Por Odemirton Filho
Segundo o cientista político e escritor Felipe Nunes, no livro Brasil no Espelho, “o hábito do almoço aos domingos – seja na casa da mãe, da sogra ou de outro familiar – é uma instituição nacional, um rito quase sagrado, que há décadas influencia desde piadas até a programação da televisão, os horários do futebol e o comportamento de consumo”.
Certamente, alguns leitores devem lembrar dos almoços em família, nos quais se reuniam uma ruma de gente. Eram os avós, pais, filhos e netos que conversavam sem parar. Às vezes, parecia que estavam brigando, de tão alto que falavam. Já as crianças faziam uma zoada danada, brincavam e corriam pra lá e pra cá. Talvez, em alguns momentos, palavras, sorrisos e lágrimas se misturassem. Era desse jeitinho, nera não, caro leitor?
Puxando os fios de minha memória, lembro-me que em tempos idos não havia uma grande quantidade de restaurantes na cidade. Era costume almoçar em casa, também aos domingos. Com os meus pais e minhas irmãs, ficávamos em casa, jogando conversa fora, enquanto a nossa querida Socorro preparava o almoço.
Normalmente, o menu variava entre galinha, carne de sol, arroz de leite, feijão, picadinho e lombo. Como, na maioria das vezes, eu não gostava de almoçar, preferia comer ovo com arroz e um copo com leite. A sobremesa quase sempre era um delicioso doce de goiaba ou de leite.
Estando à mesa, meu pai, que sempre foi de poucas palavras, de quando em vez comentava algum assunto e, ao final da refeição, fazia o sinal da cruz, em agradecimento. Conversávamos coisas do cotidiano, de como estávamos na escola, do meu boletim com notas vermelhas ou das brigas com minha irmã mais nova. Por outro lado, minha mãe sempre gostou de falar sobre a sua juventude; contava muitas histórias, sobretudo, sobre o meu avô.
Claro que como quase todo menino/adolescente eu achava aqueles momentos um “saco”. Ficava doido para que a refeição terminasse logo, para me trancar no meu quarto ou ir à casa de algum amigo. No entanto, não me dava conta que aqueles momentos passariam, e ficariam guardados em minha memória.
O tempo passou. Casei. Vieram os filhos e o neto.
Os almoços aos domingos viraram uma ocasião especial, nos quais eu sinto uma profunda alegria. Entre sorrisos e histórias, ao lado da minha mulher, dos meus filhos, nora e neto, encontro o verdadeiro sentido da vida. Aqui e acolá, como aperitivo tomo duas ou três doses de cachaça, enquanto meu filho toca violão.
Na verdade, não há nada melhor do que estar ao lado de quem amamos e nos sentimos amados. Ver o sorriso do meu neto, ao se lambuzar com a sua comida, arrastando-se pela casa, aprendendo a andar e balbuciando, aquece o meu coração.
Pois é, de uns tempos pra cá percebi que a felicidade também está nesses singelos momentos; entre os quais, os almoços aos domingos.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos












































