Por Aldaci de França
“Desistir é a saída dos fracos, insistir é a vitória dos fortes…”
A cantoria surgiu no Brasil em meados do século XIX, precisamente na Serra do Teixeira, então distrito de Patos, atualmente município de Teixeira no sertão paraibano, onde também se preserva o gênero, o que não deveria ser diferente. Região é berço para os repentistas Agostinho Nunes da Costa e seus dois filhos, Ungolino do Sabugi e Nicandro.
Foram “os primeiros cantadores que se conhece,” conforme assegura Câmara Cascudo, em sua obra “Vaqueiros e Cantadores”. Ao considerarmos o viés da história, podemos conceber Agostinho Nunes da Costa, como o pai da poesia popular nordestina.
A partir daí, essa manifestação artística de cunho popular, teve sua expansão para o Vale do Pajeú e região no estado do Pernambuco, logo chegando aos vizinhos Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Nos demais estados nordestinos, esses eventos culturais têm acontecido com menos frequência, muito embora, o Estado do Piauí tenha presenteado o Nordeste do Brasil com o genial repentista Domingos da Fonseca, patrono da Casa do do Cantador de Fortaleza-CE.
Acrescente-se, que o Piauí tem se destacado com grandes Festivais Repentistas Nordestinos. Ocorrem anualmente em Teresina, fruto de uma idealização do abnegado professor Pedro Ribeiro.
O repente, ponto mais elevado da cantoria, vai ganhando corpo e notoriedade em virtude do empenho de nós poetas e promotores culturais, abnegados pela difusão da arte de cantar improvisando. Buscamos apoio cultural para realizarmos eventos do gênero na maioria das cidades e capitais nordestinas. É justo afirmarmos que o Sudeste do país e a região central do Brasil tem tido a sua parcela de contribuição para com a difusão do repente.
Muitas cantorias acontecem em São Paulo-SP, em diversos bairros da capital e em algumas cidades paulistas, enquanto que no Rio de Janeiro, a Feira de São Cristóvão, reserva espaço para os repentistas locais e de regiões diversas do nosso país
No Distrito Federal, a Casa do Cantador, através dos seus dirigentes, como os repentistas Chico de Assis, João Santana e outros membro da entidade, promovem um valioso movimento cultural em prol de uma maior propagação do repente, uma vez que esses poetas se reúnem e elaboram propostas de cantorias para escolas e outros espaços culturais.
Em Mossoró, em uma parceria como Sinte e a Unimed, coordenei com o professor Josué Damasceno, o projeto Clube Poesia, idealizado pelo professor Crispiniano Neto, realizando Cantorias na cede do dessa entidade sindical do professorado do RN e no Clube Aceu da Universidade do Estado do RN (UERN), na década de 2000. Nesse ciclo aconteceram 23 cantorias, com repentistas locais e de outros estados.
No ano de 2001, acatando uma boa ideia do pastor João Leandro, conseguimos inserir na programação do Mossoró Cidade Junina, o primeiro Festival de Repentistas do Nordeste, evento que em 2023 chegou a sua vigésima primeira edição (e estamos atualizando-o para a continuidade neste 2024 e em anos vindouros).
O nosso projeto, é, indubitavelmente, o que há de mais expressivo e legítimo no contexto da cultura popular e de raiz, até que nos provem o contrário. Porém, precisamos de mais visibilidade para que a nossa ação se torne mais abrangente com um alcance maior em quantidade.
Em Natal-RN, os poderes púbicos municipal e estadual, anualmente realizam eventos voltados para a difusão do repente, na Capitania das Artes e em outros espaços apropriados.
O repentista Antônio Lisboa, junto aos também poetas improvisadores Edmilson Ferreira, Rogério Meneses e Luciano Leonel, mobilizam bem o repente com a sua difusão em Recife-PE e região, exemplo seguido pelos repentistas Zé Cardoso e os Irmão Bessas, no Vale do Jaguaribe-CE, e pelo apologista e poeta Orlando Queiroz, na em Fortaleza. Sem esquecermos Iponax Vila Nova, em Campina Grande e região na Paraíba, com o seu brilhante trabalho pela valorização da poesia popular nordestina.
Há de se considerar que a realização dessas ações culturais, acontecem pela incansável luta de nós aguerridos e abnegados do repente, por levarmos aos poderes públicos, projetos bem elaborados para esse fim. É provável que sem a nossa insistência e persistência, esses tantos projetos culturais não tivessem acontecido com tanta frequência.
Não podemos deixar de ser gratos às instituições que se sensibilizam com a nossa causa cultural.
Seguimos em frente.
Aldaci de França é poeta repentista, escritor e coordenador dos Festivais de Repentistas do Nordeste no Mossoró Cidade Junina (MCJ)
Meus parabéns! Viva a cultura nordestina.