Embora a cirurgia dos transplantes tenha iniciado em 1954, com um transplante renal, realizado em Boston, pelo médico Joseph Murray, foi somente em 1967, quando o médico Christian Barnard realizou, na África do Sul, o primeiro transplante de coração, com sucesso – o paciente conseguiu viver somente 18 dias -, que essa cirurgia passou a ser uma rotina no mundo.
Desde então, os transplantes têm promovido as mais acaloradas discussões, que vão dos mais simples aspectos técnicos até as mais complexas opiniões sobre ética e moral: devemos obedecer à fila de entrada ou estabelecer o critério da gravidade do caso, para saber quem irá receber o órgão doado? Todos que tiverem comprovado a ausência definitiva de atividade cerebral (morte encefálica) devem ser doadores em potencial ou só com o consentimento da família?
É lícito num país com tão parcos recursos para a saúde, destinar grandes somas de dinheiro para salvar uma vida em detrimento de muitas outras? (Considero esta uma das mais sérias questões éticas sobre esse tema e confesso que ainda não tenho opinião formada sobre isso).
O fato é que independente do órgão a ser transplantado – rim, coração, fígado, pulmão, pâncreas, intestino delgado e até a face -, não dá para fazer esta cirurgia (aliás, não dá para fazer nenhuma cirurgia) sem essa palavra chamada ética que, para muitos, significa que devemos fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos (lei de ouro).
No entanto, o filósofo Kant observou que, para ser ético, não bastaria apenas seguir essa lei de ouro, pois no caso dos masoquistas, isso representaria um perigo. Assim, Kant acrescentou ao seu imperativo categórico um critério: “Age de acordo com aquela máxima que podes a todo tempo querer, torna-se uma lei universal”. Esse critério é chamado de princípio do respeito.
Portanto, não existe ética e ética. A ética é única. Ou se tem ou não se tem. Não existe mais ou menos ético. E ser ético é antes de tudo saber que a minha liberdade termina onde começa a do outro. E ser ético é não mentir, pois a mentira não pode tornar-se uma lei universal.
Fiz todo esse preâmbulo acima para dizer que, desde que o PT realizou o seu transplante de face – ficando com a sua cara cirurgicamente modificada para pior, como diz o jornalista Miranda Sá –, logo no início do primeiro mandato do governo Lula, que essa palavra ética deveria ter sido apagada de qualquer livro e memória dos Petistas.
Se vivêssemos num país sério, com certeza o órgão de defesa do consumidor (o Procon), já teria multado o PT, por propaganda enganosa. Sim! Pois ninguém mais neste país se vestiu sobre as veste da moralidade e da ética do que o PT, vendendo esta imagem durante anos e anos, enganando milhares de pessoas e, quando o espetáculo de fato começou, a peça tratava-se de uma farsa: um plano diabólico de conquistar o poder e nele se perpetuar.
É claro que o que o PT de Lula fez – aparelhando as estatais para dela, retirar o dinheiro e assim comprar, através do “mensalão”, a “consciência” de deputados e senadores –, não difere das práticas políticas sempre vistas neste país, onde “os governantes planejam políticas públicas pobres para os pobres e ricas para os ricos e poderosos”. Vejam o exemplo do primeiro emprego: não passou de uma mentira. Agora o bolsa família – a esmola de Lula para os pobres – vem a todo vapor. Esse é o caminho mais fácil para tornar o pobre mais pobre e submisso, e o excluído mais excluído e humilhado. Isto é voto certo na urna. Re-eleição garantida.
Portanto, que o PT aético não se esqueça (essa amnésia estratégica do PT – “não sei de nada”- será que tem a ver com transplante de cérebro também?) de que somos tão responsáveis pelo que deixamos de fazer quanto pelo que fazemos… E, não adianta tentar tapar o sol com uma peneira dizendo – e mentindo – que “ninguém é mais ético do que o PT neste país”, pois a ética sabe o que o PT fez com ela… Ah! Como ela sabe…
Francisco Edilson Leito Pinto Júnior, médico, escritor e professor (edilsonpinto@uol.com.br)