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domingo - 27/03/2022 - 06:46h

Vô Vivaldo

Por Odemirton Filho 

Lembro do meu avô Vivaldo Dantas de Farias com enorme carinho. Era de família humilde, lá das bandas do estado da Paraíba. Começou ainda menino na lida. Como agricultor, dizia tio João, ele gostava de trabalhar de sol a sol.

À esquerda da foto, os filhos Adiel, Albenice e Ana Maria. À direita, Alba (mãe do cronista), Adna e Adnélia. O mais alto da foto é o filho mais velho, Alcides.  No colo da mãe Placinda, Alcivan; no colo do pai Vivaldo, Arnon (Álbum de família)

À esquerda da foto, os filhos Adiel, Albenice e Ana Maria. À direita, Alba (mãe do cronista), Adna e Adnélia. O mais alto da foto é o filho mais velho, Alcides. No colo da mãe Placinda, Alcivan; no colo do pai Vivaldo, Arnon (Álbum de família)

Após constituir família, pelos idos de 1950, veio morar em Mossoró em busca de dias melhores. Depois de ser empregado, abriu a sua própria fábrica de redes. Eu me lembro dos tecelões a trabalhar; ficavam como se estivessem “pedalando”.

Ele costumava viajar numa camionete lotada de redes para vender nas feiras das cidades do interior. Quando voltava para casa trazia “mantas” de carne, sacos de arroz, feijão, farinha e mantimentos para alimentar a sua ruma de filhos. Vó Placinda teve mais de vinte partos.

Da minha infância, entre outras coisas, lembro-me de alguns tios e primos sentados na calçada, após jogarmos bola. Ficávamos com a boca roxa de tanto comer as castanholas da árvore em frente à sua casa.

Na hora do jantar comíamos o arroz de leite com carne de sol preparados por minha vó. Na garagem da casa, ficava estacionada a sua belina azul.

Vem à memória a construção da sua casa em Tibau, “a casa do morro”, como chamamos carinhosamente. Uma casa enorme, com vários quartos, para acomodar filhos e netos. Vô Vivaldo gostava de nadar naquele “açude de águas salgadas”.

Ele foi preso pela ditadura militar. Ficou quarenta e cinco dias nos porões, sei lá onde, sendo torturado. Foram dias de agonia para os seus familiares e amigos. Mas, graças a Deus, retornou ao seio de sua família.

No final de sua vida eu estava próximo ao seu leito, ele me chamou e pediu para ver a sua netinha mais nova. Quando a trouxe, acariciou as suas pequenas mãos, com os olhos cheios d´água. Os meus também ficaram marejados. Guardo, com amor, esses últimos momentos.

Hoje, 27 de março, faz trinta e três anos do falecimento de vô Vivaldo. Quando eu passo na rua 06 de Janeiro, lembro-me dos meus tempos de menino e de adolescente. A velha casa está em silêncio.

Já não vejo os meus tios mais jovens curtindo, no quarto da frente, um disco de vinil dos Beatles; nem os meus primos brincando.

E ainda arrancaram o pé de castanhola. Com ele, um pedaço da minha infância.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    As fotos falam.
    Esta foto amarelada pelo tempo e guardada com tanto carinho diz bem do ambiente feliz dos que tiveram a felicidade de nascer nessa família.
    Parabéns pela crônica.

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