Por Marcello Benevolo
Todo fim de ano eu entro em modo reflexivo. Revisito o passado, olho para o presente e arrisco alguns pensamentos sobre o futuro.
Nessa última viagem pela minha memória, parei no ano de 2002.
Naquele ano, eu estava mergulhado na cobertura jornalística do “caso Pedrinho” – o bebê roubado de uma maternidade de Brasília 16 anos antes e que teria inspirado a novela global “Senhora do Destino”, estrelada por Renata Sorrah.
Uma grande equipe do Correio Braziliense, onde trabalhava à época, seguiu para Goiás. Parte dos repórteres ficou em Goiânia. Eu, ao lado do genial fotógrafo Carlos Moura (in memorian), peguei a estrada rumo a Itaguari, uma pacata cidade de aproximadamente 5 mil habitantes, a cerca de duas horas da capital. Era ali que o adolescente costumava passar as férias escolares na casa do “avô” paterno.
Com o “vô Tonho”, fomos reconstruindo a infância desconhecida do então Osvaldo Martins Júnior, nome de batismo dado por Wilma, a sequestradora. Os amigos de infância ainda estavam atônitos com a revelação da história. A reportagem exclusiva do colega Renato Alves, publicada dias antes no Correio, tinha transformado o caso no principal assunto da pequena cidade.
Foi em Itaguari que, por meio de uma paquera de Pedrinho, conseguimos a primeira – e exclusiva – imagem do garoto. A essa altura, ele estava escondido em Goiânia pela mãe adotiva e sequestradora, fugindo da imprensa depois da descoberta do caso e da enorme repercussão nacional da história. Nem para a escola estava indo naqueles dias.
Vale lembrar: não existia iPhone naquela época. E em Itaguari não havia sequer uma lan house. Moura então fez a foto da foto (mas já se usava câmera digital!) e nós voltamos literalmente ‘voando’ para um hotel em Goiânia, de onde transmitimos a imagem para a redação do jornal, em Brasília.
A foto finalmente impressa foi levada para os pais biológicos de Pedrinho, Jayro e Lia, na casa onde moravam no Lago Norte. Eles não tiveram dúvidas de que aquele adolescente de 16 anos era o filho roubado da maternidade do Hospital Regional da Asa Sul, em 1986. “Até a orelha tem os traços do pai”, teria dito um deles.
No domingo, 10/11/2002, a imagem exclusiva do menino estampou a capa do Correio Braziliense com a manchete: “Este é Pedrinho”, encerrando 16 anos de suspense. O resto virou história: dias, semanas, meses de intensa cobertura jornalística. Tempos depois, Wilma acabou presa e Pedrinho foi morar em Brasília com os pais biológicos.
Minha editora, a habilidosa Ana Dubeux, sempre dizia que um dia ainda “encontraria” Pedrinho. Seria a história da vida dela! E encontrou! Fica aqui o registro: parabéns pela cobertura épica do Correio Braziliense – e obrigado por ter me incluído nela.
Hoje, Pedrinho é advogado, casado, pai de dois filhos. Mora em Brasília com a família e recentemente voltou ao noticiário ao integrar a equipe de defesa do jogador Robinho.
A história completa está contada no livro do jornalista mineiro de Sete Lagoas, com quem tive o privilégio de trabalhar, Renato Alves, sob o título “O Caso Pedrinho” (Editora Geração), disponível em livrarias e marketplaces.
Marcello Benevolo é jornalista e advogado












































