiu dividir a Esquerda, naquele episódio trágico, e derrotar o seu projeto de governar Natal. Cooptou o PSB (tomando conta dele, depois!) e o PCdoB. Isolou o PT, deixando-o fragilizado naquelas eleições municipais. Articulou a candidatura de Aldo Tinoco, seu auxiliar, sabendo ser ele de fraca personalidade e "despolitizado", já tramando a sua posterior liquidação.
Que bestas e inocentes fomos nós! A trajetória de Wilma Maria de Faria, na política do Rio Grande do Norte, é de vitórias sobre os escombros das forças de Esquerda. Maias e Alves não tiveram suas estruturas abaladas pelo furacão Wilma. Nós, da Esquerda, sim!
Pena que, ainda, nós, petistas, comunistas, socialistas, etc., continuemos a depositar nossas cinzas no altar das imolações da deusa gananciosa, ambiciosa e insaciável…
Salomão Gurgel, médico e prefeito de Janduís – //sg.pinheiro.zip.net
Como diz o escrivinhador Caninde Queiroz, o “homi”, alissou o espinhaço da Governadora Vilma, com um porrete de jucá.
São Bento dos Bofetes!