Tratássemos do “voto” pelo ótica das Ciências Econômicas, poderíamos afirmar com segurança que é o caso típico de um “ativo” frágil. Seria uma “moeda” flutuante, sujeita às volatilidades de riscos, conforme o momento ou externalidades referentes às eleições e à dinâmica da própria política.
Como investimento que pode se dissipar rapidamente, em questão de poucos anos ou mesmo dias, ninguém pode afirmar com segurança que é “dono” desse capital. Albergar-se nele com nariz empinado, tratando-o por “meu”, é como dormir com o inimigo.
Os casos de falta de liquidez desse ativo tem-se tornado comum na política brasileira. Muitos se capitalizam numa eleição e às vezes não chegam à próxima em condições de bancar novo investimento.
Talvez o caso mais emblemático e próximo que temos a narrar seja do ex-vereador, prefeito interino e depois prefeito eleito em disputa suplementar Francisco José Júnior (PSD). Em pouco mais de dois anos, ele viu seu ativo de 68.915 (53,31%) votos simplesmente desaparecer.
Eleito à Prefeitura de Mossoró no dia 4 de maio de 2014, quase dois anos e 5 meses depois chegou às eleições deste ano sem sequer sustentar candidatura à reeleição.
Eleições de 2014 (Pleito Suplementar):
– Francisco José Júnior (PSD) – 68.915 (53,31%);
– Larissa Rosado (PSB) – 37.053 (27,55%);
– Raimundo Nonato Sobrinho, “Cinquentinha” (Psol) – 3.825 (4,90%);
– Josué Moreira (PSDC) – 3.025 (3,88%);
– Gutemberg Dias (PCdoB) – 2.265 (2,90%);
– Brancos – 4.428 (3,29%);
– Nulos – 15.000 (11,15%)
– Abstenção – 30.429 (18,45%);
– Maioria pró-Francisco José Júnior de 31.862 (25,76%).
Espécie de “ativo flutuante”, o voto maciço que “Francisco” (como passou a ser denominado na campanha eleitoral deste ano) empalmou em 2014, paulatinamente foi sendo perdido. A evaporação vinha sendo constatada há tempos por pessoas com o mínimo de bom senso, distanciamento crítico e conhecimento dos primados da política eleitoral de Mossoró.
Cego diante do espelho do seu ego, cercado por espertalhões que lhe incensavam e conselheiros estúpidos, Francisco empobreceu a ponto de não ficar com um níquel de votos. Nunca antes na história de Mossoró e em raras ocasiões na política.
Similar, próximo, temos em Natal com a ex-prefeita Micarla de Sousa (eleita pelo PV) que em 2008 foi consagrada nas urnas e em 2012 ganhou título de governante mais rejeitada do país, com mais de 90% de reprovação. Foi catapultada do cargo antes do fim do mandato e hoje vive às voltas com a Justiça.
Milionário e sem votos
Francisco José Júnior é o “investidor” que não estava atento ao “mercado”. Empavonou-se. Ignorou sinais claros de tempestades e insistiu em aplicações erradas, comprometendo o bem primário adquirido em maio de 2014.
Contabilista por formação, tornou-se milionário na vida privada (veja AQUI) em pouco mais de dois anos na Prefeitura, mas na política se revelou um desastre, com déficit superlativo de votos.
O Blog tratou desse assunto com visão premonitória, o alertando através de matéria especial publicada no dia 6 de maio de 2014. Porém o prefeito recém-eleito preferiu se considerar um líder ungido pela maioria dos eleitores. Para ele, os votos eram apenas seus. Ledo engano. Era um crédito pré-fixado, não um salvo-conduto para tantas aberrações administrativas e políticas.
“Novo prefeito ganha para dividir história ou confirmar os Rosado” (veja AQUI), assinalamos na matéria que explicava o significado da vitória de Francisco José Júnior, até então um humilde prefeito, que ouvia a todos, valorizava o servidor e prometia atender aos anseios populares.
Novo prefeito ganha para divir história ou confirma os Rosado – 06/05/2014 – 11:51h
A votação de Silveira (Francisco José Júnior) tem DNA multifacetado, onde se incluem – ainda – até consideráveis votos de seguidores de Rosalba Ciarlini e Cláudia Regina (DEM), que enxergaram no palanque de Larissa Eosado (PSB) “um mal maior”. Ambas declararam “neutralidade” no pleito. A maioria dos seus eleitores captaram a mensagem subliminar.
Em tese, a vitória de um não-Rosado causaria menor estrago a ambas do que a entronização do ramo familiar comandado por Sandra Rosado, legítima herdeira do “doutor Vingt”, Vingt Rosado, seu pai.
Ao mesmo tempo, a vitória espelha sentimento de mudança, mas não de seis para meia dúzia, de uma oligarquia multidecenal para outra emergente – o “Silveirismo” (!!).
Entender o significado de uma vitória ou mesmo saber fazer leitura de uma derrota, é como funciona a cabeça de um investidor competente. Seus ativos podem se volatizar num piscar de olhos ou se robustecer. Preservar o básico para sobreviver e tentar novos saltos, também faz parte do jogo.
Nas eleições de 2016, Silveira acabou sendo o principal cabo-eleitoral de quem ele pretendia banir da política: a ex-governadora e ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PP).
Sua gestão caótica, serviu para que a candidata produzisse um marketing de comparação e escondesse a passagem sofrível pelo Governo do Estado. De lá, a propósito, sequer conseguiu meios à tentativa de reeleição por estar soterrada com mais de 80% de rejeição.
O prefeito teve que desistir da própria candidatura (veja AQUI) à reeleição por falta de ativo elementar: voto.
Eleições 2016
– Rosalba Ciarlini (PP) – 67.476 (51,12%)
– Tião Couto (PSDB) – 51.990 (39,39%)
– Gutemberg Dias (PCdoB) – 11.152 (8,45%)
– Josué Moreira (PSDC) – 1.370 (1,04%)
– Francisco José Júnior (PSD) – 602 (Votos inválidos)
– Branco – 2.974 (2,06%)
– Nulo – 9.416 (6,54%)
– Válidos – 131.988 (91,40%)
– Eleitores Aptos – 167.120
– Abstenção – 22.683 (13,59%)
– Maioria pró-Rosalba Ciarlini de 15.486 (11,73%).
Rosalba capitalizou-se com votação – 67.476 (51,12%) votos – consagradora, mesmo que paralelamente visse nascer um nome que surpreendeu com 51.990 (39,39%) votos na estreia nas urnas, o empresário Tião Couto (PSDB).
Os dois, vencedora e vencido, têm um bom exemplo a não seguir: Francisco José Júnior, Francisco, Silveira ou seja lá que nome venha a adotar adiante – se conseguir sobreviver à própria tsunami que provocou em sua vida política.
O farto capital de hoje pode se esgarçar adiante. Não ficará disperso. Tende a mudar de mão e de mãos. O que foi de Francisco José Júnior já não lhe pertence mais. Na verdade, era um ativo que exigia muito zelo em seu investimento.
O voto não some. Como todo ativo de alto risco, exige muita habilidade para não mudar de mão.
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